Quando o autoconhecimento nos liberta dos padrões destrutivos de relacionamentos
por Bel Cesar em AutoajudaAtualizado em 14/01/2010 14:34:28
O processo de autoconhecimento segue um caminho contínuo e gradual, mas inevitavelmente requer algumas atitudes básicas, como honestidade, coragem, abertura, discernimento e paciência. Em outras palavras, só aprendemos a nos conhecer quando paramos de implicar conosco nós mesmos e deixamos, de uma vez por todas, de seguir o hábito de nos denegrir. Isto é, na medida em que nos damos conta de que estamos nos fazendo mal, somos capazes de inverter gentilmente esse processo.
Quando confiamos em nossa capacidade de nos resgatar de uma atitude destrutiva, passamos a não ter mais porque temer a nós mesmos. Este é o estilo de vida interior que cultivamos quando aplicamos os ensinamentos do budismo tibetano, mas, com certeza, muitos outros sistemas também se baseiam neste fundamento. No entanto, aquele que busca o autoconhecimento sabe que nossa sociedade está cada vez mais nos desafiando a prestar mais atenção fora do que dentro do que de nós, quer dizer, a acreditar que precisamos mais do mundo externo do que dos recursos internos.
Este é o grande ganho do autoconhecimento: saber reconhecer e mobilizar os recursos internos. Por exemplo: podemos nos sentir despreparados para lidar com uma determinada situação, mas ao reconhecer e aceitar nossos pontos de vulnerabilidade com a intenção de fortalecê-los, ao invés de nos acharmos inadequados, sentiremos a esperança de estar dando um primeiro passo em direção à solução. Então, algo muda: não estamos mais atolados no mesmo ponto do sofrimento.
O próximo passo consiste em saber receber ajuda. Muitas vezes, temos uma imagem idealizada de nós mesmos: em nosso imaginário, cremos mais ser quem deveríamos ser do que realmente somos! Por exemplo, quando cremos que já deveríamos ter superado o impulso de seguir um hábito que já sabemos ser destrutivo. Seja de uma droga ou de um relacionamento. Se negarmos nossa vulnerabilidade diante deste hábito, ela irá nos atacar assim que “abaixarmos a guarda” sobre ela. Mas, isto não quer dizer que estamos condenados a vigiar eternamente nossos pontos fracos! Este é o ponto da virada. Saber receber ajuda para conquistar um novo olhar sobre uma mesma situação.
Enquanto negarmos a realidade de que certa atitude interna ou mesmo de que uma situação externa nos faz mal, nos manteremos presos a ela. Apenas quando admitimos nossa dependência em relação a esta atitude ou situação é que começamos a nos mover em direção a uma nova saída. Por exemplo, quando nos sentimos dependentes de um relacionamento destrutivo. Já sabemos que esta relação nos faz mal, pois mobiliza mais nossos pontos fracos, como medo e ressentimento do que nosso potencial criativo para seguir em frente. Um terapeuta ou um amigo sábio irá neste momento nos ajudar a reconhecer o que e como estamos projetando no outro nos impedindo de ser quem somos!
Em outras palavras, quando nos sentimos dependentes do outro é porque estamos sob o comando dele. Perdemos o acesso direto à nossa voz interior. Não conseguimos escutá-la via nós mesmos. Achamos, mesmo que erroneamente, que precisamos do outro para ser quem somos. Em outras palavras, quando cremos necessitar do outro como porta-voz de nossos anseios mais profundos, damos a ele um poder que é extremo e perigoso! Pois, quando agimos assim nos vemos vazios de nós mesmos, uma vez que o outro é que nos faz existir. Se nos sentimos vazios corremos o risco de aceitar sermos preenchidos por qualquer coisa. Quando os relacionamentos chegam a este ponto, de fato é muito triste. Um relacionamento só é saudável quando é rico em seu potencial de troca e está livre da competição acirrada de quem domina a relação.
Paule Salomon, em “A Sagrada Loucura dos Casais” (Editora Cultrix) escreve algo bastante esclarecedor a este respeito: “Tornar-se dependente de alguém é também tê-lo sob a sua dependência, para se assegurar de que a relação vai continuar, de que o outro não vai me deixar. Quanto mais entramos nesse papel de dominador ou de dominado, mais precisamos do outro para existir”. Ou seja, quanto mais acusamos o outro de nosso mal-estar, mais para perto de nós o trazemos. Pois, a medida em que o responsabilizamos sobre nosso bem-estar, mais dependeremos dele.
Apesar dos jogos de poder nos relacionamentos gerarem mal-estar, eles mantêm o casal cada vez mais preso num relacionamento destrutivo. Paule Salomon esclarece: “Tudo acontece como se os dois continuassem a ignorar o que o outro busca e o que eles mesmos buscam, girando sempre em círculo, cegos e desesperados, com alguns momentos de trégua. Eles continuam a girar em torno do vazio de si mesmos e não há quase mais ninguém para acompanhá-los nessa ronda infernal. Quanto mais a pressão aumenta, mais se vêem presos um ao outro. Quanto menos são satisfatórios na sua demanda fundamental, mais se frustram e mais essa frustração os leva a reproduzir compulsivamente comportamentos inadequados... Fazer pressão, enviar uma dupla mensagem, criar uma cumplicidade circular, manipular o outro, tornar-se dependente, estar inadaptado à realidade, repetir as mesmas histerias, são essas as características dos jogos de poder”. (P.103)
Então, por meio do autoconhecimento iremos gradualmente saber quem somos e de quais recursos necessitamos cultivar para acessar nossos desejos mais autênticos, sabendo que somos merecedores de respeito, carinho e gentileza.
O autoconhecimento é dinâmico, portanto, cheio de altos e baixos: ora nos sentimos fortes, ora frágeis. A sinceridade com que aprendemos a lidar com ambas as situações é que nos levará a nos sentirmos vivos internamente. Quando não temos mais porque nos evitar, não temos mais porque nos sentir vazios!