O Governo e a Senhoriagem
por Rodolfo Fonseca em AutoconhecimentoAtualizado em 11/12/2024 00:42:27
A senhoriagem, conceito muitas vezes negligenciado, é a capacidade do governo de se beneficiar financeiramente da emissão de moeda. Este fenômeno é uma espécie de "lucro" obtido pela autoridade monetária, pois o custo de imprimir dinheiro é inferior ao seu valor nominal. Ao longo da história, a senhoriagem tem sido uma ferramenta essencial para financiar despesas governamentais, muitas vezes às custas da população por meio da inflação.
Um ponto de debate é como os ganhos tecnológicos se relacionam com a senhoriagem e a inflação. Afinal, a tecnologia é intrinsecamente deflacionária ou inflacionária?
À medida que avançamos tecnologicamente, é natural perguntar: somos mais ricos ou mais pobres que nossos ancestrais?
Um olhar para o passado revela um cenário de profundas transformações. Os avós e bisavós de muitos de nós nasceram em casas sem eletricidade. Não havia acesso a antibóticos, muito menos a confortos modernos como celulares, computadores, papel higiênico ou escovas de dente. Mesmo em um mundo sem inflação artificial, nossos antepassados tinham um padrão de vida que hoje seria considerado miserável.
Se as gerações passadas tivessem aceitado estoicamente um índice de preço estável - ainda que justo e razoável -, o progresso material e a qualidade de vida poderiam ter ficado estagnados. Sem os avanços tecnológicos, que muitas vezes geram flutuações econômicas, ainda viveríamos em um mundo de 100 anos atrás, carente de inúmeras inovações que hoje consideramos indispensáveis.
A tecnologia, ao gerar eficiências e reduzir custos, tem um efeito deflacionário intrínseco. Contudo, esse potencial é frequentemente neutralizado por políticas monetárias que promovem inflação. A razão é simples, porém profundamente triste:
o governo utiliza a inflação como uma forma de tributação indireta, aproveitando-se do mecanismo de senhoriagem para financiar gastos e reduzir dívidas.
Portanto, o dilema entre inflação e progresso tecnológico não é trivial. Embora a inflação possa corroer o poder de compra, ela também possibilita a expansão monetária necessária para financiar investimentos em infraestrutura, saúde e educação, que são catalisadores do progresso. Por outro lado, a deflação pura, sem interferência estatal, poderia criar um ciclo de retração econômica, prejudicando a inovação.
Em resumo, enquanto refletimos sobre os ganhos tecnológicos e seu impacto na riqueza das gerações, é essencial entender o papel do governo e da senhoriagem neste processo. A história demonstra que o progresso não é gratuito e que a busca pelo equilíbrio entre estabilidade monetária e avanço tecnológico continua sendo um dos maiores desafios econômicos da modernidade.
Inspirado na palestra de Renato Amoedo em Evento realização pelo Instituto Ilan em Araçatuba-SP