18º Encontro da Nova Consciência
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 05/03/2009 16:37:47
O Destino quis porque quis que eu participasse do 18º Encontro da Nova Consciência, que se realiza anualmente em Campina Grande, Paraíba.
Novamente me vi perambulando pelas salas sem saber qual era o tema e tendo boas surpresas, como no filme Waking Life. Desta vez a grande "descoberta" pra mim foi a Filosofia Perene, numa ótima palestra que eu pretendo futuramente abordar aqui no blog. Me admirei também com a palestra Fisiologia Transdimensional, de Décio Iandoli Júnior, por ele, sendo espírita, ter optado por uma abordagem totalmente universalista, dando vários sinônimos para os termos usados pra explicar a metafísica. Lamentei por não ter podido participar do encontro de ateus e agnósticos, especialmente as palestras "Charlatanismo quântico" e "Uma viagem pela pretensão do livre-arbítrio", cujos títulos são, no mínimo, instigantes. Aliás, amei o fato de que, com a confusão reinante (explico mais abaixo) o mestre de cerimônias do encontro foi um ateu, o escritor Ricardo Kelmer. É lindo ver como a União faz a Força, e isso ficou ainda mais claro nesta 18ª edição, pois aconteceram fatos políticos tristes que quase destruíram todo o encontro.
Tudo começou quando o governador e o vice da Paraíba foram cassados por usar a máquina pública pra se (Espero que cassem a Dilma Rousseff, caso seja eleita, pelo mesmo motivo.) reeleger(*), então o dinheiro que estava destinado ao evento não foi entregue pelo "governo" da Paraíba. Pra piorar, a Prefeitura de Campina Grande também não destinou a verba que sempre destinava, e isso quase afundou o evento, que de última hora teve de cortar a maioria dos convidados de outros estados, alterando todas as palestras um dia antes!! Fala-se que o dinheiro não foi entregue por picuinha, pois tanto o governo quanto a (`Coincidentemente´ o prefeito de Campinas, Veneziano Vital do Rêgo, é evangélico.) prefeitura(*) deram dinheiro para o evento paralelo que é o da "Consciência Cristã". Ora, o Nova Consciência surgiu 7 anos antes, se estabeleceu como um marco para o estado, JÁ incluía a consciência cristã em seu bojo, mas os "cristãos", não satisfeitos com INTEGRAÇÃO com outras religiões, resolveram fazer seu próprio evento, em paralelo e exclusivo de uma única denominação religiosa (evangélicos), fazendo com que parte dos recursos que seriam aplicados no Nova Consciência fossem pra eles, o que é estranho, haja visto que a Constituição Federal proíbe a subvenção para cultos religiosos ou igrejas. O slogan deles desse ano era "Uma visão cristocêntrica". Pelo menos foram sinceros em admitir que são bitolados e anti-ecumênicos. Resta saber o que todos os outros cidadãos da Paraíba que não são evangélicos acham disso (Ministério Público, alguém?). Me contaram que ônibus com os supostos "cristãos" vaiavam as pessoas do Nova Consciência, ao passar pela frente do local. E o grupo que organizou o evento supostamente "cristão", o "Visão Nacional para a Consciência Cristã" (Vinacc), dias antes espalhou outdoors em Campina Grande - supostamente contra contra o Projeto de Lei que criminaliza a Homofobia - já sendo homofóbico:
Pelo direito de xingar um homossexual
Uma passeata de protesto foi organizada e órgãos públicos e ONGs que apóiam os direitos humanos conseguiram uma liminar para retirar os outdoors.
Ainda na esteira da intolerância, um grupo de pessoas entrou no espaço reservado para as palestras judaicas (Amigos da Torá) e exibiram cartazes ou faixas (não sei) com dizeres agressivos, comparando a política israelense com o nazismo. Particularmente eu penso o mesmo, mas não acho correto entrar na casa de alguém que abre suas portas ao público e ficar xingando o dono, ESPECIALMENTE num evento que tem por mote a união, o diálogo interreligioso e, nos últimos anos, (Anime, RPG, homoerotismo e hip hop não são religiões, mas estão bem integrados ao evento.) intersocial(*). Para além das nossas diferenças de credo, cor, raça, costumes e modo de agir, somos cidadãos do MESMO planeta, obrigados a viver "juntos" neste mundo que está cada vez menor, cada vez mais integrado, com ações que reverberam em outros pontos, por mais longe que você estiver (basta ver a crise econômica).
No fim, o bem triunfou. A festa terminou com todos na rua, cantando em volta dos Hare Krishnas, que eram acompanhados em seu mantra por um tambor de maracatu, um pandeiro e a batida de música eletrônica de um DJ. Algo que não se vê (e ouve) todo dia...
Espero que as próximas edições do Encontro da Nova Consciência possam enterrar esse vínculo com políticos (já foi dito que um grande patrocinador vai bancar o próximo encontro) e deixar de lado os ataques "cristãos", buscando sempre bater na tecla, cada vez mais alto, de que é IMPERIOSO ter pontos de contato não só entre as religiões, como com a diversidade (cultural, social, regional, etc), pois, como dizia um barbudo: "quem não ajunta, espalha". E espero que isso valha também para os comentaristas do blog, que busquem mais diálogo e menos controvérsia, mais informação e menos discussão, mais amor e menos animosidade, afinal vocês são a vitrine do que praticam (seja você ateu, budista, livre-pensador ou católico), e estamos todos aqui para partilhar conhecimento, ter uma boa conversa, fazer amizades (quem sabe?) e crescer como pessoas.
Quero terminar com uma notícia que expressa um bom exemplo de diálogo que leva a uma atitude simples, mas extremamente positiva:
A comissão mista para o Diálogo entre Catolicismo e Islamismo, que atualmente se encontra reunida no Vaticano, recomendou, em nota conjunta, que os livros escolares sejam revisados para eliminar possíveis ofensas às duas religiões.Na declaração final, publicada hoje pela assessoria de comunicação do Vaticano, a comissão destaca a necessidade de "proteger a juventude do fanatismo e da violência". Para isso, propõe que os líderes religiosos sejam "promotores da cultura da paz, especialmente quando ensinam ou pregam". Além disso, pedem a revisão dos livros escolares "para eliminar qualquer tipo de material que possa ofender os sentimentos de qualquer crente ou que apresente interpretações errôneas de dogmas, princípios morais ou a história de outras religiões".
Os religiosos pedem aos veículos de comunicação para "terem um maior papel e responsabilidade na promoção e respeito das relações entre as diferentes confissões".
