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A verdade sobre nossa infância

por Rosemeire Zago em Corpo e Mente
Atualizado em 08/04/2020 11:35:08


Há anos escrevo sobre a teoria de Jung, apesar de estudar há tempos também a teoria de Alice Miller, leitura que considero imprescindível para quem quer entender sobre as consequências no adulto dos maus tratos durante a infância, para pais que não querem repetir em seus filhos os próprios sofrimentos sofridos e, principalmente, para profissionais que trabalham com saúde mental.

É sobre os livros de Alice Miller que pretendo escrever alguns artigos. Nascida em 12 de janeiro de 1923, doutora em filosofia, psicologia e filosofia. Seu trabalho é notável pelo enfoque em abuso infantil. Escreveu 13 livros, traduzidos em 30 idiomas, e alguns deles traduzidos para o português e publicados no Brasil. Faleceu em 14 de abril de 2010.

Alice Miller acredita que sua descoberta, apesar de seus aspectos trágicos, contém opções realmente muito otimistas, porque abre a porta para a consciência da realidade da infância e, portanto, para a libertação de suas conseqüências destrutivas. Ela diz: "Através do conhecimento da nossa história e nossos sentimentos, podemos conhecer a pessoas que somos, e aprendermos a dar-lhe o que é vital, e muitas vezes nunca recebemos dos nossos pais: amor e respeito".

Ao nascer, cada bebê vem com uma história própria, a história dos nove meses entre a concepção e o nascimento. Isso é muito importante, pois muitos pais não sabem da importância que tem conversar com o bebê ainda na barriga. Além disso, as crianças têm o código genético que herdam de seus pais. Esses fatores podem ajudar a determinar que tipo de temperamento uma criança terá, suas inclinações e predisposições. Mas o caráter depende, fundamentalmente, se a uma criança é dado amor, proteção, carinho e compreensão ou expostos à rejeição, frieza, indiferença e crueldade nos primeiros anos de formação. O estímulo indispensável para desenvolver a capacidade de empatia, por exemplo, é a experiência de carinho. Na ausência de tais cuidados, quando uma criança é forçada a crescer negligenciada, emocionalmente carente e submetida a abuso emocional, físico ou sexual, vai perder essa capacidade inata. Uma criança traumatizada ou negligenciada pode, quando adulta, saber que pode lidar com os efeitos, com os trauma de infância.

Quero começar por 3 conceitos que ela cita em seus livros:
- Pedagogia negra: educação que visa a dobrar a vontade da criança, transformando-a num ser submisso e obediente, por meio do emprego explícito ou velado do poder, da manipulação e da repressão (termo utilizado pela psicologia: ato de reprimir, conter, deter, impedir e punir um indivíduo). Quantos de nós fomos vítimas da pedagogia negra quando crianças, sob a justificativa: "é para o seu próprio bem?" Infelizmente, até hoje o que muitos chamam de educação, seja praticado com humilhações, castigos corporais e consequências graves: negação do sofrimento e de todos os sentimentos.

- Testemunha auxiliadora: é uma pessoa (tia, avó, irmãos, vizinha, empregada, babá, professora) que ajuda a criança maltratada ou negligenciada, ainda que de forma esporádica, oferecendo-lhe apoio, amor, carinho, sem a intenção de manipulá-la com a finalidade de educá-la, confia nela e transmite-lhe a sensação de que não é má e que merece ser tratada com respeito. Muitas vezes a criança acredita que é maltratada porque é má, que ela é quem é culpada por apanhar, ser xingada, abusada, negligenciada, levando esses sentimentos por toda sua vida, comprometendo sua noção de valor (autoestima), e até suas escolhas. Essa testemunha será muito lembrada quando adulta, descobrindo a diferença que o amor dessa pessoa fez em sua história. Muitas repetições de padrões são rompidas devido a essa testemunha.
Em casos em que essa testemunha for totalmente ausente, quando adulta, poderá usar a violência em que foi tratada quando criança em seus próprios filhos, empregados etc.. Alice estudou a infância de Hitler e não foi encontrada nenhuma testemunha auxiliadora.

- Testemunha conhecedora: é uma pessoa que conhece as consequências da negligência e do abuso sofridos pela criança. Na vida adulta, a testemunha conhecedora pode representar um papel semelhante ao da testemunha auxiliadora na infância. Pode ajudar transmitindo aos adultos que sofreram algum tipo de abuso na infância, empatia, acolhimento, validação dos sentimentos, ajudando-as assim a entender melhor suas histórias, seus sentimentos de medo e impotência, para que agora adultas possam ter mais liberdade em suas escolhas, libertando-as das consequências do sofrimento do passado. Dentre as testemunhas conhecedoras estão alguns psicólogos, professores esclarecidos, escritores.

Continuar...



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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