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Relato de caso: Como crenças são formadas

por Marilia Reis em Corpo e Mente
Atualizado em 27/08/2001 10:11:08


Para quem não se lembra ou nunca ouviu falar nisso, a Programação Neurolingüística entende que nós não podemos perceber o mundo e os estímulos que nos rodeiam de uma maneira direta - nós sempre "filtramos" o que registramos de dada situação, percebendo alguns aspectos e omitindo ou distorcendo outros. Os significados que atribuímos às situações também vão variar de pessoa para pessoa. Em suma, não existe uma maneira única ou “certa” de entender ou codificar o que nos rodeia. Existem tantas maneiras quantas são as pessoas.

Já comentei em outro artigo que as crenças são um dos filtros mais importantes nesse processo de seleção (automático). Elas têm este peso porque, sendo na maioria das vezes inconscientes, nós nem nos damos conta que existem e que estão funcionando como um determinador do significado que atribuímos aos eventos. Uma pessoa que tem, por exemplo, a crença de que as pessoas são melhores do que ela não vai conseguir enxergar com clareza aquelas situações onde, sim, atuou de modo mais criativo ou mais inteligente que os outros - e com certeza vai perceber, como se estivesse com lente de aumento - todas as ocasiões onde o outro foi melhor. Isso sem contar o fato de que provavelmente vai supervalorizar a performance do outro e diminuir a sua, num critério de avaliação francamente injusto para si própria.

As crenças surgem e se estruturam geralmente na primeira infância (isso tanto as positivas como as limitantes). A base das nossas crenças se estabelece até cerca dos 7 anos. Acontecimentos posteriores podem ir modificando-as (não conheço nenhum adulto que ainda acredite em Papai Noel), mas algumas delas continuam vivas e presentes dentro de nós com a mesma emoção e significado que adquiriram no momento de sua formação. Com isso quero dizer que é por isso que adultos, mesmo os bem-sucedidos ou com a vida afetiva estável, podem de repente se deparar com situações aparentemente simples com as quais lidam mal, "como se fossem crianças". Exemplos comuns disso são o medo desproporcional de falar em público ou aquele sentimento de ciúme que não tem qualquer fundamento (e o dono da emoção sabe disso).

As crenças podem ser formadas de dois modos: através de uma única experiência, onde a emoção seja muito intensa, ou mais comumente pela soma de experiências onde existe o mesmo significado (identificado por sensação semelhante). O interessante é que, mesmo naquelas situações onde a emoção limitante atual é muito desconfortável, na maioria das vezes a situação que deu origem a ela é simples, com uma sensação desagradável muito fraca. Como a criança tem uma forte identificação com adultos significativos, curiosamente às vezes são eles que tem os sentimentos limitantes, que a criança percebe e introjeta, isto é, passa a sentir como se fossem seus.

A PNL trabalha essas crenças limitantes de várias formas e uma das técnicas mais eficazes faz isto acessando a experiência inicial, onde a emoção surgiu pela primeira vez e onde as convicções se formaram. Em seguida, fazem-se modificações nestes aprendizados.
Descreverei as experiências originais - bastante expressivas - de duas pessoas que trabalharam o medo de ser rejeitado. No primeiro caso, a situação que gerou a sensação foi o momento em que a mãe descobre, aos 3 meses de gestação, que está grávida e se sente surpresa e despreparada, sem tempo de se organizar-se adequadamente para o nascimento do bebê. Para a criança, o fato de não ter sido percebida teve o significado de que ela não era importante o suficiente para ser notada, de que as pessoas não se importavam com ela. O fato de não existir um sentimento de amor por ela (por não haver conhecimento da sua existência) é equivalente a uma rejeição.
Além do medo de rejeição presente na vida adulta, que fazia com que essa pessoa tivesse uma grande sensibilidade para qualquer comportamento alheio que considerasse falta de amor por ela, essa primeira experiência também trouxe outros aprendizados limitantes: que ela teria sempre que fazer algo para ser notada (já que naturalmente não foi) e que a falta de atenção, mesmo que momentânea, significava necessariamente rejeição. Esta pessoa então se afligia profundamente em qualquer reunião social se alguém que estivesse conversando com ela dirigisse a atenção a outros, de maneira um pouco mais entusiasmada ou por um tempo ligeiramente maior.

O outro exemplo de situação inicial ilustra, de modo muito explícito, como a identificação com algum adulto significativo (que na maioria das vezes são pai ou mãe) pode ser a fonte de emoções limitantes. Nesta situação, a criança com dois dias de vida, percebe medo, preocupação e decepção na sua mãe. O que gerou isto foi o fato do bebê ter nascido com o pezinho torto e haver necessidade de que fosse engessado. A própria criança não tinha qualquer dor ou sentimento limitante naquele momento mas, ao captar o medo, deduziu que deveria ter algo errado com ela, embora não soubesse o que. A percepção da decepção materna fez com que ela se sentisse rejeitada, já que para ela, neste contexto, rejeição e decepção eram sentimentos semelhantes. Junto ao sentimento de rejeição, também se estabeleceram outras crenças limitantes, como a de que teria sempre que ser certinha e não decepcionar ninguém para que pudesse ser amada. Essa pessoa, já na vida adulta, tinha muita dificuldade de expressar sua opinião e em certas ocasiões chegava quase a não saber direito qual era seu real ponto de vista sobre determinado assunto, tal era sua preocupação inconsciente de jamais causar decepção em alguém.

Após a conclusão do trabalho, essas duas pessoas puderam, ao reestruturar suas experiências iniciais, ter novos sentimentos e atitudes naquelas situações que antes geravam o medo de rejeição.



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clube Marilia Reis é Psicóloga e trabalha com Programação Neurolinguística. Atende adolescentes e adultos em seu consultório em São Paulo. Conheça o interativo de PNL
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