A configuração das letras
por Ana Cecília Amado Sette em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:03
A nova visão da sociedade e seus desafios, certamente são levados para a avaliação e aprimoramento do comportamento do indivíduo em todos os planos: social, moral, intelectual, físico etc. A escrita se adapta e se transforma com os novos tempos. Como ela é o reflexo da personalidade individual, certamente mostra estas modificações.
O estudo da grafologia clássica foi baseado nas canetas antigas. Durante muitos anos, as penas de ganso foram as principais formas de se escrever, até que no final do século XVIII surgiu a idéia de substituir esse instrumento por um objeto manufaturado. Surgem, então, as penas de metal, que obtiveram relativo sucesso, embora as penas de ave continuassem a ser usadas.
Durante o século XIX, surgiu a idéia da utilização de uma caneta com tinta dentro. A partir daí, vários estudiosos tentaram desenvolver o que chamamos hoje de caneta tinteiro.
As canetas esferográficas, as mais usadas atualmente, surgiram em 1937 por meio do húngaro Ladislao Biro. Ele se baseou em uma caneta que não borrava e cuja tinta não secava no depósito, como fazia a velha caneta-tinteiro. Em 1949, Marcel Bich, depois de trabalhar numa empresa de tintas durante a Segunda Guerra Mundial, comprou uma pequena fábrica de canetas esferográficas. Procurou o seu inventor, Ladislao "Laszlo" Biro, comprou a patente e iniciou a fabricação da caneta Bic, cujo modelo é praticamente o mesmo até hoje.
Daí para frente, a escrita sofreu o impacto da caneta esferográfica.
Entrei no mundo da informática, aos quarenta anos de idade, ou seja, em 1987, vinte e um anos atrás. Até então tudo era manuscrito, trabalhos escolares, receitas, laudos médicos, perfis psicológicos e grafológicos. Mas escrevíamos e como! Desde 1990, as pessoas não escrevem tanto como antigamente, mas, ao fazê-lo, revelam dados importantes de sua personalidade, o que vem a ser o objeto de estudo da grafologia. Em tempos de e-mail, msn, orkut, "celulares que só faltam falar", o homem vai perdendo o saudável hábito de escrever.
A forma, na interpretação grafológica, foi um dos gêneros mais prejudicados, pois aqueles que só escrevem pelo computador podem carecer de habilidade e de entendimento com o papel em branco.
Além disso, existem outros fatores que influenciam na mudança da forma da escrita; relatamos alguns:
. Evolução da metodologia de ensino na escrita.
. Novos tipos de papéis.
. Infinidade de novos materiais, como canetas, lápis etc.
. Desenvolvimento tecnológico.
A criança quando é alfabetizada aprende o modelo caligráfico.
Uma classe infantil aprende a escrever com o mesmo professor, com as mesmas regras, seguindo os modelos estruturados. Entretanto, a criança vai imprimindo sua individualidade e criando suas próprias formas, como reflexo de sua personalidade. A criança, na verdade, transcreve a fala na escrita.
Assim como nós amadurecemos, a grafia também acompanha nossa maturidade cronológica e psíquica. Portanto, é normal que cada criança vá se diferenciando, formando a sua essência que é a construção de sua personalidade e consequentemente seu estilo de escrita.
A forma das letras possui os seguintes subgêneros:
. Caligráfica;
. Personalizada;
. Tipográfica;
. Arredondada;
. Redonda;
. Angulosa;
. Artificial ou Complicada.
Forma caligráfica
Em sentido geral, é a forma onde o autor reproduz sem modificações o modelo que a escola ensinou, pois não foi capaz de criar seu estilo próprio. A professora ensinou e assim ficou .
A grafia caligráfica é própria de pessoa tranquila, disciplinada, submissa, pontual e muito rigorosa consigo mesma. Não tem dificuldade para se adaptar, pois aceita tudo. Segue fielmente as regras, valoriza o tradicional, é prática e ligada ao cotidiano. Geralmente tem pouca proatividade, mas executa suas tarefas com ordem e precisão. Mantém automatismo nos hábitos e na conduta social. Dificuldade para aceitar mudanças em curto prazo, pois prefere o conhecido a se arriscar. Não conseguiu criar personalidade própria. Não consegue trabalhar sob pressão, pois qualquer coisa que saia da rotina pode abalar.
Outras pessoas vão se libertando aos poucos e, como explica Paulo Camargo no seu livro "Grafologia Expressiva" , formam a ESCRITA PERSONALIZADA que é sempre positiva, pois mostra um novo modelo, liberto das amarras escolares, porém, diferenciada.
Forma personalizada: o autor dá seu toque pessoal ao modelo aprendido.
No sentido geral, é típica de pessoa criativa, que possui seus próprios critérios, bom gosto estético, construtivismo, capacidade de se moldar às necessidades do momento. Denota o indivíduo com nível intelectual e pessoal elevados.
Forma tipográfica ou letra de forma
Como avaliar:
Analisar o conjunto, como a pessoa ocupa a página: o nível de forma se é positivo ou negativo, os espaços, as formas e os movimentos; a separação das letras, linhas e palavras.
Verificar a variação do tamanho, velocidade e pressão.
A inclinação pode revelar aspectos importantes.
As arcadas, os ângulos, arpões e as maças.
Os retoques, pingos nos "i" e pontuação.
As ovais, as torções, quebras etc.
Comparar a assinatura com o texto (a assinatura tipográfica é um sinal grafológico negativo).
Em sentido positivo, a tipográfica pode assinalar originalidade, cultura, necessidade de maior clareza, necessidade de distinção, esnobismo, dificuldade grafomotora, cuidado com a aparência. O autor possui o predomínio da lógica, busca conscientemente a clareza de idéias, é normalmente autocontrolado e sabe defender seus pontos de vista. Tem atitudes práticas, boa capacidade crítica e adequado nível de concentração mental. Em sentido emocional é reservado e não gosta que as pessoas invadam a sua privacidade como também sabe respeitá-las.
Em sentido negativo, o autor tenta disfarçar os seus defeitos, pois não quer que a sua personalidade seja desvendada. Deseja chamar a atenção por ser diferente dos demais. A pessoa quer parecer mais culta ou mais importante do que realmente é. Segundo Augusto Vels, é o desejo de fazer "bonito" diante de si mesmo e dos demais o que pode ser incompleto ou defeituoso.
Escrita tipográfica em maiúsculas: todas as letras são maiúsculas
Em sentido geral, o autor passa a impressão de que tudo está perfeito, não existem problemas, está tudo bom. Pode ser uma defesa para esconder suas debilidades; por insegurança, timidez, narcisismo etc. Tendência a ocupar cargos de liderança, pois pela sua vaidade, não obedece com facilidade. Tem habilidade para planejar, organizar, sempre com uma visão global dos fatos. Pode ser ambicioso, não se conforma com pouco, quer sempre mais.
Forma arredondada
É a escrita em que as curvas predominam nos gestos e o ritmo é rápido. O movimento em curva reflete uma atitude de adaptação fácil e espontânea ao meio ambiente.
Em grafias positivas, pode significar generosidade, predomínio do aspecto afetivo sobre o racional, sociabilidade, potencial de abertura intelectual, docilidade, flexibilidade, afabilidade, boa adaptação ao meio ambiente, receptividade, espontaneidade, altruísmo, vagarosidade ou adaptação passiva. Denota um espírito equilibrado, havendo predomínio do sentimento, da imaginação e da intuição sobre a razão. São pessoas indicadas para RH, educação, comunicação, para lidar com o publico, com treinamentos etc.
Se a grafia for grande e em guirlandas, a pessoa se expande em qualquer ambiente, sem nenhuma timidez.
Quando for com escrita negativa, mole, trata-se de uma adaptação passiva, indolência, fraqueza e abandono, pois não há tensão, nem nervos à "flor da pele". Pode ser indício de negligência moral e descuido de hábitos e costumes.
Forma redonda
A forma redonda é quando as letras ovais e as "m" e "n" são traçadas de forma circular, sem nenhum ângulo. Existe um exagero de curvas e tudo é redondo. É uma letra rara de se encontrar em adultos, pois geralmente é lenta, monótona, frouxa, assemelhando-se a letra de uma criança. Não confundir com arredondada!
Em sentido geral, representa que a atividade do autor tem um ritmo pausado, sem entusiasmo nem ambição. Vai cumprir as regras sem contestar, nem criar. Revela adaptação passiva, tônus vital baixo e lento. Indica falta de iniciativa, incapacidade para lutar.
Forma angulosa
A angulosidade numa escrita rápida significa resolução e determinação, e numa escrita lenta e de baixo nível, significa obstinação, aspereza e desconsideração. É formada por movimentos angulosos e triangulares.
Em sentido positivo, pode revelar vivacidade intelectual, rigor, dinamismo, disciplina, perseverança, firmeza de caráter, decisão e forte resistência. Sua adaptação é combativa e gosta de se impor. O autor é individualista, geralmente insatisfeito, com forte necessidade de independência e pouca flexibilidade. Denota firmeza e decisão no modo de pensar e de agir. Sabe mandar, mas não sabe obedecer, pois não aceita a opinião dos outros.
No sentido negativo, intransigência, agressividade, resistência, egoísmo vital e psicológico, defesa das próprias idéias, teimosia, dificuldade de adaptação. Permanece, muitas vezes, impassível perante o sofrimento alheio, irrita-se com facilidade. Pode apresentar sentimentos de inferioridade traduzíveis em aspereza, ciúmes, inveja ou ingratidão. Vive em atrito consigo mesmo.
Forma artificial ou complicada
Chama-se forma artificial ou complicada a escrita que contém traços desnecessários e complicados, que não existem nos modelos caligráficos e que dificultam a leitura.
No sentido geral, refere-se à estranheza, extravagância, desconfiança, astúcia, oportunismo, manipulação, falsidade. Tendência a complicar as coisas, a dar importância a detalhes secundários. Desejo de chamar a atenção, de surpreender e de influir nos hábitos dos outros. Falta de franqueza e de simplicidade, caráter arrogante, exibicionista e narcisista.