Pequena História da Astrologia - Parte 2
por Graziella Marraccini em AstrologiaAtualizado em 19/07/2000 11:26:25
No ocidente, nos primeiros séculos de nossa era, (de 700 a 1100 DC) o interesse da astrologia era concentrado primeiramente nas suas relações com a doutrina cristã. No Oriente, no entanto, a astrologia continuou sua evolução para ampliar suas bases teóricas e sobretudo práticas. Em Bisâncio (ou Constantinopla) existia uma cadeira de Astrologia na Universidade. No mesmo período, o mundo islâmico contribuiu de forma notável para o desenvolvimento das ciências astrológicas.
A partir da idade média, a astrologia precisou se adequar à evolução do pensamento e portanto acabou ressentindo as conseqüências do processo de transformação derivado do pensamento cristão que naquele período se espalhava no mundo ocidental. Neste período o aspecto entre astrologia e religião são interligados.
A partir de 1400 DC, as relações entre astrologia e religião começaram a enfraquecer, perdendo a sua importância e sendo substituídas pouco a pouco com teorias ligadas ao desenvolvimento das ciências naturais. Apesar de parecer que o Renascimento seja a época do florescimento da luz em relação ao obscurantismo da idade média, ele iniciou de fato a queda rápida da autêntica espiritualidade cristã. O Humanismo, de fato, acabou abrindo um abismo entre a ciência e a fé, apesar de proclamar a reconciliação entre a natureza e o espírito. Neste período aconteceu o descobrimento da América por Cristóvão Colombo e a substituição do sistema universal geocêntrico de Ptolomeu pelo sistema heliocêntrico de Copérnico (1472-1543), que revolucionou as antigas concepções geográficas e astronômicas.
Portanto era de se esperar que essas grandes mudanças influenciassem também a astrologia. No entanto, ainda não havia acontecido uma verdadeira ruptura entre a astronomia e a astrologia, que eram ensinadas, juntas, em várias Universidades da Europa. Neste período, os grandes estudiosos desta época tentaram dar à astrologia uma conotação científica, por causa dos critérios racionais que agora prevaleciam. Na realidade, esta mesma conotação científica acabou favorecendo aos opositores da astrologia, já que ela não conseguia explicar nos termos da ciência positiva as visões tradicionais dos conceitos cosmológicos. As imagens simbólicas tinham valor somente se expressas por espíritos eleitos como São Tomás de Aquino ou Dante, ou mesmo pelos Mestres de Chartes e outros místicos da época, mas perdiam o sentido se comparados com a linguagem científicas e realista da época.
È neste período que surge na Itália, o gênio incomparável de Leonardo da Vinci (1452-1519). Leonardo não ignorava o conceito dos antigos filósofos de que o 'Homem é um universo em miniatura" mas, para chegar a uma visão unitária da Criação Divina que pudesse ser satisfatória seja para o estudioso que para o artista, ele precisou buscar o equilíbrio perfeito entre ciência e arte. A harmonia universal refletida num céu estrelado não havia passado despercebida ao seu olhar de pesquisador. Estudando o tratado astronômico de Ptolomeu ele conseguiu ter uma idéia precisa daquela frase hermética "o que está em cima é como o que está em baixo", ou "o microcosmo é como o macrocosmo".
Na criação da "Ultima Ceia" (afresco que se encontra na Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão, Itália), Leonardo tinha a intenção de reproduzir, segundo suas palavras, "a cosmografia do microcosmo em doze figuras", assim como Ptolomeu havia dividido o céu em doze partes, demonstrando doze variações da natureza humana que representavam cada uma as suas particulares características permitindo distinguir com precisão a sua diversidade.
Conforme o conceito dos "Quatro Elementos", Terra, Fogo, Água e Ar, Leonardo dividiu os Apóstolos em quatro grupos, de três figuras cada uma, colocando-os nos dois lados da mesa, onde Jesus, no centro, reina absoluto, já que ele corresponde ao Sol de nosso sistema solar.
Ao apóstolo Simão, por exemplo, é atribuído o signo de Áries, estando ele sentado na 'cabeceira' da mesa do lado direito do afresco. Tadeus representa o signo de Touro, e Mateus o signo de Gêmeos, e assim seguem todos até o final. Vemos com particularidade que o signo de Balança é atribuído a João, sentado do lado direito de Jesus (a esquerda no afresco) e a Judas (que está derramando o saleiro) é atribuído o signo de Escorpião. Por fim vemos que Bartolomeu, ao qual é atribuído o signo de Peixes, é o último e o único a ter seus pés descobertos. Desta forma Leonardo, representou a união entre o divino e o humano, que constitui a essência própria do cristianismo.
Esta obra inspirada em conceitos cosmológicos não é comparável com nenhuma outra, apesar de encontrarmos em todos os lugares, palácios ou igrejas, estas analogias e representações dos signos astrológicos, das constelações, das estrelas etc., que sempre inspiraram os artistas da época.
A partir deste período, a arte do século seis e sete pareceram ignorar ou quase estas representações, à medida que a humanidade era amplamente influenciada pelas ciências naturais que relegavam pouco a pouco a astrologia à simples esfera das artes divinatórias.