Agora que voltei para casa - Capítulo 30
por Angela Li Volsi em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:34:52
Quando pude atinar com o que estava acontecendo, depois de ouvir mil vezes aquela mensagem, tratei de telefonar a alguém para verificar se realmente eu tinha ouvido direito.
Fui informada de que L. não resistira a um ataque de asma, provocado pela fumaça de uma fogueira que fazia parte dos rituais, e tinha tido uma morte quase imediata.
Mesmo assim, não conseguia acreditar que tudo aquilo estivesse realmente acontecendo. No fundo, continuava achando que poderia se tratar de uma espécie de brincadeira macabra, de mais um teste para os nossos nervos, e que de repente eu veria de novo L. aparecer diante de nós, rindo de nosso susto.
Foi assim que me dirigi ao Instituto, onde encontrei um grupo de pessoas tão consternadas quanto eu. Ninguém tinha maiores informações. Só sabíamos que deveríamos ficar esperando o corpo, que estava sendo transportado para lá.
A espera foi muito longa, e enquanto isso muita gente foi chegando, inclusive os pais de L., que eu via pela primeira vez. O detalhe impressionante é que aquele era o dia em que ele completaria vinte e oito anos.
Finalmente o corpo chegou, e aí todas as minhas esperanças morreram: lá estava ele, com uma expressão serena, mas com a pele de uma estranha cor azul, que nunca tinha visto antes.
As pessoas foram se aglomerando, todos nós tínhamos uma rosa na mão e formamos fila para prestar nossa última homenagem. Um grupo de sannyasins começou a tocar e a cantar, à moda das cerimônias fúnebres da Índia.
Eu não tive coragem de ficar muito tempo, porque meu coração ocidental não estava em clima de celebrações, ainda estava longe de tal grau de desprendimento.
Desde o momento em que tive certeza de que L. já não estava entre nós, um pensamento atravessou minha mente: o Instituto acabou.
Durante alguns meses, ainda me esforcei para freqüentar as meditações, participei de algumas cerimônias em memória de L.
Assisti ao esforço de sua namorada, apoiada por outros sannyasins mais próximos, para continuar a manter o Instituto, mas senti que sua alma, a chama sagrada que o tinha feito nascer e crescer já não estava mais lá.
Outro sannyasin muito experiente e empreendedor tomou as rédeas da casa, mas para mim nada mais poderia ser como antes.
A falta daquela luz brilhante que estava iluminando meu caminho, apontando para novos projetos, mergulhou-me numa prostração tão profunda que literalmente senti como se minhas pernas tivessem sido cortadas. Agora sei que estava mandando um comando terrível para minha mente, mas é assim que estava me sentindo.
Naqueles últimos anos, desde meu primeiro encontro com o mundo dos sannyasins, minhas sessões com meu terapeuta de biocibernética tinham acontecido de maneira bem mais espaçada. Além de meu tempo disponível ter diminuído, na verdade meu foco de interesse tinha se deslocado quase inteiramente para as novas atividades.
Eu estava recebendo uma carga tão intensa de novas energias, novos projetos, que não precisava mais depender tanto daquela minha antiga âncora.
Agora, porém, que mais outra porta tinha se fechado violentamente diante de mim, era natural que me refugiasse de novo naquele meu antigo abrigo.
Não sei dizer se eu tinha mudado tanto, a ponto de não reconhecer mais aquela linguagem, ou se realmente tinham se esgotado todos os recursos que dela poderia receber. A verdade é que não consegui mais encontrar as respostas e os antídotos a minhas novas angústias e, muito tristemente, me vi obrigada a admitir que a mágica já tinha perdido seu poder.
Fiquei vagando um tempo, sem saber que rumo dar à minha vida, e muito a contragosto tive de recorrer de novo às medicações alopáticas, porque minhas dores tinham voltado mais fortes do que nunca, e meus joelhos ficaram ainda mais emperrados.