Aprender a confiar
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 14/10/2009 17:27:13
Em inúmeras situações da vida, nos sentimos perdidos como um náufrago em alto mar, sem qualquer referência que nos aponte uma saída segura. Nestes momentos, a única bússola na qual podemos confiar é nossa própria percepção, o guia primordial capaz de nos conduzir ao caminho mais acertado.
Ocorre que, para a maioria das pessoas, confiar na percepção interior é algo quase impossível, pois isto as faz sentirem-se malucas ou, no mínimo, excêntricas. Para muitos de nós a racionalidade ainda é considerada a única fonte segura para a tomada de decisões.
Confiar na sabedoria da existência e entregar-se aos seus desígnios sem qualquer hesitação é um aprendizado lento, que exige uma boa dose de paciência e o controle do medo e da ansiedade, pois ambos nos levam a desejar desesperadamente uma solução imediata de nossos problemas.
Outro momento em que nossa intuição é colocada à prova, é quando nos guiamos por ela e nossas ações são contestadas pelos outros, que nos julgam e criticam de acordo com seus próprios valores.
Se não tivermos uma confiança absoluta naquilo que nos dita nossa voz interior, certamente nos deixaremos arrastar pelo corrente dissonante, e acabaremos por agir de acordo com as idéias alheias, em vez de seguir nosso coração.
Como somente ele pode saber do que realmente precisamos, o resultado desta negação é, na maioria das vezes, o arrependimento e a culpa por termos confiado mais nos outros do que em nós.
Não importa quantos enganos tenhamos cometido, sempre é tempo de recuperarmos a fé na vida e cultivarmos a certeza de que ela sempre nos direcionará para o que nos traz crescimento e evolução interior.
“Confiança: a nossa conexão com a Existência
....A confiança é a conexão entre você e a existência. Confiança é a mais pura forma de amor, e uma vez que a confiança seja perdida, o amor também se torna impossível.
Jesus não estava seguindo alguém. Ele não estava imitando alguém...
Ele não permitiu que a multidão o reduzisse a uma personalidade falsa.
Ele permaneceu um indivíduo.
Ele arriscou sua vida, mas não se comprometeu com a sociedade.
Era melhor morrer na cruz do que ser um hipócrita. Pelo menos na cruz ele era verdadeiro, autêntico - era ele mesmo.
....Ele poderia ter salvo a sua vida, mas na verdade, isso teria sido a sua crucificação. Ele aceitou ser crucificado - isso era salvar a sua vida - sem medo, confiando na existência, sem qualquer raiva para com a multidão.
Mesmo em seu último momento na cruz, ele estava pedindo pela multidão:
’Pai, perdoe-os. Eles não sabem o que estão fazendo. Eles são inconscientes.
Nada se pode esperar de pessoas inconscientes'.
Ele tinha apenas trinta e três anos de idade; uma longa vida estava à sua frente. Mas essa é a beleza do homem, ele ter sacrificado essa longa vida que teria sido sem sentido, falsa, enganosa, por algo real, autêntico - sem qualquer lamento, sem
qualquer rancor contra quem quer que seja.
....Todo mundo foi desviado, foi descarrilhado de seu caminho natural.
E foi colocado numa direção que nada significa para si.
É por isso que sempre existe ansiedade, angústia e uma profunda tristeza.
Essa tristeza é existencial; a menos que você possa ser o que lhe é natural, a primavera nunca chegará até você, as flores nunca desabrocharão em seu ser, o amor nunca crescerá.
Você nunca conhecerá a glória da vida e o esplendor da consciência.
...Esse é todo o meu trabalho aqui - simplesmente descascar as cebolas. Descascar até o ponto onde nada permaneça - apenas a amplitude e o silêncio.
Porque uma cebola nada mais é que camadas e camadas e camadas, e quando a camada final é retirada, suas mãos ficam vazias.
Em tais mãos vazias desce toda a glória, todo o reino de Deus.
Você não tem que ficar parado no caminho, você tem que ceder o lugar de modo que Deus possa entrar.
....Sim, existe dor porque todas essas crenças, pensamentos e filosofias tornaram-se parte de você, e numa tal dimensão que não é como tirar as suas roupas - é algo como tirar a sua própria pele. É doloroso.
Mas essa dor vale a pena. Ela é quase a dor de uma cirurgia, para remover o câncer de sua alma. E uma vez que você tenha passado pela dor, o medo se acaba, a ambição se acaba.
....toda ambição existe a partir do medo. Toda ambição existe a partir de um complexo de inferioridade, porque você tem medo de ser você mesmo. Você quer ser alguma outra pessoa - um presidente do país, um primeiro-ministro, o homem mais rico... e as pessoas encontram diferentes alternativas, pois tantas pessoas não podem ser o presidente, não podem ser o mais rico, não podem ser o primeiro-ministro.
....O homem está em busca de ser alguém.
Ele não consegue se permitir simplesmente ser ele mesmo.
Simplesmente ser ele mesmo significa ser ninguém.
....As pessoas querem ser alguém. Mas é devido ao medo. O medo é de
que ninguém o conheça; de que não faça qualquer diferença para o mundo se você existir ou não. Ninguém se lembrará se você esteve aqui ou não. As pessoas não estão interessadas em viver, mas em serem lembradas.
Qual a utilidade de ser lembrado quando você já estiver morto?
E certamente não existe fim, porque não existe começo algum.
A Existência sempre esteve aqui, ela está aqui, ela sempre estará aqui, e nós somos parte dela. As formas podem mudar, mas a realidade essencial permanece a mesma.
.....O único problema para alcançar novamente a sua infância é que tudo aquilo que, devido à confiança e ao medo, você aceitou da família, da sociedade, da igreja, da escola - terá que ser abandonado.
Isto precisa de coragem.
Mas o que você abandonar não tem significado e o que você vai ganhar é imenso em sua verdade, em sua beleza, em sua alegria. E isto vale a pena, abandonar tudo e tornar-se uma criança inocente novamente.
.....Naturalmente, a segunda infância tem uma grande
diferença da primeira. A primeira infância era ignorante e a segunda é inocente.
O ponto de demarcação é muito difícil, mas uma vez compreendido, é simples.
A criança ignorante parece inocente, mas logo ela perderá a sua ignorância.
Ela terá que se tornar instruída. Na medida em que ela cresce, ela terá que alcançar todos os tipos de conhecimentos, simplesmente para sobreviver na sociedade.
A segunda infância chega depois que já você tiver conhecido tudo e souber da futilidade de todos esses conhecimentos e os tiver abandonado. Isso não é ignorância - é apenas um tipo de consciência totalmente diferente. Isso é consciência.
Você não cairá novamente na armadilha de ser bem informado.
A primeira infância era somente negativa, a segunda é alguma coisa positiva.
Ignorância significa ausência de conhecimento.
Inocência significa a presença do deslumbramento”.
OSHO - The Hidden Splendor