A Sabedoria implícita do conhecimento humano
por Rodolfo Fonseca em AutoconhecimentoAtualizado em 29/05/2024 16:00:53
O Paradoxo de Polanyi é um conceito fundamental em filosofia e ciência cognitiva, que destaca a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito. Formulado pelo filósofo e químico Michael Polanyi, o paradoxo nos lembra que "sabemos mais do que podemos dizer." Essa afirmação simples carrega profundas implicações para a compreensão da natureza do conhecimento humano, especialmente em um mundo onde a inteligência artificial (IA) e a automação estão se tornando cada vez mais prevalentes.
O conhecimento tácito é aquele que é difícil de formalizar ou verbalizar. Ele é intuitivo, baseado na experiência e muitas vezes transmitido através da prática e da imitação. Por exemplo, consideremos o ato de andar de bicicleta. Mesmo que alguém possa descrever as leis básicas da física que regem o equilíbrio e o movimento, a verdadeira habilidade de andar de bicicleta é adquirida através da prática e do ajuste intuitivo ao feedback sensorial.
Outro exemplo clássico é o reconhecimento de rostos. Embora seja fácil para a maioria das pessoas identificar um rosto familiar em uma multidão, descrever precisamente como fazemos isso é extremamente difícil. Esse tipo de conhecimento é armazenado de maneira tácita em nosso cérebro, e sua transferência para outro indivíduo não pode ser realizada apenas através de instruções verbais ou escritas.
Em contraste, o conhecimento explícito pode ser codificado, documentado e comunicado com facilidade. Ele inclui fatos, fórmulas, instruções e procedimentos que podem ser transmitidos de uma pessoa para outra através de linguagem, manuais ou diagramas. Por exemplo, a fórmula de uma equação matemática ou o manual de operação de uma máquina são formas de conhecimento explícito.
O Paradoxo de Polanyi na Era da Inteligência Artificial
O Paradoxo ganha relevância especial na era da inteligência artificial. A IA se baseia amplamente em conhecimento explícito codificado em algoritmos e dados. No entanto, muitas tarefas que os seres humanos realizam com facilidade, como dirigir um carro em uma situação caótica ou entender nuances emocionais em uma conversa, dependem de conhecimento tácito. Isso apresenta um desafio significativo para os desenvolvedores de IA: como codificar habilidades que não podemos descrever plenamente?
Um exemplo claro é a condução autônoma. Enquanto os sistemas de IA podem ser programados com regras explícitas de trânsito e mapas detalhados, a navegação segura em um ambiente dinâmico e imprevisível requer a intuição e a adaptabilidade que vêm com a experiência humana. Os engenheiros de IA enfrentam o desafio de traduzir esse conhecimento tácito em algoritmos que permitam uma condução segura e eficiente.
O Paradoxo de Polanyi também tem implicações significativas para a educação e o trabalho. Nas escolas, existe uma tendência a enfatizar o conhecimento explícito através de aulas expositivas e livros didáticos. No entanto, muitas habilidades essenciais para o sucesso profissional e pessoal são tácitas, adquiridas através de experiências práticas, estágios e aprendizagem informal.
No local de trabalho, isso se traduz na importância do treinamento prático e da mentoria. Profissionais experientes possuem uma riqueza de conhecimento tácito que é fundamental para a eficiência e a inovação. A transmissão desse conhecimento requer ambientes de trabalho colaborativos onde os novos funcionários possam aprender observando e praticando ao lado de colegas mais experientes.
Desafios e Oportunidades
O reconhecimento do Paradoxo de Polanyi apresenta tanto desafios quanto oportunidades. Por um lado, ele nos alerta para as limitações dos métodos tradicionais de codificação do conhecimento, destacando a necessidade de abordagens mais holísticas na educação e na formação profissional. Por outro lado, também abre novas fronteiras para a pesquisa em inteligência artificial e ciência cognitiva, incentivando o desenvolvimento de tecnologias que possam captar e replicar o conhecimento tácito.
Ao valorizar e integrar o conhecimento tácito, podemos enriquecer nossa compreensão da própria natureza do saber humano.
