Autismo
por Acid em AutoconhecimentoAtualizado em 31/08/2023 07:57:07
Semana passada fui diagnosticado com autismo nível 1.
Quase todo mundo me perguntou como eu estava me sentindo. A graça disso é que uma das minhas características autísticas é a dificuldade de acessar e falar dos meus sentimentos. Mas consegui responder que foi um alívio, e um fechamento de um livro já desgastado da minha vida, onde termina um ciclo de incompreensão - não só dos outros, mas minha mesmo em relação a mim.
Tive de aguentar muita coisa calado porque é o "normal". De fato, eu via que o que me incomodava não incomodava mais ninguém, então achava que era só um capricho meu, uma "frescura", uma falta de preparo pra vida (Mea culpa).
Minha depressão sempre foi invalidada (até por mim mesmo) por eu ter boas condições de vida e ser muito leve pra ser chamada de "depressão".
Minha auto-estima é baixíssima, e minha incapacidade de socializar com as pessoas só tornava tudo pior.
No trabalho eu vivia pra baixo e pra cima com headphones pra abafar o barulho das pessoas conversando, viver no meu mundo e não ter de interagir com ninguém em small talk. Tanto que fizeram uma charge de mim (essa aí do lado).
TEA
O TEA: Transtorno do espectro autista é um conjunto de condições de desenvolvimento que afeta o cérebro. A causa do autismo ainda é um mistério, mas a cada ano mais e mais pesquisas são feitas e estamos chegando a algumas indicações fortes, como por exemplo cientistas mostrando que os neurônios de pessoas com autismo são mais curtos e possuem menos ramificações, e que o autismo pode ter em 90% dos casos um componente genético herdado dos pais, e/ou do ambiente, ou pode ainda ser uma mutação que surgiu no embrião mesmo tendo pais "saudáveis" (lembrando que não há um "gene do autismo", apenas genes associados ao autismo - Existem atualmente cerca de 800 genes associados ao autismo registrados, ou seja, não dá pra fazer um diagnóstico baseado tão-somente nos seus genes.).
Essa misteriosa mutação "estilo X-Men" causa uma rota DIFERENTE na ligação entre os neurônios que pode até trazer alguns "superpoderes" para alguns (como é o caso dos autistas retratados em séries como The Good Doctor e Uma Advogada Extraordinária), mas também traz consigo problemas como comportamentos repetitivos, sensibilidade extrema e dificuldade de comunicação social, entre outros.
Nem todo autista é igual ou possui os mesmos sintomas. A pessoa pode ser comunicativa, olhar nos olhos, viver sozinha e ainda assim ser autista. Pode ser muito inteligente e capaz, ou ter inteligência mediana ou mesmo deficiência intelectual. Pode ser insensível a dor ou ser incapaz de escovar os dentes quando criança por ter alta sensibilidade. É por isso que o Espectro autista é didaticamente dividido em três níveis de suporte, ou seja, do quanto o autista vai precisar de ajuda dos outros, de medicamentos ou equipamentos (como abafadores e bolinhas).
No nível 1 você não precisa de muita ajuda pra "se virar" em sociedade, vai ter seus transtornos mas vai lidando com eles (seja com terapia, medicação, meditação, religião). Muita gente está nesse nível, como eu, e passa a vida sem desconfiar.
No nível 2 estão os problemas que você não pode simplesmente ignorar, vai precisar de uma rede de apoio, mas ainda assim você vai levando a vida "no nível hard", como disse meu psiquiatra.
O nível 3 é o que precisa de ajuda constante de outra pessoa, pois possui capacidade de comunicação e cognição reduzidas. Foi esse nível ao qual a sociedade foi apresentada no filme ganhador do Oscar Rain Man. Por conta desse filme as pessoas ainda associam o autismo à superinteligência pra algumas coisas (síndrome de Savant) enquanto acham que a pessoa é quase que totalmente inapta socialmente.
Como falei, não existem autistas iguais, e mesmo essa separação em níveis não é fixa e a pessoa pode estar num nível e pode subir ou descer num dado momento (teve gente que durante a pandemia saiu de nível 1 pro 2 por conta da ansiedade e depressão).
É importante lembrar que o próprio nome ESPECTRO Autista já demonstra que a condição é um imenso degradê de efeitos. No meu caso, comecei a atentar pra isso quando essa denominação sequer existia. Nos anos 80 cientistas perceberam alguns sintomas de autismo leve em pessoas "normais" e chamaram isso de Síndrome de Asperger, em homenagem ao pediatra austríaco Hans Asperger. Isso me interessou muito, pois olhando os sintomas eu me vi em alguns deles e cheguei até a escrever um post sobre o meu caso, como se estivesse falando de outra pessoa (afinal o tema ainda carregava muito preconceito). Depois de um tempo eu esqueci o assunto, até porque não havia tratamento e isso nunca mais foi falado na mídia. Só recentemente, durante a pandemia (onde proliferaram lives de Instagram com depoimentos de tudo o que você imaginar) é que cruzei com pessoas falando sobre o diagnóstico de autismo na vida adulta (uma coisa que eu desconhecia completamente, afinal até uns anos atrás saber de um adulto autista era tão raro quanto ver casamento de anão, a ponto de uma criança autista que eu conheço ter perguntado pra mãe "e existe adulto autista?", como se ele mesmo não fosse se tornar esse adulto). Essa invisibilidade - que era a responsável pelo tabu em torno do tema - é o que faz as pessoas terem vergonha de ter filhos autistas, de não falar sobre autismo e assim impedir que outras mães não RECONHEÇAM traços autistas em seus filhos, o que é essencial pra um bom desenvolvimento e estímulo da criança. O autismo não é uma doença, é um TRANSTORNO. E esse transtorno não tem cura, mas tem métodos para lidar com isso, pra socializar melhor, para desenvolver as relações, as habilidades, etc. Não escondam / isolem seu filho autista, não sintam vergonha de falar sobre isso, e deixo aqui registrado meus parabéns para as pessoas que tiveram coragem (anos atrás) de falar sobre isso nas redes sociais, e principalmente pro Marcos Mion, que faz isso na TV desde antes de ir pra Globo. O que essas pessoas fizeram rendeu frutos em minha vida, pois pude ME PERCEBER através do depoimento deles, aprendi mais sobre mim e criei coragem pra ir atrás de uma psicóloga que trabalha com crianças autistas, e depois (com o incentivo dela), de um psiquiatra, que era algo que eu relutava em ir, pois não queria tomar remédios. Mais uma vez essa rede de pessoas compartilhando suas experiências foi essencial em vencer essas barreiras, então é basicamente por isso que estou fazendo este post, para passar a bola pra frente.
Uma vida menos ordinária
Quando recebi o diagnóstico, finalmente passei a semana meditando sobre tudo o que aconteceu de diferente na minha vida e como a malha neurológica diferente do autismo pode ter influenciado a minha percepção / experiência de mundo. A primeira coisa que pensei foram os OVNIs (agora UAPs). Seriam visões? Graças a Deus o melhor avistamento da minha vida se deu na presença de 2 testemunhas, e depois eu comprei uma câmera pra registrar tudo, e embora os registros sejam uma porcaria (por falta de referencial à noite) eles serviam pra mostrar que não era uma coisa da minha cabeça nem nada que estivesse acontecendo - sei lá - no mundo espiritual. Mas tem uma coisa que me perturba até hoje que eram as "coincidências" por detrás de alguns avistamentos, de eu olhar pra um ponto no céu sem motivo e uma luz piscar exatamente naquele ponto, ou só eu perceber alguma coisa e avisar a outras pessoas e elas estarem completamente apáticas. Tanto que isso meio que me fez elaborar a Teoria do Experimento.
Já mencionei aqui sobre uma sinestesia que eu tenho (de meio que "ver" sons) e isso quase que certamente tem a ver com o autismo. Um Satori (expansão da consciência) que eu tive (pra nunca mais) e que foi a maior e melhor experiência sensorial que já tive na vida, e hoje eu creio que teve muito a ver com minha condição. A sensibilidade pra energias. O Hadouken na Cura Prânica... E quanto ao avistamento do fantasma da menina? Nem tanto. Acho que teve mais a ver com ter invocado espíritos com a brincadeira do copo 1 hora antes.
Enfim, é curioso que depois de 20 anos de blog - cujo slogan é "Por uma vida menos ordinária" - eu descubra que desde o nascimento eu estava geneticamente fadado a não ter uma vida ordinária (pro bem ou pro mal).
Referências:
Neuroconecta - Autismo: o modelo do copo;
O Globo - Autismo: alterações no esperma do pai podem estar ligadas ao diagnóstico;
Neuroconecta - É possível mudar o nível de suporte no autismo?