Afetividade e Humor
por Conceição Trucom em AutoconhecimentoAtualizado em 01/11/2007 15:04:01
É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação e, conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência.
A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas na minha opinião, não é suficiente. Jean Piaget
A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, as emoções e os sentimentos e reflete sempre a capacidade de experimentar e aprender com todas as suas tonalidades. O humor é uma tonalidade afetiva que acompanha os processos psíquicos, dando colorido à cognição, às percepções, aos conceitos, etc.
O estado psíquico global como a pessoa se apresenta e vive reflete a sua afetividade. Tal estado interfere na realidade percebida por cada um, mais precisamente, na representação que cada pessoa tem do mundo, e de si mesma.
A afetividade é quem desencadeia os impulsos motivadores ou inibidores, percebe os fatos por uma ótica otimista ou pessimista, com entusiasmo ou indiferente e sob carga emocional que pode oscilar entre dois pólos, onde os extremos são a depressão e a euforia.
A afetividade é quem sustenta (nutre) a forma da pessoa se relacionar com a vida e, será através da tonalidade de afeto (ânimo ou humor) que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente a afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e toda a conduta do indivíduo.
Se o que vivenciamos a cada momento está sendo agradável ou não, prazeroso ou não, etc., todos sentimentos “significados” pela afetividade.
Será através da nossa capacidade de afeto que o mundo, no qual vivemos, chega até nossa consciência com o significado emocional que tem para nós.
A afetividade pode ser comparada com as lentes dos óculos, através das quais enxergamos emocionalmente nossa realidade. Através dessas lentes podemos perceber a realidade com mais clareza ou não, com mais dor ou não e assim por diante.
Existem estados afetivos onde a pessoa “enxerga” sua realidade via óculos escuros, ou seja, tudo é percebido como cinza, escuro e nublado.
E, existem estados onde a realidade é percebida como se a pessoa estivesse usando óculos cor-de-rosa, onde tudo é mais colorido, exuberante e brilhante.
Alguns vêem o mundo por uma lente de aumento, onde as questões tomam dimensões desmesuradamente ampliadas. E para outros, nada os atinge.
Tendo em vista o fato da afetividade (lentes dos óculos) ser diferente para cada pessoa, algumas sofrerão mais que outras diante de um mesmo desafio. Devido a essa subjetividade afetiva, cada pessoa reage à “realidade” de maneira muito pessoal e distinta.
Podemos pensar na afetividade como o tônus energético capaz de impulsionar o indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento do ser com sua vida e o humor necessário para conferir uma determinada valoração às suas experiências. A afetividade colore com matizes variáveis (humores) todo relacionamento do sujeito com o objeto, faz com que os fatos sejam percebidos desta ou daquela maneira e que despertem este ou aquele sentimento.
O que é normal?
Em condições normais, a cada situação da vida, sempre estamos vivendo um “estado afetivo momentâneo” (um estado de humor ou ânimo). Cada pessoa coloca valores às suas vivências, seja a tristeza diante de uma perda ou a alegria por uma conquista. Este estado afetivo momentâneo é variável a cada momento da vida da pessoa: pela manhã o humor dele estava elevado, e à tarde despencou. Dependendo do dia, da pessoa e da hora, um mesmo fato pode nos provocar diferentes humores (ânimos).
Ou seja, é normal que nosso humor oscile quando o afeto está rebaixado (deprimido), normal e elevado (eufórico). E a esta oscilação, desde que dentro de limites, é a afetividade momentânea. Entretanto, quando estas mudanças de humor são extremas, inesperadas, destrutivas e doentias, como é o caso do Transtorno Afetivo Bipolar (oscila do profundamente deprimido ao exageradamente eufórico), da depressão e mau humor crônicos, deixa de ser normal para quadros psicóticos e doentios.
Deve ficar claro que a afetividade não pode ser simplesmente submetida à influência da vontade. Portanto, ninguém deseja voluntariamente ter um afeto depressivo, assim como, também, dificilmente alguém conseguirá melhorar seu estado afetivo simplesmente porque um amigo ou pessoa de sua intimidade lhe dê bons conselhos e palavras de otimismo.
A afetividade pode ser melhorada e tratada mediante dois procedimentos:
• através de práticas psicoterápicas e psicopedagógicas de aperfeiçoamento da personalidade.
• com a utilização de medicamentos que atuam nos neurotransmissores e nos neuroreceptores cerebrais ou,
Primeiramente, o objetivo é que a pessoa passe a se conhecer melhor e reconheça as dinâmicas dirtorcidas das suas emoções, que levam à depressão. Através desse auto conhecimento se pretende que a pessoa passe a melhorar sua relação com a realidade e consigo mesma.
Nos transtornos de afetividade e humor, a alteração psicopatológica encontrada se caracteriza pelo fato de que o paciente tende de maneira constante a se colocar em um dos dois pólos afetivos de forma mais intensa.
Polo expansivo: ocorre uma superficialização dos afetos, o indivíduo está otimista, apresenta ressonância ao prazer, há onipotência, com vivências de vitalidade, sucesso, ganho, etc.
Polo depressivo: os afetos são profundos, há tendência ao pessimismo, a ressonância afetiva é com o desprazer. Há sentimentos de impotência, insuficiência, menos-valia, as vivências ligam-se aos temas de morte, perda, culpa, insucesso, etc. Os indivíduos se queixam de que viver é um "pesadelo difícil, arrastado e que as horas não passam".
Estados Patológicos do humor:
Depressivo (hipotimia): os pacientes se queixam de que tudo está mais difícil e pesado que antes. Diminuição da intensidade dos afetos, do ânimo e, de regra, associada ao retardamento da excitabilidade afetiva, que pode levar a uma incapacidade de sentir prazer (anedonia).
Há persistente aumento da duração de certos sentimentos de tonalidade sombria e desagradável.
Ocorre nas síndromes depressivas: nos transtornos do humor, nos transtornos mentais orgânicos com sintomas depressivos (hipotireoidismo, tumor de cabeça e de pâncreas), etc.Eufórico (hipertimia): os pacientes referem que "tudo está mais colorido, leve, fácil e rápido. Têm o ânimo elevado. Apresentam aumento da ressonância ao prazer, otimismo imotivado e se envolvem em atividades de risco.
Podem ocorrer irritação , onipotência, delírios de grandeza, etc.
Aumento da intensidade e duração dos afetos, apresenta-se associada à aceleração da excitabilidade afetiva, espontânea ou aos estímulos.
Ocorre nas síndromes maníacas: no transtorno bipolar, hipertireoidismo, no início de intoxicações exógenas (álcool, anfetaminas, cocaína), etc.
Ansioso: temeridade imotivada, apreensão. Provocado por transtornos de ansiedade, hipertireoidismo, cafeinismo, etc.
Delirante: Os pacientes relatam "que há algo de estranho no ar". Há uma modificação e um aumento do sentimento de significado das coisas. Pode ocorrer no início da esquizofrenia.
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