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Como organizar os sentimentos

por Izabel Telles em Espiritualidade
Atualizado em 25/08/2003 11:13:24


Aqueles que vivem disputando espaço dentro da sua mente

Todo mundo sabe que nosso corpo é feito de partes: cabeça, tronco e membros e mais todas as partes que existem dentro destes compartimentos. Dentro da nossa mente também estamos divididos em partes. Temos aquela parte adulta que está plena de sabedoria e consciência. É com ela que, geralmente vencemos nas nossas profissões, fazemos boas e sólidas amizades, andamos por este mundo sem nos perdermos.

Temos também aquela parte que parece ser primitiva e que muitas vezes aparece sobre a forma de impulsos violentos e nos faz agredir os outros, sentir ódio, raiva, ranger os dentes e muitas vezes literalmente “avançar” contra o “inimigo” como se fôssemos um jaguar pronto para atacar o caçador.
Na mesma mente pode também existir um ser crente em Deus, um místico que conversa com os anjos e que reza antes de dormir. Veja quanta guerra existe em nome de Deus. Quantos fanáticos religiosos colocam a metralhadora no chão, ajoelham-se para Meca para rezar e depois levantam-se pegam a metralhadora e saem disparando fogo contra tudo e todos.

Dividindo espaço com todas estas partes pode existir uma outra parte que é a nossa porção infantil. Uma parte que teima em não crescer e que se comporta como criança mimada e nervosa pedindo comida, pedindo brinquedo, não querendo compartilhar seu território. Vemos adultos fazendo manha, ”batendo nos irmãos”, segurando de forma egoísta o curso da vida, teimando em não ceder, de ombros encolhidos e boca cerrada porque o outro não correspondeu às suas expectativas. Do gênero “não brinco mais”.

Existem nas empresas muitos chefes que expõem este lado criança. Eles querem ser os donos da bola, das regras, do jogo e do apito e se eles não forem os juizes não tem nada para ninguém. São os insaciáveis. Exatamente como as crianças. Você dá um brinquedo e ele brinca cinco minutos e depois já quer outro, outro, outro e isso não tem fim.

Imagine todas estas partes interagindo dia e noite dentro da sua mente. É mesmo preciso ser um mediador bem treinado para fazer com que cada parte ceda na hora certa e componha com as outras partes buscando paz, justiça e bem estar. No entanto, temos que dizer que é esta parte criança, na sua parte positiva, que nos dá alegria, criatividade, vontade de conhecer coisas novas, que brinca e se diverte, que nos leva para correr riscos que podem mudar nossas vidas para melhor. Esta criança sendo bem orientada pelo nosso adulto interno pode também fazer maravilhas por nós.

Mas voltando à guerra destas partes, pense, por exemplo, que hoje você acorda com seu leão rosnando dentro de você. O primeiro que aparecer para dar bom dia já é recebido com um rugido. Entra no carro e vai para o trabalho com o leão a toda. Corre, breca, persegue o outro que fechou, grita com o celular que toca até que vê na sua frente uma criança pedindo esmola. Confrontado com esta imagem o leão acalma porque o samaritano piedoso surge de dentro da sua mente e junto vem uma enorme pena daquela criança abandonada passando fome e frio (que espelha sua criança interna). E você abre a janela e estende a mão para ela. O sinal abre e você começa a se lembrar dos seus filhos e a grande mãe ou o grande pai surge então lá do fundo da mente e junto vem um enorme sentimento de culpa por deixá-los tanto tempo sozinhos nas mãos de babás e programas de TV. Algumas lágrimas escorrem pela sua face.

Com isso, a fera já cedeu lugar para a tristeza e a dor. E um coquetel de enzimas já está atuando dentro do seu corpo físico acionando desde dor de estômago até frio nas mãos, dor de cabeça, taquicardia e uma série de reações orgânicas a este verdadeiro laboratório químico que são nossos hormônios tentando nos manter prontos para ficar ou fugir. E assim o dia passa e os personagens da nossa mente vão surgindo e fugindo, revezando ou interagindo todos de uma vez e quando chega a noite nossa energia se foi e somos seres absolutamente exaustos. Queremos dormir, esquecer a guerra do dia, fechar os olhos e sonhar com imagens de beleza, amor e alegria. Como se isso fosse possível. Sabemos que nossos sonhos são reflexos da forma como vivemos.

Nossa mente é povoada por imagens. Imagens que tem simbolicamente as caras das nossas partes. Daquela parte criança que ficou presa lá nos cinco anos de idade e que se tornou anoréxica porque não quer crescer. Aquela outra que ficou presa na eterna desculpa de que “só os ricos tem chance de vencer”. Aquela outra que foi fotografada pela nossa mente como uma imensa prisão “da qual eu não consigo sair”. Ou daquela em que estou presa dentro de uma garrafa de bebida por isso não posso parar de beber. Ou daquela em que uma parte adulta pilota um avião enquanto leva ao seu lado um co-piloto do tamanho de uma caixa de fósforos que treme, tem as mãos suando e não consegue alcançar o manche. Imagens de dois lados de uma só mente que, geralmente, não conseguem se entender ou negociar uma saudável convivência. Afinal, aqui fora as coisas são como aqui dentro. Temos todos os dias que nos exercitar na arte da convivência com os mais diferentes tipos de pessoas e suas reações.

Harmonizar as partes. É esta a proposta deste artigo. E aqui está para você um exercício curtinho de visualização. Com ele você poderá conseguir criar paz e harmonia entre alguns personagens da sua mente (uma vez que é impossível matá-los).

Faça o exercício pelo menos por 21 dias sempre ao acordar. Sente com os pés no chão e as palmas das mãos apoiadas nas suas pernas. Feche os olhos, respire lentamente três vezes e:

Veja, sinta, imagine ou perceba que na sua mente existem muitas partes que falam ao mesmo tempo criando stress e ruído. Se você precisa perder alguns quilos imagine, por exemplo, sua parte professora falando brava para a sua criança que ela precisa parar de comer tanto. E imagine a sua criança chorando porque não consegue. Imagine agora, e continuando no exemplo, que sua parte sabia, sua fada, sua mãe amorosa, seu guia interno, Deus (ou quem você considera ser um anjo bom) aproxima-se desta criança e mostra a ela com calma e carinho que comer demais pode ser prejudicial à saúde e à estética. Perceba esta criança entendendo isso e concordando em trocar o excesso de comida por uma gostosa brincadeira no parque de diversões. Sentindo que harmonizou o conflito, respire e abra os olhos.

E, para terminar, lembre-se de que a vida é maravilhosa, especialmente quando aprendemos a esquecer e a perdoar o mal que nos fizeram e que nos fizemos.


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izabel
Izabel Telles é terapeuta holística e sensitiva formada pelo American Institute for Mental Imagery de Nova Iorque. Tem três livros publicados: "O outro lado da alma", pela Axis Mundi, "Feche os olhos e veja" e "O livro das transformações" pela Editora Agora.
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