O que é uma boa esposa?
por Adília Belotti em AutoconhecimentoAtualizado em 28/06/2007 15:55:14
Com tanta gente falando de casamentos de sonhos, não resisti à tentação de mexer nesta cumbuca. A gente recebe muitas perguntas sobre a festa, sobre o vestido, sobre os detalhes do bolo, sobre a decoração da festa... mas ainda não recebe nenhuma pergunta sobre aquele momento derradeiro em que a orquestra sopra os últimos acordes, os amigos vão se carregando para fora do salão, os noivos suados e felizes emergem docemente da embriaguez do momento e... sim, e aí?
Como ser uma boa esposa, você já pensou nisso?
Se a gente vivesse lá pelos idos de 1950, era fácil responder a essa pergunta. As "colunas sentimentais" dos jornais, livros fartos de conselhos, como a bíblia da dona de casa perfeita, o The Good Housewife's Guide, e os programas de rádio eram pródigos em verdades límpidas e confiáveis:
- Amarre um laço de fita no cabelo para receber seu marido quando ele chega em casa no final do dia;
- Esteja de banho tomado, cheirosa, com as unhas feitas, cabelos impecáveis, roupa e avental limpos e engomados;
- Não fale de seus problemas, os dele são muito mais importantes, e não faça cara de tédio enquanto ele conta suas histórias ou narra o último jogo de futebol;
- Cuide para que as crianças não o incomodem;
- Aprenda a cozinhar, um homem se conquista pelo estômago;
- Horário de falar no telefone é durante o dia, à noite, evite que seus assuntos perturbem a harmonia do lar;
- Arrume a almofada para ele e ofereça-se para tirar seus sapatos...
...e por aí iam os bons conselhos de profissionais, mães e avós... parece muito subserviente para você? É, parece mesmo.
No entanto, um bom marido era definido em termos tão rígidos quanto, embora menos cheios de coloridos: bastava ser trabalhador, trazer dinheiro - de preferência, muito - para casa, carregar a geladeira sempre que fosse necessário e "ser respeitador", ou seja, manter seus casos extraconjugais bem escondidos e defender mulher e filhos dos perigos do mundo... Cá para nós, se a gente pensar bem, também não é um papel tão confortável assim, ao menos do ponto de vista emocional...
De lá para cá, mudamos, e muito. Não necessariamente para melhor. Alguns estudos são até meio sombrios. Hoje, leio numa reportagem excelente do jornal The Times, de Londres, sobre "Como ser uma boa esposa", estamos tão concentrados tentando ser bons pais e profissionais de sucesso que esquecemos de ser boas esposas e bons maridos. Simplesmente, acabamos nem pensando nisso...
Continuo no The Times e aprendo que o número de pessoas que decidem casar nunca foi tão baixo na Inglaterra e o número de divórcios não pára de aumentar... Ao que parece, os ingleses andam cheios do casamento, reclamam que suas esposas não gostam de sexo, que são competitivas ao extremo, que exigem tudo isso e o céu também do parceiro, mas não mexem um palito de fósforo para serem nem mesmo minimamente agradáveis...
Coisa desses ingleses, tento me iludir... coisa nenhuma!!!!
Nos EUA, pela primeira vez na história, o número de mulheres que sozinhas sustentam a família (51%) ultrapassou o número de mulheres casadas (49%). O último relatório do IBGE aponta que, no Brasil, o número de casamentos aumentou de 42,2 para 49,5% da população, mas o número de divórcios pulou de 0,2 para 4,1%, ou seja, a gente ainda acredita no casamento, mas...
Digito "sexless marriages" na Amazon e descubro 48 títulos novos de livros sobre as variações possíveis do tema: como esquentar sua relação, como lidar com o stress e aumentar sua libido, como, como, como...
Credo! Largo definitivamente o jornal, será que gastamos tantas noites discutindo a relação sem perceber que íamos insidiosamente nos tornando megeras estressadas, assexuadas, competitivas e neuróticas com o sucesso?
- Um pouco de calma, meninas. As mulheres exigem mais da relação porque tradicionalmente são as responsáveis pelo equilíbrio emocional da família. Nada de mais por aí, desde que você não transforme seu casamento numa eterna queda de braço para ver quem lava os pratos e quem troca as fraldas do bebê. Não é fácil chegar inteira em casa depois de 9 horas de trabalho, mas isso vale para os dois, certo?
- Não tem nada mais insuportável do que gente que só se queixa e reclama, mulher ou homem, mas nós temos uma tendência maior para as lamúrias... sobretudo naquela hora de discutir a relação. Vale o conselho dos especialistas: substitua a reclamação por uma proposta assertiva e construtiva...funciona, acredite, em muitos casos!
- Desconfie das histórias de mulheres sensacionais que conseguem conciliar tudo e são profissionais de primeiro time, excelentes mães, esposas maravilhosas e seres humanos formidáveis!!! É impossível, por mais que tentem nos convencer do contrário. Se quisermos manter minimamente certo equilíbrio, temos que nos acostumar a viver no reino do "bom o bastante". E abrir mão de muitas coisas... de preferência, não da relação...
- Sou uma mãe em geral cheia de dúvidas, mas estou convencida de que no final as crianças conseguem lidar com as dificuldades muito melhor do que os adultos, até porque elas sempre têm todo um futuro cheio de infinitas possibilidades ainda inexploradas como horizonte, mas nenhuma criança do mundo deveria viver num lar sem amor... isso sim é insuportável!
- Quanto ao sexo, acho que vou deixar você rindo com a fala de Jerry Hall, a belíssima ex-modelo e ex-esposa de Mick Jagger que, certa vez, declarou: "minha mãe dizia que era simples manter um homem feliz, bastava ser uma arrumadeira na casa, uma cozinheira na cozinha e uma prostituta no quarto. Eu prefiro pagar pelos serviços da casa e da cozinha e cuidar pessoalmente só da parte do quarto”...
E você, tem uma receita para ser uma boa esposa?
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