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A problemática das mães e familiares dos dependentes químicos

por Silvia Malamud em Espiritualidade
Atualizado em 26/08/2005 14:08:55


Certa vez recebi em meu consultório um rapaz cuja mãe havia me ligado implorando extrema urgência para que eu atendesse seu filho... Marcamos uma consulta e nela vieram juntos mãe e filho.
O “garoto” beirava os quarenta anos, veio muito bem vestido, com roupa quase social. A mãe com cabelos extremamente loiros, bastante maquiada e bem trajada.
Nesta primeira consulta, a mãe e o “garoto” revelam o histórico da dependência química reconhecendo a gravidade do fato e observando como seria bom se Lucas (nome fictício) abandonasse seus vícios. Naquela ocasião, Lucas estava dependente de maconha, chegando a fumar mais de vinte cigarros por dia e quando não estava fumando, ingeria comprimidos antialérgicos, também como forma de vício. Disse que já havia sido dependente químico de cocaína, mas que atualmente não fazia mais uso dela.
No decorrer da entrevista, mãe e filho começam a contar sobre as incontáveis clinicas de recuperação em que ele havia estado e das infindáveis promessas do pai, um empresário muito bem sucedido, em colocá-lo no mercado de trabalho, caso abandonasse o vício.
A promessa era que o “garoto” poderia entrar para o mundo dos homens se abandonasse as drogas... Mas qual seria o custo disso?

Sabemos que, além da dependência química, que já representa um grande desafio para se libertar, existem outras dependências não menos ameaçadoras envolvidas.
Falamos aqui de áreas emocionais de dependência entre pais e filhos.
Neste caso especifico, ficou claro a relação de dependência mãe/filho, como se ambos mantivessem uma espécie de elo simbiótico que lhes dava a sensação de estarem vivos por meio de uma identidade única.
Não poucas vezes as situações da dependência química de um filho, por pior que seja, preenchem a vida dos pais de significados e a família acaba esquecendo que pode ter vida própria e independente, podendo ter outros meios para existir.
Vejam que neste caso especifico a mãe contou com os olhos brilhantes e cheios de aventura e juventude, sobre as fugas mirabolantes nas quais ajudou o filho a escapar destas herméticas e muitas vezes necessárias clínicas de recuperação. Embora ela contasse que os médicos e atendentes estavam sendo rígidos por demais com o seu filho (que era rígido de menos consigo mesmo), ficava extasiada de alegria ao conseguir ajudar seu filho a realizar suas fugas.
Em outros casos, mães e pais, por melhor que seus filhos estejam ficando no tratamento, não conseguem conceber essa idéia.
É lógico que nem sempre é assim e que isso não é regra para todas as famílias. Existem casos que revelam exatamente o contrário. Neles os pais estão totalmente prontos para uma mudança efetiva de seu filho, ou a esposa para com o seu parceiro, quando este é o problema e existe enorme dificuldade de romper a relação de dependência familiar.
Penso que qualquer que seja o cenário envolvido, existe uma questão central relacionada à dificuldade em existir com autonomia e responsabilidade na própria vida. Sabemos que este desafio é de todos nós, ninguém escapa disso, o amadurecimento humano inclui este tipo de autonomia existencial.

Tomar consciência de que estamos todos no mesmo barco - e buscar ajuda - nos tira da cegueira que traz a arrogância e o orgulho de se perceber com alguma dependência e de não fazer nada para mudar neste sentido. Estes é que são os vícios emocionais mais venenosos que podemos ter. O resto são os desafios e as dificuldades que todos nós temos. Negá-los não faz com que cessem de existir.

Por tudo isso, se você está em alguma forma de drogadição, ou vício emocional que gera dependência, não deixe de buscar ajuda. Dê a chance de efetivamente se desprender, ajude-se a promover a sensação de se sentir existindo com autonomia em sua vida. Lembre-se de que todas as suas dependências vêm de vícios emocionais e que estes vem de dificuldades genuínas que ocorrem com todos nós.
Facilite os seus processos para que você possa acontecer de modo singular e único. Busque ajuda, você não está sozinho. Não tenha medo do que pode encontrar lá dentro de você.

Isto vale para toda a família, que, embora possa não estar na drogadição, pode se encontrar em outra forma de dependência que igualmente impede o processo individual de autonomia e de amadurecimento do vir a ser.
Acho que todos deveriam apostar na experiência da unicidade para depois poder se relacionar com um outro numa qualidade que, embora dual, na certa será impar.



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silvia
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
Tel. (11) 99938.3142 - deixar recado.
Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos

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