Felicidade
por Thais Accioly em Corpo e MenteAtualizado em 08/04/2020 11:35:01
O que me faz feliz?
É possível sofrer e manter um estado de felicidade?
É melhor sofrer ou dopar o sofrimento para ser feliz mais rápido? Ou ainda, existe felicidade fast-food?
É possível me sentir feliz se assumo posicionamentos ou atitudes não éticas?
Prazer e felicidade são a mesma coisa? Andam juntos?
Onde está a felicidade?
Ou, o que é a felicidade?
Perguntas que todos já nos fizemos ou que nos fazemos constantemente...
Mas também filósofos, psicólogos, religiosos, antropólogos, sociólogos, políticos, educadores, jornalistas e até economistas já escreveram sobre o tema, já pesquisaram o tema e buscaram respostas.
Uma coisa em comum, os mais atuais concluem: vivemos em tempos de pouca felicidade. A tecnologia, os avanços científicos, da comunicação ou políticos não trouxeram ainda ao homem e à mulher um estado permanente de felicidade. Referência de leitura: Felicidade - Eduardo Gianetti - Ed. Companhia das Letras.
Nosso planeta é local de grande beleza, de imensas diferenças e semelhanças, num equilíbrio dinâmico e intenso. Mas também é palco de muito sofrimento. Não somente o causado pelo homem e pela mulher. Mas também, aquele resultante do viver. Nosso corpo sente dor, fome, frio, calor, coceira, sede, pode sentir angústia, tristeza, raiva, medo. Sim, nosso corpo sente. É um corpo emocional, bioquímico, repleto de hormônios que alteram nosso humor dependendo do que comemos, bebemos, fazemos, sofremos.
Sofrer faz parte do viver, ensinam os budistas. A filósofa francesa Chantal Thomas, em seu livro Souffrir diz que "sofrer de amor nos torna invencíveis".
Há sofrimentos que necessitam de tratamentos médicos, psicológicos ou psiquiátricos, o que é diferente de "dopar" o sofrer. Isso não nos traz felicidade, somente um descanso temporário, às vezes, até indicado para nossa recuperação.
E quando sofremos o que fazer?
Segundo Chantal Thomas, sofrer sem perder o sentido da vida, aproveitando o que de melhor a vida nos pode oferecer, ajuda-nos a superar o sofrimento e a nos fortalecer.
É preciso enfatizar que prazer e felicidade também não andam sempre juntos, ensina Sua Santidade Dalai Lama em seu Best-seller: A Arte da Felicidade.
Há muitas coisas que dão imenso prazer e causam muita infelicidade para nós mesmos ou para os outros.
As drogas, de forma geral, são muito prazerosas e causam destruição da personalidade, do grupo social onde o indivíduo está envolvido, quando não sua morte, além de financiar o crime organizado no Brasil e no mundo. Isso só como um exemplo.
Um remédio como a quimioterapia, por outro lado, é desagradável de se receber, de se ingerir, traz mal-estar momentâneo, mas sempre que possível traz consigo a cura ou sua probabilidade, gerando no mínimo esperança, e esta esperança pode alicerçar a felicidade de alguém.
Portanto, quem busca no prazer sua fonte de felicidade pode ter pegado a estrada errada.
Agora, como pode pretender o homem e a mulher serem felizes sem serem éticos? Falo aqui da ética da amorosidade, esta a mais esquecida das éticas, esta ética a qual Sua Santidade Dalai Lama dedicou um livro: "Uma ética para o novo milênio".
Não há felicidade possível sem ética, aquela construída pelo respeito a todo o senciente, com altruísmo, com compaixão e ternura, com responsabilidade por nossos atos e opiniões.
O homem e a mulher não éticos são também não coerentes, e essa incoerência gera conflitos imensos em suas mentes que impedem a possibilidade da felicidade.
Na prática da crueldade, há muito poder e prazer. O que gera uma falsa sensação de felicidade.
Na prática da tolerância e da compaixão, pode haver uma sensação irreal de fraqueza ou de perplexidade, mas o estado íntimo, de vitória sobre si mesmo, leva à conquista de um estado de espírito feliz.
Aristóteles caracterizava a felicidade como um objetivo visado por todo ser humano e esta felicidade também poderia ser entendida como um bem-estar, principalmente, com relação a algo que se realiza. Para este filósofo, a noção de felicidade é central à ideia da ética, porque ela só ocorre quando se obtém algo que foi bem feito, correspondente à excelência humana e esta seria dependente de uma virtude ou de uma qualidade de caráter que tornasse possível sua realização.
Assim, acreditem, ética e felicidade andam de mãos dadas.
Por fim, não posso deixar de dizer que felicidade, como ensina o filósofo, educador, teólogo Rubem Alves, anda onde está o menino que vive em cada um de nós... Porque responsabilidade e seriedade nada têm a ver com sisudez, ranzinzices ou mau humor.
Ensina-nos Rubem Alves que quando nos tornamos adultos e vestimo-nos como tal, às vezes, começamos a nos comportar de um jeito mal-humorado, chato, aborrecido e isso, segundo o autor, é uma doença grave chamada adultice, e para se curar só tomando chá de criança. Aí, dá-lhe subir em árvores, chupar fruta no pé, balançar, dançar, correr, chutar bola, brincar. Esse Rubem Alves sabe das coisas.
Mexer o corpo, mexer a mente entediada. Suar de brincar, de rir, de rolar no chão com o filho, o cachorro, na areia da praia.
Voltar a pulsar, a viver.
Para ser feliz, deixe o corpo voltar a pulsar, para sentir o prazer de viver. Volte a olhar para aquele que está do seu lado ternamente, põe doçura de novo no seu olhar. Deixe sua alma voltar a amar e a ter esperança nessa sua vida.
Volte a ser pequeno por dentro. Tenha coragem... Não tenha vergonha.
Para ser feliz é preciso de pouco. Precisamos gostar muito de nós mesmos, da vida e dos outros. Manter a fé e a esperança acesas. Pulsar. Respirar. Ser ético. E claro, manter o melhor de nós vivo em cada ação, em cada pensamento: a criança que vive e saltita dentro de nós.
Felicidades a todos!!