A Alma num domingo sem ninguém
por Izabel Telles em EspiritualidadeAtualizado em 26/05/2003 11:46:04
Hoje é domingo e imagino quantas pessoas estão sozinhas, imaginando quantas pessoas estão acompanhadas. Na solidão de um dia sem trabalho nos confrontamos com nossos vazios. E muitas vezes choramos. Choramos de saudades dos tempos em que não havia vazios e que a inocência era a deusa que governava os nossos destinos.
Hoje não somos mais inocentes. A brutalidade nos sacode a cada minuto para a realidade da guerra do um por um. Do olho por olho.
Eu também já fui sozinha um dia. Quando acreditava na ilusão. Nas coisas deste mundo feito pelos homens. E me sentia fora da roda da vida, da alegria e da felicidade. Foi quando decidi largar tudo e me recolher na minha mais profunda solidão e tentar encontrar lá a minha melhor companhia. E encontrei. A mim mesma. A minha alma. E ela não estava vazia. Estava repleta de imagens maravilhosas do tempo da inocência. Do tempo em que eu caminhava de mãos dadas com meu pai e a mão dele era tão forte e segura que me protegia de tudo e de todos.
Do tempo em que de manhãzinha, toda a família orava ao redor de uma xícara de café com leite quentinho e de um pão que alguém tinha ido buscar na padaria da esquina. Quem terá sido? Nunca agradecemos esta pessoa. Meu pai tomava o café com leite fazendo bolinhas com o miolo do pão e quando saia para o trabalho atirava uma mão cheia delas para os pássaros que já o esperavam na porta da casa. Meu pai era forte e bonito. Ele era meu herói. Mas ele também morreu e eu fiquei muito triste. Não na minha alma.
Minha alma guarda estas imagens dele. Hoje, neste domingo em que não estou só, fecho os meus olhos e volto à casa dos meus pais. Ele me espera na porta, com os braços abertos. E me abraça sinceramente. Sinto seu coração imenso pulsar alegre. Ele passa suas mãos sobre a minha cabeça e eu percebo ali que o mundo não importa, porque voltei para casa e estou ao lado do meu pai.
Imagino então que sou capaz de dizer a ele o que nunca tive coragem de dizer:
- Pai, eu te amo.
Imagino a resposta dele:
- Izabel, eu sempre te amei.
Obrigada mente por ser tão divina. Obrigada por me permitir entrar sempre dentro do seu território e tirar dos arquivos das minhas fotografias as imagens de que preciso para sentir que sou inocente outra vez.
Amo vocês... e um lindo Domingo.