Efeitos íntimos da ação do perdão
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:08
Quando instruímos e dizemos aos clientes, na Logoterapia Quântica: perdoe, use o perdão! Muitas pessoas não entendem completamente o que estamos solicitando, nem o que está sendo proposto... Devido a algumas incompreensões naturais, já houve quem me interpelasse: Então, pra tudo, devo dizer Amém!?
Mediante a necessidade de um esclarecimento sobre os efeitos íntimos do perdão (espirituais, psicológicos, emocionais), conforme me foi solicitado, foram escritas estas palavras que espero ajudem a esclarecer o sentido do perdão.
No esforço de esclarecer o processo envolvido, posso dizer que existe uma noção a respeito do perdão - a mais evidente - a de que o perdão é para o outro, para os outros, pois dizemos: eu te perdôo, perdoei você... eu já te perdoei e assim por diante... No entanto, de todos os modos, o perdão apenas aparenta ser dirigido unicamente ao outro, aquele que é o objeto dele. Em verdade, o perdão não é uma ação cujo objetivo principal seja unicamente o outro, ele tem outra feição, a de ser libertador para quem o aplica, para quem o experimenta e usa. Ressalto isto aqui, o fato de necessitar ser experimentado, pois nota-se que, muitas vezes, pessoas dizem ter perdoado e usam estas palavras, mas não sentiram de fato isto, falam da boca pra fora, mas não conhecem ainda o sentido da experiência do perdão, que não é intelectual e sim espiritual e sentimental. Um engano comum e frequente é aquele que faz parecer que a experiência do perdão (assim como o amor e outros sentimentos) é dirigida ao(s) outro(s).
O perdão pode ter este sentido extrovertido, mas é a respeito do seu sentido introvertido (efeitos sobre o próprio Ser) que escrevo estas palavras.
Consideremos alguns aspectos que podem passar despercebidos:
Os vínculos de ressonância que nutrimos e comungamos com os outros são construídos a partir de experiências comuns e também corriqueiras. Agimos baseados em generalidades coletivas que nos foram incutidas desde cedo. Nossas noções de Bem e de Mal são aprendidas e nosso julgamento, frequentemente, está em sintonia e ressonância com aquilo que nos foi ensinado.
Por imitação e em ressonância com a atitude coletiva, entendemos que se alguém nos fere ou feriu, a tendência é a de feri-lo também, devolver na mesma moeda. O objeto externo é o alvo de nossa ação, portanto, somos uma sequência/sucessão de estímulos/respostas quase automáticas - semi-automáticas na melhor das hipóteses... Dito de outra forma, ao receber alguma violência a resposta deve ser violenta, se recebemos miserabilidade temos que nos tornar miseráveis para com o alvo de nossa resposta, temos que revidar, responder à altura! Neste sentido a lei da ressonância nos faz entrar na mesma sintonia e freqüência da energia recebida e então retrucamos. Por isto sempre solicito aos clientes: Concentre sua atenção no processo de energia subjacente a estas experiências com os outros.
Se o outro está em uma energia de ódio, vingança, mágoa, retaliação, ciúme ou inveja, se desejou ferir com sua ação é quase irresistível entrar em ressonância e devolver o que nos deu como energia. Então ao entrar em ressonância com ele, estabelecemos um vínculo cármico com o outro.
Também pode acontecer de vc ficar guardando, por algum tempo, o desejo de atingir o objeto e o alvo desta energia negativa (quase sempre acontece de não ser possível responder ao alvo e vc acaba contaminado pela energia absorvida...). Então, a mágoa, a raiva, o desejo de vingança pode ficar guardado em seu íntimo, até mesmo por um longo tempo. Deste modo, nos tornamos "fiéis depositários" de uma energia que não encontrou o seu objeto, não se dirigiu ao outro (não vou me extender sobre o fato que esta energia pode criar disfunções, doenças e estados de humor negativos). Nestes casos, a resposta passiva e inconsciente foi a de inibir-se, encolher-se e submeter-se (por vários motivos e razões). Muitas pessoas sofrem por estar sempre "engolindo os sapos" dos outros, ficam doentes e se desequilibram.
Então, em ressonância com a mágoa, a raiva o ódio, qualquer pessoa acaba entrando inconscientemente em uma onda de ressonância que se prolifera através dela mesma e, como consciência adormecida, pode não ser capaz de acrescentar nada ao que está posto. Lembrem-se disto: Sem consciência vc prolifera a onda. Vc a passa adiante, a espalha mais ainda e prejudica todos os outros que se apresentarem para serem prejudicados por vc, como se a sua vaidade ferida pudesse se recompor espezinhando ou maltratando, não o objeto direto de sua mágoa ou raiva, mas, qualquer um que se oferecer.
Este é o modo como as ressonâncias negativas se proliferam como epidemias.
Mas existem outras alternativas de resposta de que somos muito capazes:
Uma destas escolhas possíveis é justamente a opção de dar perdão. A principal diferença para uma resposta automática em ressonância com a negatividade do outro é que no perdão, vc está quebrando com o vínculo cármico, quebrando uma ressonância, deixando de se emaranhar com os erros e defeitos dos outros, saindo da confusão emocional que a ressonância automática cria em nós mesmos, como um transe hipnótico ou uma sugestão por parte do outro, a qual imitamos e repetimos. Claro, vc também deixará aos poucos de culpar a todos, todo o tempo, por seus sofrimentos e conflitos. Uma encruzilhada se abre no seu caminhar, quando a consciência desperta de seu transe hipnótico: de um lado existirá o julgar/condenar e, de outro lado, o compreender/perdoar... No mesmo momento as opções de usar sua inteligência e arbítrio também se abrirão...
O perdão é uma quebra do automatismo e é libertador na medida em que nos devolve a liberdade de escolher entre entrar em ressonância ou agir de outro modo, de outra forma, uma que nos faça mais felizes. Na resposta ativa do perdão (e da compreensão) vc pode ou não ficar passivo, no entanto, paradoxalmente, caso escolha de ficar passivo ou quieto - inclusive sem responder - será uma escolha livre, uma escolha entre alternativas de ação ou de inação e o automatismo não estará fazendo parte das suas decisões. Quem não entende isto acaba não se servindo do fato de que muitas vezes, p. ex., o silêncio pode ser a melhor das respostas, desde que seja livre escolha da consciência.
Estou, com isto, dizendo que o perdão é um ato de consciência e não automático, portanto representa escolha e livre arbítrio.Se respondemos ao outro na mesma moeda, entramos em ressonância e este estado é de inconsciência, ou seja, vc não está escolhendo nem decidindo nada, vc não está nem mesmo sendo dono de si mesmo para poder escolher o que quer que seja. Na retaliação e na ressonância automática a consciência não se faz presente.
Escolher não entrar em ressonância com sentimentos e pensamentos negativos é a resposta ativa de quem, de fato, compreende e vive a experiência libertadora do perdão. De onde se conclui que não há real perdão sem consciência, liberdade e escolha, ou seja, sem que ocorra alguma libertação dos pensamentos, valores e sentimentos automáticos, sem que tenha sido conquistada alguma liberdade diante dos preconceitos e dos julgamentos adquiridos.. Esse é o trabalho individual e intransferível. Aí se estabelece a responsabilidade pessoal diante das "coisas do mundo."
Abra sua compreensão e seus sentidos para a natureza das ressonâncias inconscientes com os outros, acorde para si mesmo, escolha seu modo de agir, aprenda a respeito daquilo que SAI de vc mais do que daquilo que ENTRA.
Lembre de perdoar-se sempre que identificar que errou e que poderia dar uma resposta melhor para as situações vividas. Evolua em consciência de si mesmo.
O processo coletivo de inconsciência e de pouca evolução psicológica não depende diretamente de vc mesmo, vc quase nada pode mudar nele. Individualmente vc pode mudar e evoluir. Individualmente pode colaborar e motivar uma mudança coletiva, fazendo a parte que lhe cabe. Muitas consciências individuais unidas e em ressonância podem mudar realidades e o mundo, mas todas dependem de ter nutrido e trilhado o caminho de seu despertar pessoal.