A Casinha.... e o vazio...
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 14/02/2008 18:24:59
"Eu não posso guiá-lo, mas posso colocá-lo diante de um abismo que colocará à prova todas as suas habilidades. Dependerá de você se, se lança ao vôo ou se corre para se esconder na segurança de suas rotinas".
Carlos Castaneda
No dia seguinte e no outro tentei voltar à casinha para me lançar no vazio... mas me dispersei... Essas coisas não acontecem da forma que queremos... não adianta forçar...
E foi assim que no terceiro dia senti um chamado tão forte que larguei tudo o que fazia e me deitei para seguir com a jornada...
Assim que fechei os olhos e relaxei, vi que estava sendo chamada por um homem... um pai... Parecia uma mistura do meu pai daqui com o pai das estrelas... ele estava com uma lamparina na mão dentro de uma caverna... Foi dali que me chamou para acompanhá-lo...
Assim fiz e me vi dentro de uma enorme caverna de pedra seguindo aquele homem pai com a lamparina na mão... percebi então que nos lados da caverna muitas pessoas dormiam no chão... e ele me guiava por uma espécie de corredor entre essas pessoas... Ele me faz sinal levando o dedo indicador aos lábios e fala:
- Silêncio, porque elas precisam despertar...
Vejo que são muitas pessoas dormindo... passo em silêncio por elas e ele me indica uma caverna ao lado.... e me faz lembrar de um sonho...
Agora já me vejo dentro de um sonho que tive, não sei quantos anos atrás... e do qual nem me lembrava mais, no qual me encontrava em uma caverna de pedras e falava assim
- Já faz muito tempo que deixei meu corpo na outra caverna, então isso é um sonho... se é um sonho eu posso voar... Vejo-me voando sobre uma floresta onde árvores enormes emanavam Vida... Desfruto de toda aquela força da natureza... quando me dou conta que estava voando em cima de uma estrada onde muitas crianças vinham andando como se fossem para a escola...
Eu estendo a mão e falo... como isso é um sonho eu posso criar o que quiser... e penso em uma maçã, estendo a mão para que ela apareça na minha mão... e acordo.
“Você não nasceu para o pecado. Você nasce todos os dias para a Presença de Deus; e, no entanto, repete a tolice original que está registrada em todas as suas crônicas antigas. Diariamente, você comete o Pecado original; diariamente, come do fruto proibido, e é de momento em momento que se mantém prisioneiro ao permitir que um dúbio processo de pensamento racional interfira entre você e seu sentido imediato da vontade de Deus. Foi essa a hesitação que o levou à queda inicial da graça, e é a mesma hesitação que o mantém agora em estado de Queda. Não deveria haver intervalo entre a determinação da necessidade de ação e a implementação da mesma ação. Foi essa interferência racional que o fez tropeçar na sua dança primal de confiança em Deus.
De fato, você agora dorme sob a influência daquilo que poderia ser considerado um encantamento, uma ilusão que o impede de experimentar a clareza de percepção que é o seu direito de nascença”. Ken Karey
Na época em que tive o sonho, não entendi muito, mas agora aquilo faz muito sentido com a versão que mais me satisfaz do que foi a “a queda”... As crianças chegando na escola Terra... o paraíso... e a maçã simbolizando o momento da escolha entre o dar o controle ao ego, abandonando o que acontecia naturalmente pelo fluir da Divindade... Acho que todos passamos de uma forma ou de outra por essa experiência em algum ponto da jornada...
Então o homem pai me fala que é essa parte que estou limpando... e me fala para ir além da casinha na montanha de neve...
Vejo-me sozinha de novo em frente à casa que tanto conforto me deu... entro e olho a porta que dá para o quarto bem aconchegante... mas me encaminho para a janela... e ao chegar vejo que agora... ali existe também uma porta me convidando para o desconhecido...
Sinto que a hora chegou e passo pela porta naturalmente... sem medo de me lançar no abismo.
Só que não me sinto cair, como pensei... vejo-me andando no vazio como se existisse alguma estrada invisível aos meus pés... ando no vazio onde não existe nada... nada... nem cor... nem imagem... nem som... nem bom... nem ruim...nada... só um vazio....
Estranho muito esse contato porque não reconheço... nada ali tem significado para mim...
Continuo andando... afastando-me cada vez mais da casinha...
Quando me dou conta disso me dá uma saudade do aconchego da casinha na montanha... olho para trás com vontade de voltar e ficar quieta, de me sentir “em casa” ou o que até então, representava isso para mim... mas só vejo a montanha, não tem mais casinha.... depois de um tempo olho de novo e não tem mais montanha....
Nesse ponto me sinto desnorteada... sem nada para onde voltar... e sem saber para onde estou indo... e o nada ao meu redor, que também já se instalava dentro, não ajudava a me sentir confortável...
Me movimento ali, a principio me sentindo no corpo... depois nem corpo mais tenho.... sou só um ponto que respira e se movimenta no vazio.
Entendo agora que o caminho é mesmo sem volta...
Sinto-me deslocando no espaço vazio, muito rapidamente... e me questiono sobre porque preciso andar tão depressa... nesse pensamento paro...
Confesso que não estou gostando dessa sensação de “nada”...
Com esse pensamento vejo a imagem de um “ponto” com setas saindo em todas as direções para fora e outras para dentro... em todas as direções e de todas as direções... As que saem para dentro do ponto se encontram no centro... e ali... acontece alguma coisa e elas se cruzam ou voltam se expandindo para fora infinitamente...
Na verdade sinto saudade da casa e do aconchego... é algo muito novo e não tenho registrado nada que se compare a estar ai.... É um vazio mesmo...
Fico quieta por um tempo...
Percebo que quase já não tenho pensamentos... não estava conseguindo pensar... Quando me dei conta disso resolvi então pensar em alguma coisa... sólida... real... fiz um esforço para pensar em alguma coisa e pensei em um boi branco... e imediatamente naquele vazio surgiu um boi branco...
Um boi branco nas montanhas entre tantos outros... e tantas outras coisas... tem um efeito na minha realidade usual de cada dia... mas um boi branco naquele vazio teve uma força que eu senti tão nitidamente e na mesma hora quis me desfazer dele... pensei em um tipo de limpador de pára-brisa que passou e limpou o boi...
Então comecei a pensar... e por incrível que pareça... ali o pensar requeria um grande esforço... não era o natural, mesmo para uma geminiana.
Fiz isso de novo, fazendo esforço para pensar em algo e aquilo se materializava na hora e eu passava o limpador de pára-brisa para limpar...
Entendi que aquilo era um tipo de brincadeira... e depois de criar e apagar algumas coisas fiquei quieta sendo só um ponto no vazio... mas me sentia tão estranha ali que resolvi acordar... parece que o meu limite de estar ali... havia chegado, e voltei... sabendo que teria que retomar daquele ponto... ou não...
(continua)