A Visão Planetária de Barack Obama
por WebMaster em EspiritualidadeAtualizado em 17/11/2008 17:34:42
Derrubar os Muros Entre Povos, Raças e Religiões.
Em julho de 2008, Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma multidão calculada pelas autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu o evento sem precedentes esclarecendo que estava ali na condição de "cidadão do mundo" – uma expressão que contém em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral nos Estados Unidos, falando em manifestação de rua em país europeu. Em seguida, Obama formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim, em 1989, ele disse:
"A solidariedade e a cooperação entre as nações não é uma escolha. É o único caminho, o único caminho, para proteger a nossa segurança comum e fazer avançar a nossa humanidade comum. É por isso que o maior de todos os perigos seria permitir que novos muros nos dividam um dos outros. Os muros entre os velhos aliados dos dois lados do Atlântico não podem ficar de pé. Os muros entre os países que têm muito e os países que têm muito pouco não podem ficar de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e muçulmanos e judeus, não podem ficar em pé. Estes são, agora, os muros que nós devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de séculos de conflito, os povos da Europa formaram uma união promissora e próspera."
E prosseguiu:
"Aqui, na base de uma coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós nos encontramos no centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim, mas eles vieram abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos descobriram uma maneira de viver lado a lado; nos Balcãs, onde a nossa aliança Atlântica terminou as guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e na África do Sul, onde a luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim, a história nos faz lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a tarefa nunca é fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso requerem um trabalho constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se compartilhe as responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do progresso e da paz. Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que aprendem uns dos outros, e, sobretudo, que confiam uns nos outros." [2]
Libertar o Mundo Das Armas Nucleares.
Barack Obama acrescentou:
"Este é o momento em que devemos renovar a meta de um mundo sem armas nucleares. As duas superpotências que olhavam uma para a outra através do muro desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo demasiado longo, de destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com o final daquele muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada, olhando para a proliferação da energia atômica mortal. (...) Este é o momento de começar a trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares."
Depois ele falou vigorosamente da necessidade de paz no Oriente Médio, e abordou a questão da ecologia planetária. Obama disse:
"Este é o momento em que devemos unir-nos para salvar este planeta. Devemos tomar a decisão de que não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as nossas terras. Devemos decidir que todas as nações – inclusive a minha própria – agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e reduzirão o carbono que colocam na atmosfera. Este é o momento em que devemos devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o momento para agirmos em unidade."
A Intenção de Refazer o Mundo.
Obama parece saber o que deve fazer. E não pode ser acusado de possuir metas demasiado pequenas. Filho de um queniano, e nascido Havaí, ele concluiu o seu principal discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:
"Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. Esta é a nossa vez. Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (...) Nós temos a nossa quota de erros. (...) Mas também sei que (...) durante mais de duzentos anos, nós temos nos esforçado (...) com outras nações, [por] um mundo com mais esperança. Nosso compromisso nunca foi com qualquer tribo ou reino especificamente – na verdade, todas as línguas são faladas em nosso país; todas as culturas deixaram sua marca na nossa cultura; e cada ponto de vista é expressado em nossas praças públicas. O que sempre nos uniu – o que sempre mobilizou o meu povo – o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a crença de que podemos viver livres do medo e de necessidades materiais graves; de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir a religião que acharmos melhor. (...) Povo de Berlim – e povo do mundo – a escala do nosso desafio é grande. O caminho à frente será longo. Mas venho dizer a vocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo de esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em nossos corações, que possamos lembrar desta história, fazer frente ao nosso destino e refazer o mundo mais uma vez."
Muito antes do discurso de Berlim, Obama já tinha esta clareza de metas.
Em fevereiro de 2007, ao fazer o discurso de lançamento da sua candidatura, ele assumira um compromisso com a mudança ética e ecológica em escala planetária:
"Sejamos a geração que finalmente liberta a América do Norte da tirania do petróleo. Podemos usar combustíveis alternativos, produzidos localmente, como o etanol, e aumentar a produção de carros com mais eficiência energética. Podemos estabelecer um sistema de fixação de gases que produzem o efeito estufa. Podemos transformar esta crise de aquecimento global em uma oportunidade para inovar, e para criar empregos, e para incentivar empreendimentos que servirão de modelo para o mundo. Sejamos a geração que faz com que as futuras gerações tenham orgulho do que nós fizemos aqui."
Sem receio de assumir metas visionárias – e olhando muito além das eleições norte-americanas –, ele disse naquela ocasião inaugural:
"E se vocês se somam a mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do destino, e vêem, como eu vejo, que o momento de acordar e de abandonar o medo é agora, assim como o momento de pagar a dívida que temos diante das gerações passadas e futuras, então estou pronto a assumir esta causa e marchar com vocês, e trabalhar com vocês. Juntos, a partir de hoje, que completemos o trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um novo nascimento da liberdade." Religiosidade
Foi a mãe de Obama, branca e norte-americana, que lhe transmitiu na vida diária a visão inter-religiosa e universalista, assim como o hábito diário do auto-treinamento e da auto-disciplina. Ela mantinha uma distância crítica das religiões dogmáticas, assim como faz a teosofia clássica e original, enquanto a pseudo-teosofia, lamentavelmente, cria versões próprias da religiosidade exotérica, com seus dogmas e sacerdotes.
Barack escreve que seus avós passaram à sua mãe uma combinação de racionalismo com jovialidade, e acrescenta:
"As próprias experiências de minha mãe como criança sensível e amiga dos livros, que crescia nas pequenas cidades do Kansas, Oklahoma e Texas, apenas reforçaram o ceticismo que herdara. As lembranças dos cristãos que povoavam sua juventude não eram das mais agradáveis. Ela ocasionalmentese recordava dos pregadores que baniam três quartos da população mundial por considerá-los pagãos ignorantes condenados a passar a vida eterna em maldição – e que insistiam que a terra e o céu foram criados em sete dias , com todas as provas geológicas e astrofísicas dizendo o contrário. Lembrava-se das mulheres respeitáveis da igreja, sempre tão rápidas em evitar as pessoas que não correspondessem aos seus padrões de decência, apesar de elas próprias ocultarem segredinhos sujos; dos pastores que proferiam epítetos raciais e ludibriavam os trabalhadores para tirar deles todo o dinheiro que conseguissem."
Tal mediocridade "religiosa" não ocorria por acaso. Há um contexto maior em torno deste tipo de estreiteza de horizontes, que não é um fenômeno local, mas constitui na verdade um problema de escala global.
Na famosa Carta 88 de "Cartas dos Mahatmas" (Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes), um mestre dos Himalaias – um raja-iogue – afirma que dois terços do sofrimento humano são causados pela falsidade e pelas ilusões provocadas pelas religiões dogmáticas e sacerdotais.
Barack Obama prossegue:
"Para minha mãe, a religião organizada muito frequentemente esconde sua mentalidade limitada sob o manto da piedade; e a crueldade e a opressão, sob o da honestidade. Mas isso não quer dizer que ela não me transmitiu valores religiosos. Para minha mãe, o conhecimento de pontos importantes das grandes religiões do mundo era uma parte necessária de uma educação impecável. Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana. Na Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para a igreja, assim como para templos budistas, para a celebração do Ano Novo chinês, para santuários xintoístas ou para antigos locais de rituais hawaianos. Mas fui educado para entender que isso não exigia nenhum compromisso de longo prazo da minha parte, nenhum esforço introspectivo maior ou autoflagelação. Para minha mãe, a religião era uma expressão da cultura humana; ela não explicava a origem da humanidade, era apenas uma das muitas formas – e não necessariamente a melhor maneira – de o homem tentar controlar o desconhecido e entender as mais profundas verdades sobre nossa vida. Em suma, minha mãe via a religião pelos olhos da antropóloga que ela viria a ser; era um fenômeno a ser tratado com respeito, mas também com desapego. (.....) E, apesar do seu secularismo, minha mãe era de muitas formas a pessoa mais espiritualizada que conheci. Tinha um instinto inabalável para a bondade, a caridade e o amor, e passou grande parte da sua vida agindo de acordo com estes instintos, às vezes em detimento de si mesma. Sem a ajuda de textos religiosos ou autoridades externas, trabalhou muito para transmitir a mim os valores que muitos norte-americanos aprendem na escola dominical: honestidade, empatia, disciplina, capacidade de postergar a gratificação pessoal e trabalho duro. Enfurecia-se com a pobreza e a injustiça, e desprezava aqueles que eram indiferentes a ambas."
Uma Visão Racional e Universalista.
"... Dada a diversidade crescente da população norte-americana, os perigos do sectarismo nunca foram maiores. O que quer que já tenhamos sido, não somos mais apenas uma nação cristã; somos também uma nação judaica, muçulmana, budista, e uma nação de descrentes."
E prossegue:
"Mas presumamos que só tivéssemos cristãos dentro dos limites das nossas fronteiras. Que cristianismo ensinaríamos nas escolas? (....) Que passagens do Evangelho deveriam guiar nossa política pública? Deveríamos seguir o Levítico, que sugere que não há nada de errado com a escravidão e que comer moluscos é uma abominação? E quanto ao Deuteronômio, que sugere apedrejar seu filho caso ele se desvie da fé? Ou deveríamos nos limitar apenas ao Sermão da Montanha – uma passagem tão radical que é duvidoso que nosso Departamento de Defesa sobrevivesse à sua aplicação?"
Definitivamente, a crença cega na letra morta deve ser abandonada.
Os princípios essenciais devem ser percebidos, e eles estão além das formas visíveis. Obama conclui propondo a opção pelo bom senso:
"O que nossa democracia deliberativa e pluralista exige é que pessoas motivadas religiosamente traduzam suas preocupações para valores universais, não determinados pela religião. Isto exige que suas propostas estejam sujeitas a discussões e abertas à razão."
Origem das citações
-"Change We Can Believe In - Barack Obama's Plan to Renew America's Promise",livro com o programa de governo e sete discursos de Obama, publicado por Three Rivers Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp. 265-266.
- Dreams From My Father", Barack Obama, Three Rivers Press, 1995 e 2004, New York, 458 pp., ver p. 09, 10, 17.
- "A Audácia da Esperança", Barack Obama, Larousse do Brasil, SP, 2007, 400 pp., ver pp. 221, 222, 223, 236, 237 - original em língua inglesa "The Audacity of Hope". nos casos em que a versão brasileira está inexata. Ver "The Audacity of Hope", Three Rivers Press, 376 pp, 2006, pp. 203-204.
Sobre a transição mundial e a renovação do atual processo civilizatório, veja o texto "Al Gore e a Tradição Esotérica", de Carlos Cardoso Aveline, na seção "Crise Climática Global e Mudança de Civilização" do site link O link direto do artigo é: link
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Recebido de Elisabeth Cavalcante