Adulteração da Bíblia
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 19/11/2004 12:11:23
Uma coisa que tem sido muito popular entre os novos adeptos das religiões "cristãs-xiitas" é o uso de versões da bíblia adaptada a uma linguagem mais... atual. O que deveria ser louvável (afinal, leva a palavra da Bíblia a uma gama muito maior de pessoas) acaba sendo sofrível e perigoso. Sofrível porque as traduções antigas já não são das melhores, e com base nelas o teor da mensagem fica ainda mais superficial. E perigoso, porque os tradutores acrescentam, alteram e omitem coisas ao seu bel prazer, provocando conflitos com outras religiões.
Temos um bom exemplo em Levítico 19:31. Na bíblia da Sociedade Bíblica do Brasil (1969) consta: Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles: Eu sou o Senhor vosso Deus.
Segue-se agora um trecho de uma tradução católica (a 35ª edição do Centro Bíblico Católico, publicado pela editora Ave Maria) onde vemos a alteração:
Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles.
Um verdadeiro crime de intolerância para com todos os espíritas. E ainda existe gente que recita isso e diz: "tá na Bíblia", com um ar imponente. Se esquecem de que a Torah (O velho Testamento) é um conjunto de Leis para o povo hebreu que tem de 3 a 5 mil anos, assim como a Constituição é a Lei para nós hoje. Esquecem que o contexto e as tradições daquela época eram outras, e simplesmente "esquecem" de estudar a história, se limitando a repetir trechos isolados fora de contexto como se fossem papagaios. Viram presa fácil para enganadores, como os que traduzem e adaptam erroneamente a Bíblia.
Vejamos o Deuteronômio 18:9-11, em uma tradução fiel ao hebraico:
Quando entrares na terra que Iahvéh, teu Deus, te dá, não aprendas a fazer as abominações (Por conta do cativeiro do povo hebreu no Egito, a população judia estava assimilando a cultura religiosa dos povos daquela área (egípcios e fenícios), que são politeístas e envolviam sacrifícios e rituais de magia. Vemos isso até entre os \'esclarecidos\' gregos, na Ilíada, onde Agamenon sacrifica a própria filha para os deuses.) daquelas nações(*). Não se achará em ti quem faça passar seu filho ou sua filha pelo (Havia um costume entre os fenícios (adoradores do fogo) de fazer os primogênitos andarem sobre brasas em honra ao Deus Moloq, daí a proibição.) fogo(*); nem (Maimônides (filósofo, médico e grande mestre da literatura rabínica) explica: Encantador é aquele que pronuncia palavras, que não são uma língua, imaginando totalmente que tais palavras são mágicas.) encantador(*), nem feiticeiros, nem agoureiro, nem (Aqui no sentido de quem adivinha por meio de procedimentos. A palavra aqui usada umnachêsh possui semelhança com nachash (cobra) provavelmente pelo método de adivinhação empregado, que era observar o movimento das serpentes (algo bastante difundido na Grécia clássica).) cartomante(*), nem bruxo, nem mago e semelhante, nem quem consulte o (Segundo Maimônides, na necromancia o praticante costuma usar o crânio da pessoa que quer invocar, queimar incenso nele e usar artes de adivinhação até que surja um rumor de uma voz, excessivamente baixa, que parece vir sob as axilas do necromante e que responde a ele. Outras vezes deitava sobre o túmulo, na esperança que recebesse a comunicação por sonho. Já a comunicação com os mortos sem a invocação não é um problema nem mesmo para os judeus ortodoxos, como podemos ver neste artigo. E Jesus conversou com Moisés e Elias (ambos mortos) no monte, não foi?) necromante(*) e o adivinho, nem quem (A maioria traduz dorêsh el-hametim como consultar os mortos. No entanto, na mesma frase o verbo consultar shoêl é usado antes de necromante e adivinho e não teria razão para o autor trocá-lo por dorêsh (buscar, inquirir). Ora, o próprio Espiritismo condena a invocação dos mortos, e ainda mais as consultas de forma irresponsável, para adivinhações e previsões, que são propósitos fúteis e egoístas. O que a Bíblia proíbe, o Espiritismo também repudia.) exija a presença(*) dos mortos.
Já na tradução de 1969 (mais "mastigada") dessa mesma passagem, vemos as deturpações:
Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos.
A classe dos mágicos foi "condenada" por Deus, quem diria... eles devem ter reclamado, pois tiraram da "versão" atual (substituíram por magia, que dá a idéia de poder sobrenatural). Mas ainda assim não resistiram ao poder de deturpar a passagem para que se enquadrasse aos propósitos vis da Igreja nas últimas duas décadas, que é combater mais descaradamente toda e qualquer forma alternativa de pensamento religioso:
Quando tiveres entrado na terra do Senhor, teu Deus, não te porás a imitar as práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem que se dê a adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à evocação dos mortos...
Agora a condenação recai sobre os astrólogos e espíritas... incrível, não? Afinal, será que Moisés está vivo em algum lugar do Vaticano, adaptando o "código de leis" ou foi um tradutor revestido diretamente pelo poder de Deus? Quem sabe o Papa? O fato é que a Igreja está gerando um mal, que é a intolerância, e manipulando descaradamente os seus seguidores. Na mesma Bíblia podemos achar a passagem "Amai uns aos outros como eu vos amei". Será que ela não significa nada? Quem sabe quanto tempo ela durará até ser adulterada?
Infelizmente tem mais. No original hebraico de Levítico 20:6, vemos:
Contra esse ser (alma) que vai diante dos necromantes e dos adivinhos para se (Na tradução de João Ferreira de Almeida está uma pobre tradução literal: prostituindo-se após eles.) prostituir seguindo-os(*), eu os darei as minhas faces e eu o cortarei de dentro do meu povo. Já na "bíblia" da ed. Ave Maria está:
Se alguém se dirigir aos espíritas e adivinhos para fornicar com (!) eles, voltarei o meu rosto contra esse homem e o cortarei do meio de seu povo.
Mas o pior está na "bíblia" traduzida para as Testemunhas de Jeová, 1ª edição de 1967:
Quanto à alma que se vira para os médiuns espíritas (!) e para os prognosticadores profissionais de eventos (?), a fim de ter relações imorais com eles, certamente porei minha face contra essa alma e deceparei dentre seu povo.
Essa certamente ganhou o prêmio Saindo da Matrix de melhor tradução! Ainda mais porque as palavras "médium" e "espírita" foram criadas por Allan Kardec em 1857 DEPOIS de Cristo, com a publicação de O livro dos espíritos.
Em Mateus 9:13 há um exemplo de tradução em que a omissão de UMA palavra altera todo o sentido da missão de Cristo:
Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas os pecadores à repetência.
Uma passagem importantíssima, que define a missão de Jesus e explica que a Terra é um verdadeira escola-reformatório, onde os pecadores (e quem não tiver pecado que atire a primeira pedra) repetem de ano. REPETEM, dando uma idéia de continuidade, e casa perfeitamente com o que se aprende na doutrina espírita, que viemos de outros orbes para botar em prática aquilo que já deveríamos estar fazendo há muito tempo: amar uns aos outros.
Apenas a retirada dessa palavrinha (encontrada em outras versões, como a Analítico-Literal) muda todo o sentido da missão de Cristo, porque ele não veio pra perdoar nossos pecados, e sim nos ensinar como fazer o certo. Não veio nos dar peixe, mas nos ensinar a pescar. Até hoje as pessoas ficam tentando converter as outras com "Aceite Cristo para se livrar dos pecados", "Alcance a salvação"! Isso é ridículo! Exemplo de uma mentalidade infantil e da crença na lei do menor esforço. Resquício da igreja feudal, que lhe garantia a absolvição por meio de ‘indulgências’ (pagamentos), rezas ou troca de favores, em que você mantinha-se submisso ao poder da igreja em troca da garantia de ter seus pecados perdoados.
Outro absurdo é a "salvação". Salvação de que? Do inferno? Do pecado original? Se for salvação da ignorância que nos coloca como indivíduos separados um do outro, eu concordo inteiramente, mas o que se vê são as pessoas vendendo a idéia de "filie-se ao meu clube/seita/culto/igreja/ordem para obter a verdade e ser salvo, porque se você não está comigo, está com o capeta/trevas/ignorância".
Pague e seja salvo...
Referências:
Analisando as traduções Bíblicas; Severino Celestino da Silva;
Espiritismo e judaísmo
Analisando as traduções Bíblicas; Severino Celestino da Silva;
Outros exemplos de adulteração do evangelho (inglês)
Traduções mentirosas da bíblia.