O Bem e o Mal são invenções humanas
por Rodolfo Fonseca em AutoconhecimentoAtualizado em 07/01/2025 16:11:51
Não há fenômenos morais, apenas interpretações morais dos fenômenos."
Essa provocação de Friedrich Nietzsche, um dos mais influentes filósofos da modernidade, nos convida a repensar conceitos enraizados na sociedade e a examinar como construímos nossa compreensão do mundo.
Para ele, os conceitos de bem e mal não são universais ou transcendentes, mas criações culturais e históricas. Surgiram como ferramentas para organizar e controlar a vida social, frequentemente mascarando os verdadeiros impulsos humanos: o desejo de poder e a afirmação de si mesmo.
Um dos pilares do pensamento nietzschiano é a "vontade de potência" que ele descreve como o impulso fundamental da vida. Mais do que simplesmente sobreviver, os seres vivos buscam expressar e expandir seu poder. Essa força vital transcende as classificações morais de "bem" e "mal", colocando o indivíduo em um caminho criativo, livre das amarras da moralidade tradicional.
Nietzsche critica as filosofias que colocam a verdade como absoluto, considerando-as uma expressão de fraqueza. Ele sugere que a obsessão pela verdade muitas vezes reflete um desejo de segurança e controle, em detrimento da vida plena. Em suas palavras, "aquilo que se faz por amor se faz além do bem e do mal".
O amor, assim como a vontade de potência, é uma força criativa que não se enquadra em categorias rígidas.
Na história, o bem e o mal foram moldados conforme interesses de poder. Durante a Idade Média, a Igreja Católica utilizou esses conceitos para reforçar sua autoridade, associando o "bem" à obediência aos dogmas e o "mal" à heresia ou à oposição. Essas classificações não refletiam uma verdade universal, mas interesses políticos e econômicos.
No mundo contemporâneo, essas interpretações de bem e mal continuam sendo usadas para justificar ações e ideologias. Por exemplo, no discurso político, adversários frequentemente demonizam uns aos outros, criando uma narrativa de "bem contra o mal" para mobilizar apoio. Essa simplificação mascara a complexidade dos fenômenos sociais e impede análises mais profundas.
Agora, se aceitarmos que o bem e o mal são invenções humanas, somos libertados da necessidade de nos conformar a normas externas impostas. Essa liberdade, no entanto, não significa irresponsabilidade, mas a superação das categorias morais e isso requer maturidade e um compromisso com a criação de valores próprios.
O conceito do Übermensch (o super-homem) reflete essa ideia. O Übermensch é aquele que transcende as moralidades herdadas, vivendo de acordo com sua vontade de potência. Ele não busca a aprovação externa, mas a afirmação de sua própria existência. Ser um super-homem para Nietzsche era:
- Questionar valores herdados, refletindo sobre como nossos conceitos de bem e mal foram formados e se eles realmente servem aos nossos objetivos;
- Cultivar a criatividade em vez de buscar verdades absolutas, abraçando a incerteza e a ilusão como partes essenciais da experiência humana;
- Focar na autossuperação para substituir a busca por aprovação externa por um compromisso com o a manifestação do próprio potencial.
Ao fazer isso, somos chamados a viver de maneira mais autêntica, guiados por nossa vontade de potência e pela coragem de criar novos valores.
A vida, então, deixa de ser uma luta entre polos opostos e se torna uma expressão vibrante de possibilidades infinitas.