As alegrias da entrega
por Maria Guida em AutoajudaAtualizado em 08/04/2020 11:35:23
Nos últimos 29 anos, tempo em que venho me dedicando à espiritualidade, volta e meia alguém questiona a forma como vivo, e mais diretamente, a forma como sigo à risca as orientações que recebo dos mentores. A primeira resposta que me ocorre a esses questionamentos é a de que nem sempre foi assim.
Todos os que me leem, ou que me escutam em aulas e palestras, têm todo o direito de duvidar de que exista uma força, um poder ao qual podemos recorrer a todo instante. Eu, não.
O motivo pelo qual eu não posso duvidar é que, durante toda a minha vida, desde que me lembro que existo, tenho recebido tantas provas, tenho ouvido e visto tanta coisa, recebido tanta ajuda, compartilhado tanto conhecimento, que, sinceramente, é muito difícil, para mim, não acreditar.
E, mesmo tendo ouvido e visto tantas coisas, recebido tanta orientação e cuidados de guias e mentores que me acompanham, tive que lutar contra argumentos internos e externos do tipo: "será que isso tudo não é coisa da sua cabeça?" Coisa da minha cabeça, ou não, o fato é que tudo isso me conduziu ao que me torna feliz e realizada hoje, e a respeito disso não há o que fazer a não ser continuar alegremente meu caminho.
O que garante minha alegria é uma coisa chamada entrega.
Uma entrega que começou às 4 horas da manhã do dia 18 de julho de 1988. O dia em que minha vida foi sacudida por uma grande tragédia. No instante em que recebi a notícia terrível, uma das vozes que eu ouvia desde menina, dentro da minha cabeça, me disse com assustadora clareza: Agora começou. Faça o que nós lhe dissermos e tudo ficará bem.
Aqueles que me conhecem podem testemunhar o quanto tudo acabou ficando bem. De verdade. Mas foi um longo caminho. Entrega não é subserviência a algo que você não conhece. Entrega não é fatalismo. Entrega não é fanatismo. Entrega não é transferir alguma divindade a responsabilidade por seus pensamentos, palavras e ações. Entrega não é fé.
Entrega é estabelecer, com o invisível, um relacionamento de confiança. E confiança é algo de se constrói. Passo a passo. Um dia depois do outro.Entrega exige atenção e cuidado. Exige abertura para receber, intuir, perceber.
Entrega exige recusar-se a buscar refúgio no passado. Exige recusar-se a especular sobre o futuro. Exige coragem para permanecer no aqui-agora por mais desafiador que este se apresente.
E coragem, não é ausência de medo. Coragem é seguir em frente, carregando o medo. Tudo o que posso dizer sobre entrega é o que aprendi desde aquele dia.
Há quem diga que para mim é fácil, já que recebo as orientações e tudo o que tenho que fazer é segui-las.
A questão é que todos os humanos recebem orientações. Constantemente.
Uns, desenvolveram, em vidas anteriores, a capacidade de produzir o silêncio interior necessário para ouvi-las. Outros não. Então, precisarão desenvolver este silêncio, agora mesmo.
Por experiência própria, posso garantir que a dificuldade não está em ouvir as orientações. A dificuldade está em segui-las.
Pois um mentor não nos sugere um caminho ao qual estamos habituados. E muito menos nos aconselha a fazer apenas aquilo que gostamos ou queremos fazer. Guias nos apontam soluções diametralmente opostas à linha de menor esforço, colocam-nos diante da necessidade de encarar o novo e, muitas vezes, apontam um caminho que está um pouco além daquilo que pensamos estarmos prontos para realizar.
Mentores nos empurram na direção do nunca feito, nunca experimentado ou sequer imaginado.
Por outro lado, jamais nos abandonam. Estão sempre ao nosso lado, pousando suas mãos diáfanas sobre nossos ombros, aliviando o peso de nossas indecisões, limpando, com seu sopro refrescante, as nossas mentes, vertendo o reconfortante bálsamo da verdade em nossos corações.