Os objetivos do Eneagrama
por Salomão Fiks em Corpo e MenteAtualizado em 15/06/2000 14:11:20
Bom, pra que serve a gente ler e estudar o Eneagrama da personalidade? Você já imaginou que legal saber as suas predisposições para agir, para se relacionar com as outras pessoas, com o mundo? Imagine como seria bom você saber, antecipadamente o que poderia acontecer com você, e, com um pouco mais de treino, saber das reações das outras pessoas em função dos acontecimentos existenciais. Não é legal, não é jóia? Então ao se estudar o Eneagrama isto se torna possível para qualquer pessoa, com certeza! E ainda por cima de uma forma diferente, gostosa, jocosamente agradável.
Pra começar, a didática parece antididática, pois, a forma de se ministrar é a de "pisar nos calos" como dizia Gurdjieff. Algumas características dos eneatipos são facilmente reconhecíveis, outras, com alguma dificuldade e algumas, aparentemente não são reconhecíveis, como já colocamos, em função dos mecanismos de defesa.
Cada eneatipo trabalha de forma característica, como se fosse uma máquina. É praticamente um robô regulado para aquilo que é razoavelmente previsível. Isto é que possibilita o conhecimento prévio, até certo ponto, de como o eneatipo vai reagir mediante determinado estímulo. Na realidade não é exatamente aquilo que nós somos e sim, aquilo que nós estamos sendo. Cada máquina, cada eneatipo, trabalha de maneira específica e de uma forma sui generis. Afinal, o ser humano não é muito criativo em relação a suas neuroses. Elas podem ser reunidas e classificadas com certa facilidade... Assim, cada máquina, cada eneatipo, trabalha de uma maneira específica e reduzida para determinadas opções, restringindo a verdadeira visão da realidade objetiva. Isto faz com que nossa vida, nossas decisões e opções, acabam se baseando em hábitos que são o resultado de treinos altamente sofisticados durante a nossa vida, principalmente na primeira infância e na adolescência. Na realidade o nosso livre arbítrio, não é tão livre assim. Ele é altamente contaminado. Assim, a motivação, que é a alavanca que move o mundo, é sempre usada pelo ego, no sentido conseguir aquilo que ele deseja, já, no aqui e agora, do jeito característico dele. Isto vai acarretar um prejuízo da própria essência da pessoa.
Cada eneatipo tem um roteiro inicial básico, onde tudo o que acontece na sua vida passa, necessariamente por um filtro que é o problema básico do eneatipo e que denominamos de VÍCIO PSICOLÓGICO. Uma das maiores dificuldades que as pessoas tem, é a de reconhece-lo. É um atributo negativo, muitas vezes considerado inaceitável, inadmissível, duro de reconhecer e trabalhar com o que ele representa. Não é uma coisa que nos acompanha como uma sombra, é mais do que isso. Nós somos o próprio vício. É por isso que é difícil trabalhar com ele. É um verdadeiro camaleão se escondendo de nossa percepção. É sutil e nos engana, fazendo com que a nossa maquina trabalhe sempre do mesmo modo, impedindo que alguns arranjos ou modificações importantes sejam feitos.
Tem-se a impressão que é assim mesmo que a máquina deve trabalhar e nada deve e pode ser modificado. Todas as engrenagens parecem estar perfeitamente corretas e bem acopladas. Assim, o eneatipo cai na armadilha, automaticamente, Cheio de justificativas muito bem elaboradas pelos mecanismos de defesa do ego. A forma de evitar cair na armadilha é estar sempre atento e conscientizar, na hora e momento que o evento esta para acontecer. Isto exige, é claro, muito empenho e treino. Com o tempo, acontece tão natural e automaticamente quanto acontece com os mecanismos de defesa. Isto requer uma atenção especial e abrangente nas vivências, nos acontecimentos do aqui e agora, pois cada eneatipo tem uma tentação de agir de acordo com as orientações egóicas do seu inconsciente. Não se trata de uma impulsão e sim de uma verdadeira compulsão de realizar, de vivenciar os acontecimentos, de acordo com os ditames previamente estabelecidos para o funcionamento da maquina, do robô.
Para ocorrer um crescimento é necessário fugir desta compulsão, o que é dificultado pelos mecanismos de defesa que complicam e até impedem o afloramento da verdadeira essência do eneatipo. Ele só conseguirá atingir sua verdadeira natureza quando conseguir atingir o chamado de sua consciência para desprogramar a máquina e reprograma-la de uma forma diferente e mais adequada. Cada eneatipo tem o seu "script", seu roteiro de vida, que indica a maneira de atuar e de perceber o mundo de tal forma que se estabelece um padrão que acaba conduzindo a um vício psicológico limitativo quanto às ações e opções possíveis, em função das informações que o mundo transmite. O eneatipo pode chegar a um ponto de stress, de tensão, quando acontece um questionamento egóico, quando ele é percebido, ou se percebe como um farsante. O "script", o roteiro interiorizado, entra em conflito com a realidade objetiva. Isto pode levar, se não for bem elaborado, a um distúrbio psicológico, inerente e característico a cada eneatipo.
Bom... ta muito complicado? Ta chato? Será que você já esta resistindo a uma eventual possibilidade de autoconhecimento? Olha!... Descansa, depois dê uma relida, marque as coisas que foram significativas, as que você não entendeu bem porque foram mal explicadas, as que você não concorda, as perguntas que gostaria de fazer, enfim, tudo que achar importante e pertinente, sem bloqueios mentais, ta bom? Então vamos continuar mais um pouco.Repetindo a pergunta, de outra forma: porque é necessário, mas não suficiente, descobrirmos o nosso eneatipo? Porque assim poderemos reconhecer e perceber a nossa verdadeira essência. Um trabalho psicológico poderá reverter o funcionamento robotizado da máquina e, assim poderemos chegar a maturidade, a uma evolução ou a uma redenção, como dizem certos autores, o que poderá proporcionar um auto- encontro feliz...
De novo, vou interromper um pouco a seqüência, para abrir um parêntese que acho muito importante. Não fica chateado ta? Supondo que você esteja interessado, genuinamente, em conhecer o seu eneatipo, é muito bom, muito saudável, que você esteja a par do que costuma acontecer, estatisticamente, no meu consultório.
Quando eu atendo em meu consultório (sou psicólogo clínico, psicoterapeuta de adultos e adolescentes, individual e grupos, terapia de casais e familiar) , para a maioria dos clientes, fazendo parte do processo psicoterapêutico, eu introduzo o Eneagrama. Depois de um acompanhamento teórico prático, eu entrego um relatório de 35/40 páginas. Muito bem. Dependendo do eneatipo dos clientes observo reações diferenciadas.
Alguns pedem para ficar na sala de espera para ler o relatório, ligam ou esperam entre as sessões para perguntar algo, enfim, se envolvem com o relatório de maneira intensa. Outros levam o relatório e esquecem debaixo do banco do automóvel, ou colocam numa gaveta que quase nunca é aberta. E, entre estes dois extremos temos variações de graus de envolvimento.
Uma parte significativa de todos os eneatipos, após a leitura e discussão dos mesmos, têm uma postura de: "pronto, eu já sei como eu sou" (e nada mais há o que fazer). Nenhum caso, entretanto, até hoje, fez algum comentário de que "não tem nada a ver comigo". Ferramentas existem para facilitar um trabalho específico a que elas são destinadas. Quanto mais precisas e pertinentes, mais fácil será executar o trabalho.
O Eneagrama é uma das melhores ferramentas que existem para se atingir um autoconhecimento, para se chegar a uma conscientização, tão próxima do ideal possível, de conseguir transformar cada momento de nossa vida num instante terapêutico... Mas tem que saber usar a ferramenta com adequação, senão ela vai destruir o trabalho a que ela se destina, pois se for usada sem um treino e conhecimento adequado ela se tornará uma arma destruidora em vez de facilitar a construção de algo produtivo. Certo? Então, onde eu quero chegar? Na MOTIVAÇÃO. Para conseguir alcançar um objetivo precisamos, antes de qualquer coisa, estar muito motivado e, em segundo lugar precisamos ser muito perseverantes, pois o fracasso faz parte da procura de um objetivo. Um, ou mais fracassos fazem com que consigamos alcançar um objetivo de maneira plena e mais amadurecida, mais vivenciada, pois, todo sucesso resulta de um grande e adequado empenho, cheio de sucessos e fracassos.
Pensa, pensa bem! Você deve ter alguns objetivos na vida. Alguns, talvez já foram alcançados, outros estão sendo trabalhados, eventualmente, outros foram abandonados. Estou me referindo a coisas tipo: ganhar uma promoção na empresa, ganhar mais dinheiro, parar de fumar, emagrecer alguns ou muitos quilos, ser reconhecido e apreciado... enfim, um monte de coisas. Vamos viajar um pouco e vamos para a história, por exemplo. Vamos lembrar de um tal de Marconi que foi internado num hospício porque queria e queria muito, de qualquer jeito, transmitir um som, sem fios, através de um aparelho que chamou de radio. Ou então de um tal de Thomas Edisom que não desistiu enquanto não achou um filamento que pudesse ficar incandescente que foi chamado de lâmpada elétrica. Ou, ainda se lembrarmos do grande estadista assassinado, Abraham Lincoln que, honestamente se candidatou tantas e tantas vezes que acabou se elegendo presidente dos E.E.U.U., ou então de Copérnico ou Ptolomeu (eu nunca sei se é um ou outro), que declarou enfaticamente que a Terra era redonda quando todos os cientistas acreditavam que era plana...
Enfim, a motivação e a conseqüente perseverança é, sem dúvida, a alavanca que move o mundo. Então se você esta a fim de se encontrar com o seu EU interior e torna-lo um Eu melhor, tem que treinar, tem que acreditar que isto é possível e que um eventual fracasso de não conseguir rapidamente, deve ser encarado como fazendo parte de um caminho que esta cheio de surpresas e encruzilhadas. Então, não se trata de tentar, e sim de insistir. Não há fracasso maior do que o fracasso de não ter insistido (e não de ter tentado) porque mesmo com fracassos eventuais, não há erro insistindo chegamos lá!