Hoje resolvi me permitir um tempo
por WebMaster em AutoconhecimentoAtualizado em 21/03/2003 18:05:07
Coloquei-me desprovido do relógio, não liguei meu celular e nem acessei meus e-mails.
Simplesmente, resolvi assistir à guerra, hoje graças ao homem podemos nos postar diante da TV, com direito à pipoca e Coca Cola e vermos ao vivo e em cores os seres humanos destruindo-se.
Interessante analisarmos os programas especiais de guerra, pois existem os comentaristas, os estrategistas, os especialistas em armamentos.
A cobertura da guerra é programada com uma serie de especialistas, que dão milimetricamente a posição correta de cada míssil, eu gostaria até de sugerir uma torcida organizada, com direito a placar e bem no estilo americano, fanfarras.
Absurdo como a história se repete e o ser humano não aprende, pois Roma com o seu poder militar sucumbiu após muitas batalhas, e o que veremos novamente se repetir, será o império americano com todo seu poder militar sucumbir também diante de uma nova potência que virá, quem sabe os tigres asiáticos, pois não existe mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe, é assim que acontece sempre.
Os US$ 390 bilhões de dólares aprovados pelo congresso americanos para os gastos militares, em uma guerra tecnológica como essa, poderiam acabar não só com a nossa fome zero, como com a fome do planeta, mas é mais sensato se gastar esses mesmos bilhões em armamentos, afinal de contas alguém tem que consumir um míssil, muitos precisam adquirir um tanque de guerra, ou então o que seria dos fabricantes bélicos, e depois todo dinheiro arrecadado no mundo, para matar a fome sempre foi desviado por governantes e entidades corruptas, sem contar com a difícil logística para levar alimento às populações necessitadas nos guetos do mundo, já a logística montada para descarregar armamentos é perfeita, afinal de contas um míssil é mais leve que uma saca de feijão ou de arroz.
Ironias a parte, voltando ao meu programa de guerra ao vivo e em cores, fiquei estarrecido quando o comentarista avaliava o bombardeio em um dos palácios de Saddam: com pontaria certeira eles destruíram um palácio e tudo em um raio de 5 a 10 quilômetros, em uma situação dessas eu não gostaria de maneira nenhuma ser vizinho de Saddam, e é isso que as bombas fazem; destruem seus alvos e tudo a sua volta... é a tal da guerra cirúrgica comentava o especialista, pois para se extirpar uma célula cancerígena destruem-se várias .
Quantos milhares de civis irão ser massacrados!
Estima-se que na primeira guerra do golfo em 1991 foram massacradas, perto de 35 mil pessoas, nesta guerra estima-se que sejam 350 mil civis, e a grande maioria de crianças, tudo isso em nome da paz.
Mas como nada é por acaso, acredito que algo irá acontecer, que mudará a consciência dos povos pois, ao mesmo tempo em que a guerra acontece, existem manifestações no mundo todo a favor da paz. É necessário quebrarmos esse paradigma, de que se queres a paz prepara-te para a guerra.
Temos sim é que nos prepararmos para a nossa guerra interna, como indivíduos pertencentes ao todo, o verdadeiro confronto é com nosso orgulho, com nossa arrogância diante do poder, seja econômico ou não; nossa guerra é diante da pobreza de espírito, diante da inveja, diante de querer ter mais do que precisamos, diante da nossa falta de solidariedade.
Temos que quebrar o paradigma da violência urbana, lutar contra a nossa falta de paciência com nossos semelhantes, falar menos e ouvir mais, criticar menos e construir mais, andar mais pelas ruas a pé, conversar mais com o zelador do prédio, com o feirante do nosso bairro, resgatar os valores dos nossos pais, ligar o indivíduo e desligar a televisão, sermos pessoas alegres, entender que a alegria de viver e a felicidade está dentro de cada um de nós, se somos infelizes, seremos em uma cobertura na Vieira Souto em Ipanema ou em Paris, seremos infelizes em qualquer que seja o lugar, não fosse assim toda criança seria triste, não importaria o lugar onde mora, mas se observarmos uma criança, ela sempre tem um sorriso a dar.
De agora em diante, eu vou sempre me permitir dar um tempo, vou desligar a televisão e pensar em como resolver minhas guerras internas, observar mais, ouvir mais e falar menos, tomar um café da manhã domingo na padaria, do meu bairro, conversar com o jornaleiro, levar o carro para lavar, tomar um caldo de cana na feira, correr no quarteirão, sugiro que façam o mesmo.
Ou liguem a televisão e se desliguem.
Nelson Sganzerla - [email protected]