De olhos bem abertos
por Graziella Marraccini em AstrologiaAtualizado em 22/08/2006 11:55:04
Na semana passada, no meu artigo Se quiser falar com Deus comentava a respeito da surdez que temos quando não queremos escutar alguém (ou até mesmo nossa voz interior). Essa semana, vou continuar minha reflexão, desta vez falando sobre cegueira. Pois é, meus amigos, na maioria das vezes, nós vagamos como cegos, sem ver o que está ao nosso redor!
A primeira razão é simples: somos condicionados a ver as coisas da forma como fomos ensinados. O condicionamento de nosso ambiente doméstico na primeira infância pode ser o fator determinante da forma com a qual vemos o mundo. Se formos criados num ambiente doméstico harmônico e belo, teremos em nossos olhos esta harmonia e a procuraremos em toda parte para nos sentir bem. Assim, reagiremos a um ambiente feio ou com crítica ou com o afastamento. Da mesma forma, se formos habituados a viver em ambientes caóticos e bagunçados, nos sentiremos bem neste tipo de ambiente e nem iremos reparar nas coisas belas que estão ao nosso redor. Por essa razão, penso que precisamos educar nossos ouvidos e nossos olhos com aquilo que de melhor nossa civilização pode oferecer.
Mas nossa cegueira pode acontecer também em nossos relacionamentos com as outras pessoas. Se em nossa primeira infância aprendemos que as pessoas precisam falar de forma suave e educada, qualquer pessoa mais espalhafatosa ou mal-educada nos parecerá agressiva e, conseqüentemente, nos afastaremos dela. Porém, me pergunto: o seu padrão do belo e do harmônico não poderia ser diferente ser você tivesse sido criado em outro lugar? É claro que sim, e podemos observar isso até mesmo quando observamos o modo de viver de habitantes de lugares exóticos que possuem um outro conceito do belo do que o nosso. O que nós consideramos feio pode ser considerado belo para a outra pessoa, esse é o conceito. Porém, em temas de estética e equilíbrio harmônico o modelo grego de equilíbrio, harmonia e beleza acaba influenciando todo o mundo ocidental até os nossos dias.
Mas nesse artigo eu não quero falar da cegueira somente por causa dos padrões estéticos. Já se perguntaram alguma vez: “O que eu vi nessa pessoa?”, ou “Como pude me apaixonar por essa pessoa?”. Acho que todos nós já passamos por isso, não é mesmo? A questão é que muitas vezes temos os olhos vendados temporária ou permanentemente, dependendo do nosso condicionamento. Podemos dizer então que, como não tem pior surdo do que aquele que não quer ouvir, não tem pior cego do que aquele que não quer ver.
Em astrologia, consideramos esse feito de “não enxergar” como o efeito da energia do planeta Netuno e para explicá-la aos meus clientes eu costumo usar a expressão: ”estar netunado”. A energia do planeta Netuno é uma energia insidiosa e muito difícil de se perceber de pronto. Ela nos faz ver coisas que não existem, ou não nos deixa ver aquelas que existem, ela deturpa a realidade como a lente ótica de uma máquina fotográfica que focaliza somente aquilo que o fotógrafo quer mostrar. Sob o efeito dessa energia perdemos as referências físicas, avaliamos mal os contornos de objetos e pessoas que se confundem perante nossos olhos e nos sentimos perdidos e tontos. Por essa razão também acabamos enxergando os traços da personalidade da outra pessoa de forma mais suave, às vezes minimizando seus defeitos ou deturpando as qualidades. Netuno é um misturador universal, um solvente. Se ele forma um aspecto com nossa Vênus natal num trânsito planetário, por exemplo, nos apaixonaremos perdidamente por alguém e, quando o efeito desse planeta passar, podemos acordar pensando: “Como fui me apaixonar por essa pessoa”!
Um artigo publicado no nosso site: Netuno, caos e confusão (de 2003), poderá elucidar melhor o efeito desse planeta. Netuno transita ainda pelo signo de Aquário, onde ficará até final de 2012 e influencia principalmente esse signo e também o signo de Leão, e na oposição e em quadratura, os signos de Escorpião e Touro. Assim, esses signos terão mais chance de estar sob a influência do planeta do onírico até o final de seu trânsito. Porém, os natos de outros signos também sentem sua influência, dependendo da Casa astrológica do mapa natal pelo qual o planeta estará passando e também dependendo do planeta com o qual ele formará um aspecto. Alguns de vocês, por exemplo, podem sentir sua influência no MC (Meio do Céu) e ficam confusos em relação à carreira e ao futuro profissional; outros sentem sua influência na Casa V, e se apaixonam ou sentem sua criatividade aumentada podendo se dedicar a atividades mais artísticas. E se esse planeta estiver transitando no seu Ascendente, você ficará confuso e cego, perdendo o rumo, literalmente pelo menos durante o tempo em que ele estiver influenciando a cúspide daquela casa. Porém, a ação de Netuno pode ser muito positiva. Vamos imaginar (ah, a imaginação é coisa de Netuno!) alguém que está sempre voltado para dentro de si, alguém que condiciona tudo ao seu próprio Ego, alguém muito materialista ou muito ambicioso, que não se importa com ninguém além de si mesmo. Ele sempre estará olhando as coisas ou as outras pessoas de forma deturpada, a partir de seu próprio ‘ponto de vista’. Ele nem ouvirá e nem enxergará o outro como ele realmente é, mas como ele o quer ver! Pois é: para poder enxergar o outro como ele é realmente, talvez seja melhor fecharmos os olhos.
De olhos fechados, poderemos estimular nosso sexto sentido, nossa intuição, e poderemos apreciar a outra pessoa sem a deturpação determinada por nosso preconceito. De olhos fechados “sentimos” melhor, pois estamos conectados com o ‘feeling’ que é um conjunto de sensações, uma percepção normalmente ditada pelo coração e não pela razão. E, quando falo de coração estou falando da voz da alma. A alma nos envia mensagens que não podem ser ouvidas ou interpretadas com os sentidos físicos. Quando dormimos e entramos no mundo dos sonhos, estamos no mundo de Netuno. Ele nos envia mensagem através de um código que nada tem a ver com a realidade racional. Jung nos forneceu a chave da interpretação dos sonhos que podem nos ajudar a enxergar com os olhos interiores, os olhos de nossa alma. Sem ficar cegos, sem fugir da realidade, sem nos refugiar com a cabeça na areia como os avestruzes, e nem viver num mundo imaginário ou utópico, podemos usar essa energia maravilhosa para nos conectar com Deus usando sua Criação e suas Criaturas. Com nossos olhos interiores aprendemos a ver o mundo de outra maneira: podemos enxergar aquela árvore maravilhosa toda florida no meio dos prédios de cimento, podemos ver a beleza refletida nos olhos de uma criança, mesmo estando ela suja e descalça numa esquina, podemos ver a até mesmo a beleza daquele cãozinho maltratado e piolhento pois tudo é Criação de Deus. Ver não é enxergar, assim como ouvir não é escutar! A conexão com Deus e com a Luz Divina não se faz através dos olhos físicos acostumados a ver uma realidade ensinada, mas através dos olhos da alma. A voz de Deus não nos fala aos ouvidos, mas diretamente ao coração. Os orientais chamam nossa realidade de Maya, ilusão. Então, se nós vivemos na ilusão, onde estará então a verdadeira realidade? Será que ela existe? Será que ela não é simplesmente fruto de nossos cinco sentidos físicos condicionados? Muito foi escrito sobre o assunto e até o filme Matrix nos leva a refletir sobre o assunto (para citar uma obra que me marcou profundamente). Aquilo que estou vendo é real? Esta pode ser a pergunta da semana.
Para obter olhos que possam enxergar podemos pedir a ajuda do Gênio Cabalístico Rohel, o 69° Anjo da Cabala. Rezando o salmo correspondente, o de número 15, ele nos ajudará a abrir nossos olhos, a encontrar as coisas que perdemos, a reencontrar as pessoas que se afastaram de nós, a encontrar nosso rumo e a fazer nossas escolhas acertadamente. Ele nos mostrará que SOMOS TODOS UM com Deus, e nos pegará pela mão fazendo uma ponte entre nós e a Luz Divina.
Muita Luz para todos.
