Agora que voltei para casa - Capítulo 28
por Angela Li Volsi em EspiritualidadeAtualizado em 19/11/2004 12:20:01
Minha iniciação ao Reiki, nos níveis I e II, se dá pelas mãos da mesma mestra que coordenou o grupo “A arte de morrer”. O que me encanta neste trabalho é, antes de mais nada, a pureza de intenção de seu descobridor, Mikao Usui. Me comove acreditar que alguém, indo buscar, à custa de muitos sacrifícios, os segredos desta técnica milenar, teve o propósito de oferecer um instrumento de cura tão singelo, tão ao alcance de qualquer um, bastando querer renovar a mesma intenção de seu descobridor.
É a terapia mais democrática que conheço, que dispensa qualquer instrumento e pode ser acessível a qualquer hora, em qualquer lugar.
Um de seus benefícios mais sutis, a meu ver, é proporcionar a quem o recebe a oportunidade de mergulhar fundo no contato com as próprias energias, iniciando um diálogo consigo mesmo que pode levar a desdobramentos preciosos no caminho do autoconhecimento.
São tão raras as oportunidades que temos de nos permitir esse mergulho para dentro, que me parece um presente valioso poder encontrar essa ilha de paz de maneira tão simples e acessível.
Fico pensando na maravilha que é poder ser apenas um canal entre a energia universal vital e o corpo do receptor. Não sou eu a determinar o que o paciente precisa receber, mas a inteligência da energia vai me guiar e se encarregará de fazer chegar ao destinatário exatamente o que ele precisa.
Apesar de estabelecer um contato bastante íntimo entre terapeuta e receptor, é uma das terapias menos invasivas que conheço.
Na medida em que não precisa passar pelo filtro das palavras, a sessão pode acontecer sem precisar falar absolutamente nada. Para quem está acostumado a valorizar demais a mente, é um alívio poder descansar de sua tirania.
Sinto a necessidade, alguns anos mais tarde, de receber também a iniciação ao nível III-A, dessa vez pelas mãos de outro terapeuta, também sannyasin, pois minha querida mestra está muito longe, empenhada em outro trabalho.
O uso do Reiki me abre inúmeras perspectivas de poder ajudar à distância na harmonização não só de pessoas, mas de situações, acontecimentos, emergências, enfim, um sem-número de ocasiões em que posso ser útil mesmo sem que os receptores fiquem sabendo.
Minha introdução ao mundo do Eneagrama me traz a surpreendente descoberta de um poderoso instrumento de autoconhecimento de que nunca tinha ouvido falar.
Tenho a sorte de ser a ele apresentada por intermédio de uma excelente terapeuta, uma jovem sannyasin que tem o dom de saber interpretar à perfeição, um após o outro, cada um dos nove tipos, exatamente como se se tratasse de uma incorporação mediúnica.
Assistimos ao desfile de cada tipo e cada um de nós começa a se identificar ora com um, ora com outro, até que, quando todos os nove são apresentados, não resta sombra de dúvida na identificação do único que corresponde ao nosso.
Não me parece nada lisonjeiro saber que minha raiz egóica é a da avareza, que por sua vez faz parte do grupo de raízes comandadas pelo medo. Mas sou obrigada a reconhecer que a descrição do tipo número cinco me serve como uma luva.
Só agora posso perceber que essa ligação com a avareza, que tanto me chocou naquela hora, refere-se principalmente ao que sempre pratiquei comigo mesma, não me permitindo acessar meus verdadeiros sentimentos.
A performance da nossa apresentadora é realmente impressionante. Ela faz suas apresentações enfatizando os lados engraçados de cada um, o que transforma o workshop numa espécie de delicioso show.
Isso não impede que ela enfatize também, com uma precisão cirúrgica, todos os aspectos negativos de cada tipo. O que me consola é que, na verdade, não existe defeito ou virtude, existem características que, como tudo na vida, têm os dois lados da moeda, o da luz e o da sombra.
O bonito disso tudo é que o propósito do workshop é de nos conscientizar da “máquina” que constitui cada tipo exatamente para nos mostrar as armadilhas do ego, que quer tomar o lugar da nossa essência e infelizmente consegue, se a gente não se empenhar num trabalho de autoconhecimento.
Na verdade, aprendemos como funciona a “máquina” para depois aprender a desmontá-la, a desarmar a armadilha.
Não sei se o que estou dizendo parece claro, para mim foi uma revelação fulgurante, que me fez mergulhar de cabeça no mundo do eneagrama, procurando explorar todos seus ângulos.
Tudo o que aprendi se desdobrou em vários workshops, que procurei ampliar com a leitura de tudo o que pude encontrar a respeito.
Fiquei particularmente encantada com o livro da Helen Palmer, onde a descrição de cada tipo é tão minuciosa e exaustiva, que realmente é como se nos fosse revelada a essência de cada um.
A grande lição que aprendi nesse estudo é, em primeiro lugar, o quanto é reconfortante constatar que todos nós fazemos parte de um imenso projeto onde, se fomos determinados por padrões coletivos, ao mesmo tempo possuímos uma unicidade que cabe ao nosso livre-arbítrio e ao esforço de cada um fazer prevalecer.
Em segundo lugar, é muito útil nos inteirarmos das especificidades individuais, pois isso nos leva a reconhecer e a respeitar as dificuldades de cada um.
Por outro lado, esse conhecimento pode acabar servindo de desculpa para tolerar todos os “vícios” de cada “máquina”, tanto nossa como das pessoas com quem convivemos.
Ou, então, pode-se cair na tentação de sair rotulando todo o mundo com o número que nos parece corresponder àquela pessoa. Na verdade as aparências podem enganar, na medida em que todos nós em geral temos uma mistura de características de vários tipos, cabendo exclusivamente a cada um de nós identificar o único que nos corresponde.
Nunca é demais ressaltar que o objetivo desse estudo é justamente o de conhecer os mecanismos que nos determinam, para aprendermos a desmontá-los.
Mas isso, obviamente, depende da determinação de cada um em querer se superar.