Quando o amor vira amizade...
por Rosana Braga em Almas GêmeasAtualizado em 20/05/2005 12:51:38
Creio que todo casal, em algum momento da relação, já se perguntou: “será que eu realmente amo esta pessoa ou estou com ela apenas porque já me acostumei?”. Ou seja, a dúvida parece reincidir sobre dois sentimentos que aparentemente exigem posturas diferentes: amor e amizade.
Porém, creio que alguns conceitos necessitem de certa reflexão. Se podemos nos apaixonar por um amigo, supomos que amizade e amor podem ter íntima correlação. Se podemos nos tornar amigos de quem amamos, a afirmação continua valendo. Isto é, podemos acrescentar amor à amizade e amizade ao amor.
Mas por que, em muitos casos, quando uma pessoa se questiona sobre o fato do amor ter-se tornado amizade, fica a impressão de que algo se perdeu? Fica a sensação de que falta alguma coisa, de que foi subtraído da relação o mais importante? Será?
Claro que buscamos o despertar de sentimentos peculiares quando decidimos nos entregar a uma relação amorosa. Paixão, excitação e palpitação não combinam com as relações que vivemos entre amigos. Espera-se que no ‘grande encontro’ haja mais do que a paz que pode ser encontrada num ombro companheiro. Espera-se que haja desejo.
Muito bem. Isso é verdade. Mas qual é o prazo de validade da paixão? Qual é a função desse fogo que parece nos consumir e nos movimentar no auge de sua envolvência. Será possível viver nesta ardência por toda a vida? Será construtivo?
O que quero dizer, na verdade, é que a base de uma relação de amor, especialmente com o tempo, a dedicação e a construção de uma vida em comum, vai ganhando mais em amizade e permitindo que se apague, de forma saudável e necessária, o fogo da paixão. E é absolutamente preciso que seja assim, acredite!
A paixão é maravilhosa, deliciosa, imperdível e desejável, mas como fogueira vai se apagando em seu devido tempo. Fogo demais queima, machuca, dói, destrói. Fogo de menos faz falta, deixa frio, escuro, desconfortável. É preciso acertar o tom, aceitar o ritmo, embriagar-se de labaredas na medida certa... e depois, aprender a manter acesas somente as brasas.
Mas as crenças e os romances nos enganam; deixam no ar a ilusão de que podemos estar constante e ininterruptamente apaixonados, ardendo, como se o amor se resumisse a isso. E assim, nos perdemos em desejos impossíveis. Acreditamos que falta algo nas relações duradouras. Simplesmente porque não aprendemos a apreciar a sutileza do amor. Ficamos presos e condenados à aflição que nos causa a paixão.
E o fato é que ela acaba. Ela sempre acaba. É assim, não tem jeito. Mas a gente não aceita. Busca outra e outra, nos remetendo a um vazio que nunca poderá ser preenchido senão com a delicadeza do amor. Precisamos nos deixar apaziguar, mais cedo ou mais tarde. Geralmente, mais tarde. Algumas vezes, bem mais tarde! Noutras, nunca, infelizmente.
Por isso, antes de pôr fim a uma relação que tem mais sutileza do que ardência, que lhe provoca mais paz do que desejo, pense bem. Não se deixe cair numa armadilha ardilosa e extremamente perigosa.
Não estou, de forma alguma, subestimando a importância da paixão. Ela é necessária e imperdível. Contém em si o impulso da provocação, a coragem para a entrega. Sem ela não há início, não há motivação para o nascimento do amor. A paixão rompe a terra para deixar nascer o amor, em forma de fruto.
Desejo assim, que todos nós tenhamos a oportunidade de nos envolver nas chamas da paixão. Se preciso for, até arder, doer e aprender. Para depois, enfim, valorizar a calmaria do amor. Afinal, a paixão queima e machuca enquanto que o amor aquece e acolhe... e que você descubra e usufrua do segredo contido na relação que torna-se mais parecida com amizade e menos com a angústia das paixões.
Veja na próxima semana: “Quando a amizade vira amor...”