A angústia de escolher
por Rodolfo Fonseca em AutoconhecimentoAtualizado em 15/01/2025 12:36:03
A existência humana é marcada por um paradoxo fundamental: somos livres para fazer escolhas, mas essa liberdade vem acompanhada de uma angústia inevitável. Essa condição foi explorada profundamente por filósofos existencialistas como Jean-Paul Sartre, Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, que nos desafiaram a encarar a liberdade como um privilégio e um fardo.
O ato de escolher não apenas define quem somos, mas também molda o mundo ao nosso redor, criando um ciclo contínuo de responsabilidade e incerteza.
Para Sartre, o ser humano está "condenado a ser livre". Essa liberdade nos permite dar significado às nossas vidas, mas também nos responsabiliza por cada escolha feita. Cada decisão elimina outras possibilidades, criando um universo de consequências que não podemos prever completamente. Essa responsabilidade total sobre nosso destino gera angústia, um sentimento que surge da necessidade de decidir e do medo de errar.
Kierkegaard, descreveu essa angústia como "tontura diante da liberdade". Ele argumentava que a vida humana é um "mar de infinitas possibilidades", e a necessidade de selecionar apenas uma direção entre tantas provoca um sentimento avassalador.
Para ele, a angústia não é um sinal de fraqueza, mas sim uma oportunidade de crescimento, pois nos força a confrontar nossa existência e a viver de maneira mais autêntica.
A vida se torna possível quando transformamos a angústia em ação, quando definimos uma meta ou propósito que dê direção às nossas escolhas. Sem metas, somos como barcos à deriva, movidos por circunstâncias externas e sem controle sobre nosso destino.
Nietzsche, ao desafiar os valores tradicionais, nos convocou a criar nossos próprios valores e objetivos, enfatizando que a vida ganha significado através da coragem de agir e da aceitação do eterno retorno: a ideia de viver cada momento como se fosse infinito.
A definição de metas é um ato de afirmação da vida! Quando estabelecemos um propósito, criamos um eixo em torno do qual nossas ações podem girar, trazendo coesão à nossa existência. Esse processo, no entanto, não elimina a angústia completamente, mas a transforma.
A dúvida sobre se estamos no caminho certo ou se nossa meta é a mais adequada persiste, mas agora é acompanhada por um senso de direção e possibilidade.
Para os existencialistas, a autenticidade é essencial nesse processo. Viver de forma autêntica significa reconhecer que somos os únicos responsáveis por nossas vidas e que nossas metas devem refletir nossos valores e desejos mais profundos, não as expectativas impostas por outros ou pela sociedade.
Sartre enfatizou que, ao definir metas, devemos nos lembrar de que não há uma essência pré-definida que nos determine; somos livres para criar o significado da nossa existência.
Essa liberdade pode ser assustadora, mas também é libertadora. Kierkegaard sugeriu que, ao abraçarmos a fé - seja ela religiosa, em nós mesmos ou na vida -, podemos encontrar uma maneira de enfrentar a angústia sem sucumbir a ela.
A angústia de escolher é, paradoxalmente, a base da nossa liberdade e a essência da nossa humanidade. Não há garantias de sucesso ou felicidade absoluta, mas há a oportunidade de viver de maneira autêntica e de construir uma trajetória que reflita quem somos.
Assim, cada escolha que fazemos, por menor que pareça, é um passo em direção à construção do nosso ser. Ao transformar a angústia em movimento, tornamos a vida não apenas possível, mas plena de significado. Porque, no final, como disse Sartre, "o homem não é nada além daquilo que faz de si mesmo".