Ser fiel é uma escolha que não pode depender do outro!
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 30/06/2003 11:32:39
Sempre que me perguntam sobre fidelidade, inevitavelmente surge aquele velho argumento: “mas por que eu seria fiel se nada me garante que o outro não está me traindo?”... Essa é, sem dúvida, uma grande verdade. Jamais teremos certeza e nada pode nos garantir que a outra pessoa não vai nos trair, que ela está sendo fiel. E isso me faz lembrar de uma história:
“Todas as manhãs, a caminho do trabalho, João e seu amigo passavam pela banca de jornal do seu Joaquim. Ao pagar pelo seu jornal, João sempre agradecia com um sorriso nos lábios e desejava ao Sr. Joaquim um bom dia! Como resposta, recebia sempre o mesmo silêncio e a mesma carranca.
Certo dia, seu amigo lhe perguntou:
- João, por que você insiste em desejar bom dia ao seu Joaquim e tratá-lo de forma tão amável se ele é sempre grosseiro e sem educação?
E então, sabiamente, João lhe respondeu:
- Simplesmente porque não quero que ele decida como eu devo agir!”
Creio que essa seja a melhor e mais sábia justificativa para a fidelidade. Ser fiel é uma escolha pessoal; não pode depender da atitude e da escolha do outro. Ou você é, ou você não é!
Obviamente, levando em conta que ninguém é perfeito e que todos nós estamos sujeitos aos equívocos, podemos “escorregar”. Mas o que defendo aqui é a postura de cada um. O que você considera certo e errado? O que é característica sua e o que não é?
Considero como verdade absoluta a seguinte assertiva: “Não faça ao outro o que você não gostaria que fizessem a você”. Creio que raríssimas pessoas diriam que não se importariam se fossem traídas. Assim sendo, não consigo entender porque tantas pessoas insistem em trair...
Talvez, o fato não deveria ser encarado a partir da atitude: trair ou não trair; nem tampouco a partir da vítima: ser ou não ser traído. O fato deve ser encarado a partir de quem o praticou. Isto é: você é ou não é um traidor?!?
Pode ser que a questão colocada desta maneira pareça acusadora demais, no entanto, acredito que por trás dela exista um sentimento mais profundo e importante que deveria ser levado em conta: a compaixão.
Compaixão é um sentimento em extinção. Significa ser capaz de colocar-se no lugar do outro e conseguir sentir a dor que ele sente. Se pudéssemos fazer isso sempre, aposto que as atrocidades da vida diminuiriam consideravelmente. Especialmente a traição.
Considero traição tudo aquilo que é combinado entre duas pessoas e uma delas não cumpre. Ou seja, se você, no seu relacionamento, assume a postura de estar só com aquela pessoa, supõe-se que você se sinta capaz de cumprir esse acordo. Caso contrário, deveria ser sincero o bastante para admitir que quer ficar com outras pessoas toda vez que sentir esse desejo, assumindo o risco de “perder” a pessoa que gosta.
De qualquer maneira, independentemente de qual seja a sua escolha, o fato é que a verdade é sinônimo de fidelidade. Se a sua verdade vai ser aceita ou não, essa é uma outra questão com a qual você terá de lidar. Mas ser fiel é, acima de tudo, assumir somente os compromissos que se julga capaz de cumprir. E caso não consiga, independentemente dos seus motivos, o mais correto é não enganar e não mentir, ou melhor, ser sincero e contar ao outro que você quebrou o acordo.
Saber lidar com as conseqüências de seus atos pode demonstrar uma grandeza admirável, uma coragem que poucas pessoas têm. Além disso, ser “absolvido” diante da confissão é bem mais fácil do que ser perdoado diante da mentira e da tentativa de ludibriar a pessoa amada.
Enfim, caio novamente numa frase que escrevo sempre: a vida é feita de escolhas! Imagine que a vida fosse um grande e requintado cardápio, repleto de deliciosas opções. Todos nós, apreciadores do prazer, podemos ficar em dúvida e titubear antes de fazer o pedido. No entanto, teremos de fazê-lo, abrindo mão das demais opções, se quisermos desfrutar o sabor.
Quando vejo pessoas se dizendo fiéis, mas traindo a pessoa amada, imagino-as como se estivessem num belo restaurante, com o prato que escolheram diante de si, mas que de tempo em tempo, levantam-se da mesa pedindo licença para irem até o toalete e, enganando a si mesmas, correm até a cozinha se escondendo para não serem vistas e roubam colheradas de outros pratos, engolindo rapidamente e voltando correndo para seus lugares.
Resultado: não saboreiam nem o que está à sua frente e nem o que está na cozinha. Perdem o sabor peculiar de sua escolha e não sabem aproveitar de cada opção o melhor que poderiam! Perdem a oportunidade maravilhosa de degustar o indescritível sabor do amor, porque não sabem que esse prato pede sensibilidade e entrega para ser apreciado de verdade...
...E quando chega a conta, pagam caro e certamente continuam com fome!