O sentido da vida
por Acid em AutoconhecimentoAtualizado em 08/04/2020 11:35:22
Nos comentários do post Reencarnação no cristianismo falei que ..."vida pós-morte, pelo que já li, é uma perda de tempo para a evolução do espírito que, por alguma sacanagem de Deus, só cresce realmente nessa porcaria desse planeta!"
O leitor Sandro Soares pediu pra eu falar mais sobre isso. De fato, isso é algo pouco explorado nesse site porque é um assunto de natureza mais especulativa da minha parte. Mas, considerando que eu adoro especular/filosofar sobre o sentido da vida, vamos lá:
"Quando li o que disseste a primeira coisa que veio em mente é: mas o que será que ele entende por evolução do espírito?"
Bem. É sabido que estamos aqui na Terra, assim como uma criança está no jardim de infância. Além de deixar de aporrinhar os pais durante parte do dia, isso serve para que a criança adquira o convívio social e aprenda as regrinhas básicas de saber obedecer a um adulto (professor), não roubar nem bater no coleguinha, etc, etc, além do aprendizado intelectual e físico. Se vocês meditarem por um tempo nesta imagem do jardim de infância, e juntarem ao conceito do filme Matrix, vocês terão um breve lampejo do porquê de estarmos aqui... com a diferença de que os "professores" são, na maioria das vezes, invisíveis aos olhos, e se (Direta ou indiretamente.) utilizam(*) de outros "coleguinhas" para passar suas lições.
Com isso em mente, percebemos o ridículo de muitos garotinhos do jardim de infância que se acham superiores aos outros por ser "assim" com o diretor da escola, ou até mesmo que dizem cumprir ordens diretas do dono da escola.
Quando digo espírito evoluído, já se imagina logo alguém de toga, todo brilhante, culto, limpinho... mas a evolução espiritual é aprender o que nenhum livro ou escola pode ensinar eficazmente, que é conviver em harmonia com tudo e todos ao seu redor, bom ou ruim. Buda, Krishna, Jesus e Sócrates (entre outros), espíritos (E, por isso mesmo, considerado excêntricos para sua época.) evoluidíssimos(*), vieram ensinar alguns passos para atingir esse modo de vida, e o que eles falaram estão escritos para todo mundo ler. E botar em prática, que é bom? Quem realmente consegue dar a outra face? Quem consegue deixar lhe roubar a capa, e ainda dar a túnica ao ladrão? Parece ser mais fácil achar espíritos evoluídos no interior, em alguma grota, em contato com a natureza, como os velhinhos dos filmes de Kurosawa (Dersu Usala e Sonhos), ou deslocado de seu tempo e espaço, como Peter Sellers em Muito além do Jardim, ou interessando-se apenas pelo lado bom da vida, como a simpática senhora de Ensina-me a viver. Mas, será que o auge da evolução é abandonar tudo e ir viver nos matos ou nas montanhas, em pura contemplação? Será que, atingindo um estado de paz consigo mesmo, não será mais preciso retornar a esse planeta atrasado? Hum... não. Porque é muito fácil ser bom quando se tem uma vida boa. É cômodo, e até mesmo um egoísta vai ser uma boa pessoa enquanto não mexerem com o que é dele. Um psicopata pode nunca vir a matar enquanto não for contrariado. Um budista ortodoxo pode abandonar riqueza, conforto, família, mas se mexerem na sua tigela e ele ficar aborrecido, terá falhado miseravelmente em seus objetivos espirituais. Essas vidas em isolamento podem ser consideradas como um "estágio", uma preparação do espírito para o "trabalho" a ser exercido na sociedade. Após isso eles terão de voltar à Terra e aprender a viver com os (Satan, no hebraico, significa simplesmente "adversário". São os adversários que despertam nossos demônios internos, e são nossos professores mais chatos e eficientes, pois nos ensinam na prática onde e o que devemos mudar em nós mesmos.) adversários(*), que podem estar na família, no emprego, na escola. Não poderia deixar de citar Chico Xavier, um exemplo vivo de que é possível viver de forma cristã (no sentido mais amplo da palavra) mesmo no Brasil.
O que você quis dizer com "sacanagem de Deus"? Será que é uma outra forma de dizer que deus errou... algo similar algum "saque contra o futuro"...visto que Deus tem como saber do futuro, então ele viria no passado (essa dimensão) consertar alguma burrado que ele fez?
Se você considerar que nós somos Deus (eu, você, a pedra, o ar), sim. Nós colocamos em movimento a "engrenagem" do mundo (a Roda de Samsara) e somos responsáveis por sua manutenção. Se fazemos nosso trabalho errado ou displicentemente, a engrenagem defeituosa (ou mal operada) será nossa responsabilidade moral, e de alguma forma teremos de arcar com as (Geralmente no fim da "linha de produção", tendo de ser obrigado a consumir um produto de má qualidade ou defeituoso que você mesmo ajudou a criar.) conseqüências(*) disso, o que nos obriga a consertá-la. Notem que não tem nenhum velhinho de barbas brancas julgando ninguém. Os empregados não ficam levando bronca do dono da fábrica, do mesmo modo que as crianças do jardim de infância não seguem diretamente as ordens do dono da escola: afinal, ele tem outras coisas com o que se preocupar, como OUTRAS escolas, por exemplo...
Quando morremos deixamos nosso veículo carnal voltar à Terra, de onde veio (do pó ao pó), e sobram outros corpos mais sutis, que com o tempo vão se (Não curto muito essas "regrinhas metafísicas", mas dêem uma olhada na doutrina Teosofia que lá explica de forma bem didática.) decompondo(*). Ora, se a vida aqui é uma droga, porque não há de ser melhor do "lado de lá"? Vemos na doutrina espírita relatos dos planos superiores, e mesmo nos planos mais próximos a nós (como na cidade espiritual Nosso Lar) já é uma maravilha! Por que então nossa evolução não se processa lá mesmo?! Não seria muito mais fácil, prático? Lembraríamos dos nossos erros do passado e faríamos as pazes com os nossos inimigos, porque saberíamos as consequências com antecedência! Muito bom, né? Será que Deus não pensou nisso?
Visto assim, até parece que nós somos melhores administradores que Ele... aí é que entra a "sacanagem de Deus", porque o "dono da escola" passa de ano não aqueles que aprenderam a teoria, mas sim os que DOMINAM na PRÁTICA o assunto. Ele quer que as pessoas sejam livres para errar e acertar, para que cada um aprenda no seu próprio ritmo, mas tendo de arcar com as conseqüências de suas escolhas. Com o tempo aprendemos que o bem que fazemos aos outros retorna (de algum modo) para a gente, então a bondade surge de forma natural, espontânea, até mesmo egoísta. Só que, para a evolução do espírito, a "bondade raciocinada" é apenas um nível de bondade artificial que não resiste às provas da vida. Então a pessoa terá de provar que consegue ser coerente com seus princípios espirituais mesmo só levando porrada da vida! É o que leva muita gente a se questionar: "eu sempre fui uma boa pessoa e só levo na cabeça?! Que desgraça eu fiz na outra vida?" Às vezes nada de mais, só que você mesmo pediu as provas para serem enfrentadas NESTA encarnação, como se eu, estando no meio do ano letivo do jardim de infância, me sentisse apto a fazer num só mês todos os trabalhos propostos pelos professores para o resto do ano.
Ele (se é que podemos chamar o TODO de "Ele") não quer ver um padre ou um monge budista enclausurado, lutando consigo mesmo por toda uma vida contra as tendências da carne e superando-as apenas pelo medo, pela repressão (interna ou externa), pela religião ou pela falta de oportunidades. Um bispo como esse perdeu toda a sua vida sustentando uma farsa contra ele mesmo!! Melhor se tivesse assumido, e sido um bom marido/mulher, sei lá! E o pior: se matar por vergonha ou orgulho não vai resolver nada! O desafio continuará no "outro lado" porque surgiu DENTRO dele, permanecerá com ele e voltará à Terra novamente, em condições piores (por causa do suicídio e das coisas que deixou incompletas) e terá de resolver-SE intimamente, com todas as pressões da família, da sociedade, da religião, etc.
Mas, novamente, por que não posso fazer isso desencarnado? Poder até pode, mas o "ambiente" não é dos mais propícios. Indo para o plano astral, o controle das emoções é mais difícil, tudo é mais plástico (no sentido de moldável) e quase não há "atrito". Se você está num plano mais elevado, o clima do ambiente "contamina" você, e é por isso que não há problemas de espíritos trevosos fazendo "arrastão" nos planos superiores, porque a própria vibração do local é um impedimento pra eles, como um peixe que não pode viver fora do mar. Do mesmo modo, os seres que vivem nos planos superiores (Daí o sacrifício de Jesus, que - segundo Ramatis e Oráculo - levou mais de mil anos somente na sua "descida" vibratória pra poder encarnar aqui.) penam horrores(*) quando precisam se manifestar nos planos mais (Não é o caso dos espíritos que atuam nos planos perto da crosta. Devemos lembrar que a famosa cidade espiritual de "Nosso Lar" ainda se situa nos planos umbralinos, próximos à Terra.) densos(*). Então é difícil para um assassino ou egoísta em potencial manifestar suas "qualidades" no plano astral, porque ele não terá estímulos pra isso.
A têmpera do aço se forma através do choque de temperatura: frio x calor. Dualidade. Ao experimentar os extremos o aço pode atingir o equilíbrio entre rigidez e flexibilidade. Como o bambu, que é rígido e ao mesmo tempo flexível. Como o Mestre, que é sábio e ao mesmo tempo sabe que nada sabe. Todo o pensamento Zen budista se volta para essa arte de "andar na navalha da vida".
Em sua forma imaterial, o espírito é livre, mas pouco efetivo. Como um pensamento que, se não for colocado em prática, não é mais do que um pensamento. O que ele contruir no plano imaterial não durará enquanto não houver o pensamento alimentando a forma. Tomemos o Pinky e o Cérebro como exemplos: eles são ratos inofensivos que possuem índoles diferentes. Dentro de suas gaiolas, não são mais do que ratos de laboratórios, e seus pensamentos são ignorados pelo mundo. Mas digamos que se dê a cada um deles um Mecha, um robô gigante (tipo um EVA, já imaginaram?). O que o Cérebro vai fazer? TENTAR DOMINAR O MUNDO! (Claro). E o Pinky provavelmente vai brincar de boneca com a Estátua da Liberdade. Assim é o espírito quando encarna. Na Terra, ele pode transformar seus pensamentos em trabalho, energia, graças à "maquinaria pesada" do corpo físico. Some-se a isso o "véu do esquecimento" e teremos velhos inimigos do passado se digladiando e se matando sem saberem ao certo o porquê. Injusto? Não. "Não saiba tua mão direita o que faz a tua esquerda". Os porquês não justificam as ações.
Ações valem mais do que palavras...