Carl Jung Reloaded
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 21/05/2004 11:44:36
"Até o ponto que podemos compreender, o único propósito da existência humana é acender a luz do SENTIDO na escuridão do mero SER".
Funções psíquicas
Há quatro funções psicológicas fundamentais para se analisar o ser humano:
- Pensamento (pessoas assim são grandes planejadoras e tendem a se agarrar a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com contraditória evidência);
- Sentimento (Preferem emoções fortes e intensas - ainda que negativas - a experiências apáticas e mornas. Faz seu julgamento com base em seus próprios valores, como por exemplo, se é bom ou mau, se é certo ou errado, agradável ou desagradável);
- Sensação (O enfoque está na experiência direta, e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise da experiência. Tem a ver com o que a pessoa pode ver, tocar, cheirar. Os sensitivos trabalham melhor com instrumentos, aparelhos, veículos e utensílios do que qualquer um dos outros tipos);
- Intuição (O homem intuitivo vai além dos fatos, sentimentos e idéias, em busca da essência da realidade. As implicações da experiência - o que poderia acontecer, o que é possível - são mais importantes para os intuitivos do que a experiência real por si mesma. Dão significados às suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos).
As duas primeiras são funções racionais (fazem uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização) e as duas últimas são irracionais (por serem baseadas na percepção do concreto, do particular e do acidental). O pensamento é ideacional e intelectual.
O sentimento mede o valor das coisas para o sujeito. A sensação é a percepção da realidade; traz fatos concretos ou representações do mundo. A intuição é a percepção por meio de processos inconscientes e conteúdos subliminares.
Embora todo mundo tenha as quatro funções, elas não são desenvolvidas em sua totalidade. Geralmente uma delas é predominante na consciência, e é chamada de função superior, e uma entre as três restantes pode agir como auxiliar da função superior. Em caso de "pane" da principal, entra automaticamente em cena a outra. A menos usada das quatro é chamada de função inferior, que fica reprimida, relegada ao mais profundo do inconsciente.
Se todas as funções pudessem ser igualmente fortes no consciente e harmonizadas (como se dispostas na borda de um círculo) o centro desse círculo seria o self realizado plenamente. É o núcleo, mas também é toda a esfera. O problema é que nem sempre acessamos este núcleo. Mas não fiquem pensando que é um ponto localizável na alma humana, algo que possa ser acessado tipo "Ah, eu estou falando com o self", porque ele é um conjunto que define o ser humano como um TODO, e o ser humano TAMBÉM é sua coletividade e seu meio (inconsciente coletivo).
A abordagem do self vem de encontro à filosofia Zen, quando diz: "Se o Zen Budismo considerasse importante expressar-se aqui apoiado no uso da terminologia, poderia fazê-lo do seguinte modo: o centro do ser situa-se além da multiplicidade, da identidade-diversidade e, no entanto, não se situa além delas. E, como situar-se além e não-além disto é igualmente uma contradição, acrescentar-se-ia como explicação: o centro do ser não é um nem outro, nem ambos, e absolutamente não pode ser descrito por meio do pensamento. Quem desejar saber o que ele é, deve percorrer o Caminho Zen."
(O caminho Zen, de Eugen Herrigel)
Nicolau de Cusa, monge filósofo do século XV, já usara imagem semelhante ao referir-se à onisciência divina: "Deus é uma esfera cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não se delimita em parte alguma".
Self
O self é o objetivo da vida. Um alvo pelo qual as pessoas sempre lutam, mas que raramente atingem. Os arquétipos dessa realização são Jesus e Buda (meus heróis, meus heróis!). O self pode ser definido como um fator de orientação intima. Jung o compara ao (Jung, como psicanalista, descreve esses orientadores como complexos, manifestações semi-autônomas de sua personalidade. Essa é a beleza de Jung. Ele não se limita a ficar criticando, dizendo se tá certo ou errado. Uma vez que ele SABE que existe o fenômeno, vai atrás de uma resposta que o convença, estruturada em uma cadeia lógica de pensamentos, que nem sempre podem ser comprovados, mas que pelo menos não é como com os cientistas tradicionais, que preferem ignorar os fatos do que admitir que existe algo que não podem explicar! É por isso que nunca sei se o meu Grilo falante é algo externo ou interno, porque sei que o inconsciente TAMBÉM pode ser autônomo.) daemon(*), ou gênio, que hoje chamamos de guia espiritual ou anjo da guarda, seja ele interior ou exterior a você. O self é o ponto central da personalidade, em torno do qual giram todos os outros sistemas. Ele sustenta a união desses sistemas, e fornece unidade, equilíbrio e estabilidade à personalidade. Antes de o self emergir, é necessário que os vários componentes da personalidade se desenvolvam plenamente. Por esta razão, o arquétipo do self não se torna evidente até que o indivíduo tenha atingido a idade madura. Nessa época, ele procura deslocar-se do ego consciente para um ponto a meio caminho entre o consciente e o inconsciente. Manter-se nessa região intermediária constitui-se no domínio do self. Qualquer semelhança com o caminho do meio, de Buda, não é coincidência.
"Não posso lhe dizer como é um homem que goza de uma completa auto-realização, nunca vi nenhum... Antes de buscar a perfeição, devemos viver o homem comum, sem mutilação"
Introversão e extroversão
Jung descobriu que cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado para seu interior ou para o exterior, sendo que a energia dos introvertidos se dirige em direção a seu mundo interno, enquanto a energia do extrovertido é mais focalizada no mundo externo. Entretanto, ninguém é totalmente introvertido ou extrovertido. Algumas vezes a introversão é mais apropriada, em outras ocasiões a extroversão é mais adequada, mas, as duas atitudes se excluem mutuamente, de forma que não se pode manter ambas ao mesmo tempo. Jung também enfatiza que nenhuma das duas é melhor que a outra, citando que o mundo precisa dos dois tipos de pessoas. Darwin, por exemplo, era predominantemente extrovertido, enquanto Kant era introvertido por excelência. O ideal para o ser humano é ser flexível, capaz de adotar qualquer uma dessas atitudes quando for apropriado, e operar em equilíbrio entre essas duas qualidades.
"O pêndulo da mente se alterna entre perceber e não-perceber, e não entre certo e errado."
Continua no Revolutions