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Diálogos filosóficos entre Sartre e Nietzsche sobre religião e moralidade

Diálogos filosóficos entre Sartre e Nietzsche sobre religião e moralidade por Rodolfo Fonseca em Autoconhecimento
Atualizado em 14/01/2025 12:47:24


Jean-Paul Sartre e Friedrich Nietzsche são dois dos mais influentes pensadores da história da filosofia, separados por contextos históricos, mas unidos pela ousadia em desafiar convenções e explorar as profundezas da existência humana. Suas ideias moldaram o pensamento ocidental, questionando valores tradicionais e oferecendo perspectivas que continuam a inspirar e provocar debates.

Jean-Paul Sartre, nascido em 1905 na França, foi o principal representante do existencialismo, uma corrente filosófica que enfatiza a liberdade individual, a responsabilidade e a busca por significado em um mundo desprovido de fundamentos absolutos. Ele acreditava que "a existência precede a essência", ou seja, os seres humanos primeiro existem e, depois, definem quem são por meio de suas escolhas. Entre suas obras mais notáveis estão O Ser e o Nada e A Náusea, além de suas contribuições como dramaturgo e ativista político. Sartre enfrentou obstáculos como a ocupação nazista na França, que moldou seu engajamento com o marxismo e a política, e sua recusa ao Prêmio Nobel de Literatura em 1964 exemplifica sua visão sobre a liberdade e a autenticidade.

Friedrich Nietzsche, nascido em 1844 na Alemanha, é amplamente reconhecido por suas críticas à religião, à moralidade tradicional e à metafísica. Ele introduziu conceitos revolucionários como o "Super-homem" (Übermensch), o "eterno retorno" e a famosa declaração de que "Deus está morto". Suas obras, como Assim Falou Zaratustra e Para Além do Bem e do Mal, desafiam os leitores a questionar suas convicções mais profundas. Nietzsche enfrentou sérios problemas de saúde ao longo da vida, que culminaram em seu colapso mental em 1889, deixando um legado que seria amplamente interpretado e reinterpretado no século XX.

Embora tenham vivido em épocas distintas, Sartre e Nietzsche convergem em sua rejeição às certezas impostas por tradições religiosas e sociais, propondo uma visão do homem como criador de seu próprio destino. Nesta conversa hipotética, suas vozes se encontram para refletir sobre temas como fé, moralidade e o absurdo da existência.

O absurdo da ressurreição

Nietzsche: Sartre, pode haver algo mais absurdo do que acreditar que um homem ressuscitou dos mortos? Essa ideia não é apenas absurda - é infantil. Baseiam-se em um velho livro cheio de contradições e fábulas. A prova? Testemunhos duvidosos de seguidores fanáticos.

Sartre: E, ainda assim, essa narrativa passou incólume ao longo dos séculos, consolidada pelo sofrimento de muitos. Quantos foram queimados e perseguidos para garantir que a ressurreição se tornasse uma verdade incontestável?

Nietzsche: Essa é a força da moral do medo. Submetem-se à crença por necessidade, não por convicção.


O teatro de Jó

Sartre: E o que dizer do relato de Jó? Deus e Satanás, como velhos camaradas, brincam com a vida de um homem. Deus, onisciente, já sabia o desfecho, mas ainda assim permite o sofrimento.

Nietzsche: Isso é niilismo disfarçado de fé. Jó, escravizado por uma moralidade de submissão, é a marionete de um teatro cruel.

Sartre: É a perversidade do poder. Deus se apresenta como autor e diretor de um espetáculo que apenas sublinha a fragilidade humana.


O Deus cruel da praga

Nietzsche: A narrativa da décima praga no Egito é um exemplo perfeito. Deus pune os inocentes em vez de atacar diretamente o opressor.

Sartre: Um Deus que necessita de espetáculos para afirmar sua vontade não é forte, mas frágil. Ele busca justificativas para a crueldade em nome de uma suposta justiça.

Nietzsche: E quanto a Jonas? Um homem que foge de sua responsabilidade apenas para ser engolido por uma baleia. Para mim, isso simboliza a submissão e o medo que impedem o homem de abraçar sua liberdade.

Sartre: Jonas é um exemplo da má-fé, de quem rejeita sua própria autonomia. Que se afogue no ventre de suas próprias ilusões.


O pecado original e a liberdade

Nietzsche: O pecado original é uma ferramenta de controle. Faz o homem acreditar que é dependente de redenção, perpetuando a moral dos escravos.

Sartre: E o mais trágico é que essa culpa nos aprisiona em uma vida de má-fé. Passamos a vida tentando expiar um crime inexistente.

Nietzsche: Esse conceito nega a vontade de poder. Os humanos, intoxicados por essa ideia de pecado, rejeitam a vida em sua plenitude.


A natureza e o sofrimento

Sartre: Veja a natureza. O leão devora o cordeiro e o homem devora o animal. Eles chamam isso de perfeição divina, mas o que vemos é crueldade.

Nietzsche: Se há um criador por trás disso, ele é um artista macabro, não digno de adoração, mas de desafio.

Sartre: E prometem justiça divina aos famintos e oprimidos. Uma promessa vã que perpetua a resignação.


O inferno e o papel de satanás

Nietzsche: O inferno é administrado por Satanás, o rebelde último. Que ironia: Deus delega a justiça àquele que simboliza a desobediência.

Sartre: Mais uma farsa para justificar o medo e a submissão. Deus, Satanás, o inferno - tudo isso é teatro para manter a humanidade sob controle.

Nietzsche: Enquanto isso, a vida, com toda a sua tragédia e beleza, passa despercebida. Esse, Sartre, é o maior pecado da humanidade.


*Texto inspirado em vídeo do canal Minha Longa Historia Curta - link


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Rodolfo Fonseca é co-fundador do Site Somos Todos UM
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