Positividade Tóxica: Gratidão não é dívida
Atualizado dia 8/27/2023 8:25:50 PM em Psicologiapor Raphael Mello
Quantas vezes você já ouviu que tem que ser positivo? Quantas vezes você ouviu a palavra ou agradecimento através da tão banalizada: “gratidão” - independente das circunstâncias que se apresentam?
Primeira coisa que temos que pensar é que ser positivo a todo o momento, mesmo em situações traumatizantes ou de tristeza vai na contramão da vida.
Sabe do que estamos falando? Da famosa “positividade tóxica”.
A positividade tóxica parte de um lugar de invalidação emocional e ela abrange aspectos individuais mas também coletivos ou seja de sociedade.
Ela vem embasada na ideia que ter pensamentos positivos, olhar a vida SOMENTE de forma saudável ou então ter APENAS pensamentos positivos previne más vibrações.
Porém, o que ninguém lhe conta é que essa pratica nos leva a um lugar de eliminar, recalcar e/ou reprimir nossos “outros” sentimentos e pensamentos supostamente “negativos”. E essas emoções supostamente negativas aos olhos do movimento “Good Vibes Only” ou de religiosos, ao serem recalcadas, escondidas, retornam a nós mais potentes. Acabam de alguma forma trazendo um peso em algum momento da vida.
Sentimentos tidos como negativos ou de baixa vibração que são reprimidos durante muito tempo, ou seja a negação, em algum momento vão ressurgir com muito mais força, intensidade, quase como se a mente fosse guardando, guardando, até não conseguir segurar mais e isso resulta em muitas coisas: explosões de raiva, o não saber ligar com as próprias emoções, a não compreensão da dor do outro provenientes do próprio não saber lidar consigo.
Um exemplo muito clássico é a gratidão. O que ouvimos normalmente é que independente da situação que você esteja passando você deve ser grato(a) - pelo menos você tem um namorado, namorada. Um casinha para morar… etc etc etc
Em suma, a repressão de todos os sentimentos negativos acaba sendo um tiro no próprio pé. O mais legal é a gente poder contemplar o Universo de emoções que existem dentro de nós e aprendermos a lidar com elas da melhor forma possível. Cada um dentro da sua subjetividade.
Estar mal em situações difíceis não é errado. Por exemplo, o ser humano não é uma máquina de produtividade, mas a positividade tóxica cobra que assim seja. No fim, isso só contribui para que mais e mais pessoas desenvolvam transtornos emocionais, pois não se sentem capazes de fazer aquilo que a sociedade espera delas.
A positividade tóxica é um problema para a sociedade pois exclui e inviabiliza uma série de expressões emocionais que são completamente naturais, fazendo com que pessoas tenham sentimentos de inadequação que acabam por prejudicar ainda mais a situação. Além disso, contribui para uma série de opressões que já existem em nossa sociedade. Não precisamos e não devemos ser gratos por tudo, principalmente quando determinada situação não nos faz bem.
Gratidão não é uma dívida ou uma fatura a se pagar. Ouço muitas pessoas principalmente pessoas que seguem alguma doutrina espirita/religiosa dizendo que devemos ser gratos pela família em que nascemos, pois escolhemos nascer naquela família e devemos honrar e respeitar esses pais, até por que pode haver um carma de vida passada à se resolver e por conta disso temos que aceitar e agradecer. Percebem o quanto usar de falas como essas podem nos manter em relações tóxicas e que fazem manutenção do nosso sentimento de culpa? Não questiono em momento algum a crença em vidas passadas ou em carma, mas questiono a estrutura da fala em si, como forma de sustentar essa positividade tóxica e nos manter em situações violentas. Você não é obrigado a ficar em espaços violentos ou que não te cabem e muito menos ser grato por isso.
Gratidão não é uma fatura que você tem que pagar ao Universo por estar vivo, muito menos à aquele amigo(a), namorado(a), chefe, família que te ajudou em algum momento de necessidade. A vida pode ficar mais tranquila de se lidar quando entendemos que todas as emoções fazem parte de nós, lidar com elas nos ajuda a integrar aspectos em nossa consciência, principalmente quando entendemos que não temos nenhuma dívida com o Universo.
Que nossas conexões com as pessoas possam ser feitas a partir do desejo e do amor construídos e não de uma fatura ou dívida a pagar.
Como disse brilhantemente a psicanalista Ana Suy: "Gentileza gera gentileza, e não reciprocidade".
A positividade tóxica é um problema para a sociedade pois exclui e inviabiliza uma série de expressões emocionais que são completamente naturais, fazendo com que pessoas tenham sentimentos de inadequação que acabam por prejudicar ainda mais a situação. Além disso, contribui para uma série de opressões que já existem em nossa sociedade. Não precisamos e não devemos ser gratos por tudo, principalmente quando determinada situação não nos faz bem.
Gratidão não é uma dívida ou uma fatura a se pagar. Ouço muitas pessoas principalmente pessoas que seguem alguma doutrina espirita/religiosa dizendo que devemos ser gratos pela família em que nascemos, pois escolhemos nascer naquela família e devemos honrar e respeitar esses pais, até por que pode haver um carma de vida passada à se resolver e por conta disso temos que aceitar e agradecer. Percebem o quanto usar de falas como essas podem nos manter em relações tóxicas e que fazem manutenção do nosso sentimento de culpa? Não questiono em momento algum a crença em vidas passadas ou em carma, mas questiono a estrutura da fala em si, como forma de sustentar essa positividade tóxica e nos manter em situações violentas. Você não é obrigado a ficar em espaços violentos ou que não te cabem e muito menos ser grato por isso.
Gratidão não é uma fatura que você tem que pagar ao Universo por estar vivo, muito menos à aquele amigo(a), namorado(a), chefe, família que te ajudou em algum momento de necessidade. A vida pode ficar mais tranquila de se lidar quando entendemos que todas as emoções fazem parte de nós, lidar com elas nos ajuda a integrar aspectos em nossa consciência, principalmente quando entendemos que não temos nenhuma dívida com o Universo.
Que nossas conexões com as pessoas possam ser feitas a partir do desejo e do amor construídos e não de uma fatura ou dívida a pagar.
Como disse brilhantemente a psicanalista Ana Suy: "Gentileza gera gentileza, e não reciprocidade".
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Conteúdo desenvolvido por: Raphael Mello Olá, sou Raphael Mello, Sócio do Espaço Cântaros, Psicólogo & Psicanalista. Pós Graduado em Psicanálise Clínica e também em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial, além de Colunista de sites para autoconhecimento. Atuo em clínica desde 2015 e trabalho a partir do inconsciente e suas singularidades. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |