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A síndrome do `pavio curto´

por Bel Cesar em Autoconhecimento
Atualizado em 19/09/2024 00:15:49


Certa vez Lama Michel Rinpoche nos contou a história de um monge que estava fazendo um retiro fechado, solitário. Um mestre veio ao seu encontro e lhe perguntou: "Que tipo de retiro você está fazendo?". Ele respondeu: "Estou meditando sobre a paciência". O mestre, então, cuspiu na cara dele, deu-lhe um tapa e, em seguida, deu um passo para trás. O monge reagiu imediatamente, com a intenção de revidar. O mestre olhou para ele e lhe disse: "Lembre-se de uma coisa: sem um objeto de raiva, você nunca poderá praticar a paciência". É fácil estar bem quando tudo está bem. Mas, só desenvolveu verdadeiramente a paciência aquele que não reage com violência mental, verbal ou física diante de uma situação provocadora.

Algumas pessoas simplesmente não conseguem ter paciência. Elas não estão bem e nem sabem disso, pois sofrem do Transtorno Explosivo Intermitente, a síndrome do "pavio curto"(abreviado TEI). Elas explodem quando menos esperavam explodir.

Nos momentos de raiva, têm comportamentos extremamente impulsivos, agressivos, inclusive em termos sexuais. Não conseguem se conter: xingam, gritam, ameaçam, destroem objetos. Agridem os outros com palavras, gestos e até mesmo com objetos. Colocam quem estiver à sua volta para baixo sem dar chances da pessoa se defender. É um ciclo que se repete: atacam, depois pedem ou não desculpas, mas encontram alguma como estratégia de reconciliação capaz de justificar seus atos.

O psiquiatra Dr. Sergio Klepacz esclarece que a raiz deste transtorno está ligada à falha da produção ou metabolização da serotonina, o neutrotransmissor que modula as questões de humor. Dr. Sergio conta que um grupo de cientistas de um centro de pesquisas em Washington, estudou a serotonina ao observar o comportamento desafiador de alguns macacos em cativeiros. Eles desafiavam o líder do bando e mesmo apanhando voltavam a perturbá-los e apanhavam novamente. O bando acabava por linchar e expulsar estes macacos do grupo, de tão desestabilizadores que eles eram. Isolados, acabavam tendo uma morte precoce.

Ao medir a serotonina de todos os macacos do bando, notou-se que quanto maior era o seu nível, mais submisso ele era diante do grupo. Já os macacos sem controle de seus impulsos agressivos mostram falha na liberação da serotonina, que era extremamente baixa. A serotonina é um amortecedor social.

Ambos os lados da história sofrem e merecem ajuda. Estas pessoas sofrem e acabam por ser execradas da sociedade. Por isso, é muito importante que elas se tratem com antidepressivos e estabilizadores de humor por toda sua vida. Pois, no momento em que param o tratamento, o comportamento impulsivo e agressivo volta a ocorrer. Este distúrbio acomete mais aos homens do que as mulheres. Pois, eles se ligam menos afetivamente e são mais agressivos que as mulheres por sua própria natureza hormonal. Quando são jovens devido a alto nível de testosterona o distúrbio é mais evidente. Já quando envelhecem e o nível de testosterona cai, eles melhoram.

Dr. Sergio Klepacz ressalta que aqueles que sofrem do Transtorno Explosivo Intermitente não estão depressivos. Eles têm suas explosões de humor mesmo quando estão bem, sem uma aparente causa ou situação estressante. Neste sentido o que mais intriga nestas explosões é que a reação é sempre muito desproporcional à situação que a desencadeou. Algumas vezes elas surgem literalmente do "nada". Mas, aquele que explode sabe que vai explodir, pois sente um aperto no peito, uma inquietação crescente como a forte pressão de um vulcão adormecido quando entra em erupção. Uma vez que o impulso é mais forte do que o bom senso e a vontade de controlá-lo, é preciso reconhecer que necessita de ajuda.

Em geral, as mulheres cuidam de si mesmas mais do que os homens. Elas vão regularmente ao médico fazer seus exames de rotina e até gostam de tomar remédios. Já os homens têm uma grande dificuldade de pedir ajuda e detestam ter que tomar qualquer medicação. Mas, homens e mulheres que sofrem desta síndrome precisam saber que ela existe e que podem ser ajudados. Assim como costumo dizer aos meus pacientes: "Não confunda você mesmo com o seu desequilíbrio, ele pode passar, mas você permanece.


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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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