Ou apostamos no que realmente importa ou surtamos!
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 01/09/2006 12:20:55
Depois de passar uma tarde inteira pensando em uma amiga muito especial, resolvi ligar para ver como ela estava. Pensei: “apesar de nos gostarmos tanto e de sermos amigas há mais de 20 anos, às vezes passamos mais de um mês sem nos falarmos...”. E constatei, triste, por um instante, o quanto deixamos o tempo nos engolir e perdemos a noção do que é realmente importante nesta vida!
Ao atender ao telefone, percebi que a voz dela não era das mais animadas. Fui logo contando que liguei porque havia pensado nela a tarde toda; ao que ela me respondeu: “deve ter sentido daí a minha angústia!”.
E me contou que seu irmão havia sofrido um surto psicótico. Isso mesmo! Não só parece um nome assustador, como realmente é! Simplesmente surtou! E pelo fato de ele também ter sido meu amigo de infância, de repente bateu forte aquela impressão: “poxa, poderia ter sido comigo...”.
Afinal, fomos criados na mesma rua, brincando das mesmas brincadeiras, dividindo sonhos e dúvidas, desejando - todos juntos - apenas virar gente grande e ser feliz... E, de repente, eu a ouvia me contar que teve de interná-lo numa clínica para pessoas com perturbações mentais e que, já de volta para casa, estava sob o efeito de medicamentos “faixa preta”.
Poxa! Impossível não me questionar: o que foi que passou pela cabeça dele? Qual foi o desespero que o levou a tamanho desequilíbrio? Quais foram os sentimentos que o engoliram de forma tão assustadora a ponto de fazê-lo sucumbir?
Desliguei o telefone, sentei-me no chão da sala e suspirei... Sentia-me estranhamente confusa, com a sensação de que entre estar bem e estar arrasadoramente mal pode existir uma distância muito menor do que supomos. E mais: de que este espaço parece estar se tornando ainda mais curto por conta deste ritmo insano ao qual temos nos submetido.
O tempo todo o mundo parece nos cutucar: você já conseguiu se realizar profissionalmente? Já conseguiu amar e ser amado? Já conquistou bens materiais o mínimo para deixar sua família numa situação confortável? Já teve seus filhos? Já alcançou o corpo saudável e bonito que acredita que precisa ter?
E quando pensamos que todas as perguntas já nos foram feitas, sentindo-nos exaustos, deitamos em nossa cama... e mais pressões nos assombram! “Por que você não agiu de modo mais incisivo? Por que deixou que lhe passassem a perna? Por que tem sido tão tolo e inocente? Por que não consegue ser mais inteligente, exercer mais a sua liderança, sobressair-se mais em seu meio social?”.
E, assim, coagidos, adormecemos para acordar no amanhã. Teoricamente, deveríamos nos sentir renovados e prontos para novas batalhas depois de uma noite de sono. Mas o que parece que mais temos sentido, dia após dia, é uma necessidade enorme de um pouco mais de paz, acolhimento, colo, amor, compreensão...
Uma folga, pelo amor de Deus! Chega de tantas poses, caras e bocas! Chega de tanto consumismo, de tantas necessidades inventadas! Precisamos parar de acreditar que ainda não temos o que precisamos. Já temos! Chega de tanta pressão para alcançar o que, em última instância, não significa nada!
Está na hora de revermos no que é que temos apostado, percebendo que a vida está muito além de tudo isso... Temos investido nos valores errados. Temos acreditado em verdades que não existem. Temos buscado coisas... e a vida definitivamente não é feita de coisas! As coisas deveriam nos servir, mas nós é que temos vivido em função do ter, do parecer, ostentando um corpo sem alma, um coração vazio, terrivelmente vazio!
Precisamos urgentemente resgatar o que é essência, em detrimento do que é casca. Descobrir o que realmente nos preenche! Não é um questionamento fácil e a resposta talvez demore um pouco a se completar. Estou aqui, também eu, me questionando... e desejando que, ao invés de surtar, consigamos simplesmente reaver o que temos abandonado de verdadeiramente importante!