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Como enfrentar a solidão causada pela separação

por Rosemeire Zago em Corpo e Mente
Atualizado em 25/02/2010 13:01:13


Quando passamos por uma separação, o mais indicado para a recuperação é a consciência do que ocorreu e do que está sentindo. Digo isso porque muitas pessoas acabam um relacionamento e logo em seguida, quando não antes de acabar, já estão entrando em outro, o que pode gerar a longo prazo muita confusão, insegurança. Todos sabemos que separar não é nada fácil, requer acima de tudo muita maturidade, pois em geral há muitas pessoas envolvidas, muito mais que o simples casal. É um momento marcado por muita confusão, dúvidas, com a única certeza do desejo de querer paz e ser valorizado por tudo aquilo que se tem de melhor. Durante o período da saudade, vive-se uma alternância de raiva e tristeza. Raiva pelo que aconteceu e da forma que aconteceu e tristeza por tudo de bom que se viveu e não vive mais. A saudade é pelos momentos bons vividos, esquecendo-se muitas vezes do real motivo que motivou a separação.

Conseguir examinar a relação passada com objetividade e serenidade não é uma tarefa simples, principalmente para quem não está acostumado a refletir e analisar suas próprias emoções e sentimentos. Mas é o caminho que poderá aumentar a consciência de si, dos próprios limites, e evitar buscar culpados como algumas pessoas tendem ao final de um relacionamento, sem jamais chegar de fato às causas dos problemas que aos poucos foram se instalando.

É preciso analisar com o maior distanciamento possível a relação passada e avaliar os fatores que influenciaram essa decisão, compreendendo o passado, tudo que ocorreu, lembrar de fatos e o que levou cada um a tomar as atitudes que foram tomadas e analisar principalmente, em que ponto seu próprio crescimento foi interrompido, como também os sentimentos que foram despertados pelo outro durante o relacionamento. Enfim, a separação pode ser marcada pela oportunidade de refletir sobre tudo que se viveu, se permitiu viver e aprender a valorizar a capacidade de crescer cada vez mais, é definitivamente sair da zona de conforto.

Algumas pessoas se separam com muita certeza do que querem; mas outras, no entanto, fazem por pura impulsividade, num momento de nervoso, e muitas vezes apenas com o intuito de fazer o outro levar um susto, e não pensam muito em como irão se sentir com essa decisão e quando percebem já estão separadas e sentindo muita dor. Por isso, é preciso muita reflexão e diálogo antes de tomar uma decisão.

Uma das características da separação é deparar-se com a solidão. É ter que enfrentar tudo aquilo que muitas vezes escondeu por anos de si mesmo. O medo de olhar para dentro de si é tão profundo que algumas pessoas evitam a separação, e outras só conseguem se separar quando já estão envolvidas com outra pessoa, tudo para não sentir a própria dor. Ainda que existam filhos, há a solidão em estar sozinho com os próprios sentimentos, medos, dúvidas, tristezas, e tudo mais que a separação provoca. Esse é um dos motivos que pode fazer uma pessoa envolver-se com outra logo após uma separação: o medo de ficar só. O mais aconselhável é dar um tempo para si mesmo, pois só estará efetivamente aberto para uma nova relação a dois quando for capaz de enfrentar a vida sozinho, a menos que já tenha a certeza de que a relação passada não deixou nenhum vestígio, o que raramente acontece. Envolvendo-se muito rápido num novo relacionamento, corre-se o risco de levar consigo todos os comportamentos negativos da relação passada. É como se a falta de vínculo com outra pessoa criasse um vazio enorme, onde a vida parece sem sentido e nada vale a pena, sentindo que só voltará a viver se tiver outro relacionamento.

Enquanto estão sozinhas, muitas pessoas recorrem ao uso de álcool, drogas, comida em excesso ou deixando de alimentar-se como uma fuga, ainda que muitas vezes inconsciente, de uma realidade dolorosa. Mas com certeza, não é negando nem fugindo do que se sente o melhor caminho para se livrar de toda a dor. Pois nessa fuga incessante de si mesmo, não se permitindo refletir sobre seus sentimentos e sua realidade, irá manter cada vez mais seu sofrimento e adiar a tão sonhada paz, pois a tendência será repetir na nova relação muitos dos comportamentos que havia na anterior.

O sentimento de solidão na maioria das vezes provoca muita angústia e traz um forte sentimento de autodepreciação e insegurança, com pensamentos freqüentes de que nada vale, e que ninguém o ama. O que não é verdade. É preciso se lembrar de quando a relação começou. Havia sonhos, desejos, ilusões, e que por alguns motivos, deixou de existir. Um dos dois, ou ambos, em algum momento deixou de cuidar do que um dia foi tão importante.

O medo da solidão pode surgir por não sentir prazer em ficar só consigo mesmo. Como ficar com alguém que é tão mau, constantemente abandonado, rejeitado, desprezado? Por isso tende a fugir desses sentimentos tão devastadores, e ao invés de eliminar a angústia, alimenta-a ainda mais. É preciso ter consciência que nada adianta manter esses pensamentos de si mesmo, pois com certeza eles não refletem a realidade. Nem se trancar em casa e fechando-se, deixando que o desespero e as lágrimas tomem conta. Como também não irá melhorar ficar sem comer, ou comer em excesso, ou ocupar-se com a vida de outras pessoas, tudo isso só irá agravar esse momento tão delicado. Essa fuga de nada adianta pelo simples fato de que se pode fugir de tudo, menos de si mesmo e do que está sentindo. É claro que nem todas as pessoas se dão conta de que estão fugindo, pois justificam para si próprias a necessidade de agirem de tal forma. É essencial se convencer de que ficar sozinho pode ter muitas conquistas importantes, como permitir a introspecção, a reflexão dos fatos, e principalmente, um maior encontro com seu verdadeiro eu. Viver sozinho não significa necessariamente sentir-se só. Afinal, quantas vezes não se sentiu sozinho mesmo quando estava com o ex-companheiro? Ou com amigos e familiares? Não confunda a solidão física com a emocional, pois só se sente só quem abandona a si mesmo. A solidão nasce dentro da própria pessoa quando ela perde o contato com seu eu interior ou quando procura fugir de um problema, sentimento ou pensamento que a incomoda.
Pense em quantas coisas você deixou de fazer algo que queria porque o ex não gostava ou por falta de tempo? Logo após uma separação é comum haver uma disponibilidade de tempo que parece assustar e fazer com que se sinta imobilizado, mas passado o período de adaptação poderá descobrir as inúmeras coisas que poderá fazer por si mesmo. Ao se separar irá ter muito mais tempo para fazer coisas que gosta e que nem se lembra mais. Por que não visitar uns amigos, ler aqueles livros que comprou e sequer os abriu, dedicar-se a um hobby, fazer um trabalho voluntário? São pequenas coisas que poderão aos poucos lhe trazer de novo o prazer de viver. É importante perguntar-se: “o que eu gosto de fazer”? E ir fazer! Lembre-se de amigos que deixou no decorrer do caminho. Lembre-se que havia uma vida antes de você namorar, casar. Resgate sua vida, agora mais do que nunca, só sua!

De fato, os momentos de saudade e tristeza pelas lembranças do passado são inevitáveis, mas é importante vivê-los consciente de todo o aprendizado, e dar ao passado o direito de existir sem que para isso precise te destruir. Ninguém pode evitar a sensação de abandono e a falta de quem se foi faz em sua vida, mas também ninguém pode te privar de que sinta uma força interior que aos poucos irá adquirir ao se permitir estar em paz consigo mesmo. E isso não tem preço!



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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