Baruch Espinoza
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 23/01/2024 22:36:21
"O ódio é a tristeza acompanhada da ideia de uma causa exterior. O amor é a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior".
Duzentos anos antes da Psicanálise surgir com seus conceitos o pensador holandês Baruch (ou Benedito) Espinoza já mencionava o mecanismo de projeção e funcionamento da mente, e como o inconsciente se reflete nas ações ditas conscientes.
"Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa".
(Espinoza; Ética, parte 3)
Para Espinoza, a ilusão dos homens de que suas ações resultam de uma livre decisão da mente é consequência de eles serem conscientes apenas de suas ações enquanto ignoram as causas pelas quais são determinados, o que faz com que suas ações sejam determinadas pelas paixões. Isso é o que ele chama de primeiro gênero de conhecimento, imaginação ou idéias inadequadas (a consciência de nossos afetos e a inconsciência do que os determina). O segundo gênero de conhecimento são as noções comuns ou idéias adequadas, que se caraterizam pela consciência do que nos determina a agir. As ideias adequadas sempre são efeitos da alegria, acarretam alegria e impulsionam a atividade, enquanto a imaginação (ideias inadequadas) se caracteriza pela passividade e pelo acaso de causar ou ser efeito da alegria ou da tristeza.
Em diversas obras Espinoza diz que é nocivo ridicularizar ou reprovar alguém dominado pelas paixões, porque isso não depende da livre decisão da mente. O único modo do homem que se guia pela razão ajudar os outros é, nas palavras dele, "Não rir nem chorar, mas compreender". Isso é bastante interessante, pois para Sigmund Freud um trauma não tem uma relação de causa e efeito com a realidade, ou seja, não dependem só de fatos reais, mas sim de como aquilo foi percebido pela pessoa. As paixões, assim como o ódio ou alegria advindos dela, também são baseadas em percepções e potencializadas por mecanismos internos, projetados em algo exterior. Por isso tem gente que "mata por amor", por mais reprovável e absurdo que pareça o conceito, e a psicologia só reforça que a própria pessoa é a responsável por uma atitude dessas, por maior que tenha sido a motivação externa.
Seu pensamento influenciou os conceitos de Schopenhauer, Nietzsche e Bergson em seus "vontade de vencer", "vontade de poder" e "élan vital", respectivamente.
Este vai ser um post um pouco diferente. Em vez de me aprofundar num assunto/autor e trazer um resumo e minha interpretação sobre ele, desta vez quero que vocês me ajudem no desenvolvimento. Tudo o que peguei de Espinoza foi um texto da Wikipedia brasileira, e isso é definitivamente pouco. Minha intenção não é trazer mais dados sobre ele, e sim filosofar um pouco a respeito do seu pensamento, e pra isso eu preciso da ajuda de quem realmente se debruçou sobre seus trabalhos. Vamos às questões:
1º A ética de Espinoza é a ética da alegria. Para ele, só a alegria é boa, unicamente a alegria nos leva ao amor no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza sempre é má, intrinsecamente relacionada ao ódio, a tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros. Esse conceito - simplificado e exposto dessa forma - eu certamente discordo, pois a tristeza bem vivida (o período de luto, de recolhimento, a noite escura da alma) pode ser muito mais benéfico do que jogar a tristeza pra baixo do tapete. Mas será que esse conceito não está aliado a um outro pensamento dele, o de que "Compreender é o começo da aprovação"? Viver a tristeza, integrá-la e compreendê-la é o caminho para a saúde mental, e não viver a tristeza pela tristeza, que por si só é, de fato, destrutiva.
2º Além dos dois gêneros citados anteriormente, Espinoza afirma ainda um terceiro gênero de conhecimento, chamado beatitude. Esse conhecimento se caracteriza por compreender nas coisas singulares o aspecto da eternidade. Seria algo como ver as coisas singulares como inseparáveis dos modos da substância infinita e eterna (Deus), compreendendo que as coisas singulares são elas mesmas eternas, existindo fora do tempo. Segundo a Wikipedia, é um dos conceitos de Espinoza mais controversos e discutidos. Será que este é um equivalente ao estado de iluminação descrito no Sutra de Diamante? Ou é mais uma referência direta ao mundo das idéias de Platão? Ou talvez algum mundo imanente de outra cultura?
3º Espinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós. A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Para Espinoza, essa substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma. É singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma, é infinita e indivisível.
Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade, já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra). Consequentemente, o Deus de Espinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.
Como esse pensamento de Espinoza se choca (ou coexiste) com o de Sto. Agostinho? Seria este o "Nada Mãe? A matéria escura? O tecido do Cosmos? Sinceramente, pelo texto da Wikipedia não deu pra entender o porque da substância não poder ser sem existir.
Espero que possamos trazer luz nos comentários e nos enriquecer com isso, e que as possíveis discussões sejam visando trazer conhecimento a todos nós e não só pelo prazer de ganhar uma discussão.