Conversando com Paramahamsa Ramakrishna
por Wagner Borges em EspiritualidadeAtualizado em 30/07/2004 11:17:04
Olá, (Paramahamsa Ramakrishna: Mestre iogue que viveu na Índia do século 19, e que é considerado até hoje como um dos maiores mestres espirituais surgidos na terra do Ganges. Para se ter uma idéia de sua influência espiritual, posso citar que grandes mestres da Índia do século 20 se referiram a ele com muito respeito e admiração, dentre eles o Mahatma Ghandi, Paramahamsa Yogananda e Rabindranath Tagore.) meu amigo(*).
Ainda agora, fechei os olhos por um instante e surgiu em minha tela mental interna a imagem de uma praia muito bonita e pacífica. Então, lembrei-me de uma coisa que você ensinou com muito carinho:
" (Brahman (do sânscrito): O Absoluto, O Supremo, O Grande Arquiteto Do Universo, Deus, O Pai-Mãe de todos.) Brahman(*) é o Oceano de Bem-Aventurança, e os (Avatar (do sânscrito): Emissário Divino, Canal da Divindade.) avatares(*) são as ondas desse oceano que chegam nas praias do coração levando as águas do amor incondicional".
Já faz algum tempo que não o vejo, mas sempre que lembro de você o meu coração derrete de amor. Sabe, alguns lhe tem devoção baseados na fé, e outros até fazem preces a você. No entanto, não consigo senti-lo assim. Inclusive porque já o vi sorrindo muitas vezes, e, em sua simplicidade, você já passa uma energia amorosa naturalmente. Penso em seu sorriso, mas não tenho vontade de rezar para você, e até começo a rir também, como agora mesmo enquanto escrevo.
É que você é tão natural, e a postura de devoção que as pessoas carregam é tão circunspecta e tão diferente do que elas são na prática da vida comum, que me parece muito estranho rezar para um cara tão legal que, mais do que mestre, conheci como amigo e tutor espiritual.
Certa vez, você me disse: "Cada pessoa é avatar de alguma qualidade que a Mãe Divina lhe emprestou para a travessia dos mares da vida. Seja você um avatar da vida".
Pois é, estou tentando... E o fato de lembrar de você me ajuda a não desviar-me da rota espiritual que vim trilhar nessa vida.
Não lhe ofereço preces, guirlandas floridas, mantras ou qualquer devoção, pois sei que a melhor maneira de honrá-lo é esforçando-me para trabalhar dignamente com a Espiritualidade na tarefa que você me inspirou um dia.
Outro dia vi a foto de uma estátua sua reproduzida num livro. Desculpe-me, mas tive que rir ao olhar aquilo. É que entre a solenidade da estátua e a sua simplicidade e alegria, preferi ficar com a segunda opção.
Sei que a estátua é uma homenagem sincera das pessoas e que tem seu papel de servir de catalisador dos pensamentos e sentimentos delas em relação a você e às suas energias espirituais. Porém, não consigo deixar de pensar que é melhor concentrar-me para vibrar pensamentos, sentimentos e energias na intenção dos sofredores de todo lugar, do que projetá-los na direção de uma estátua.
Também sei que é provável que as pessoas olhem para a estátua, e por motivos psicológicos ou energéticos se inspirem e melhorem de alguma maneira.
Contudo, quem já viu o seu sorriso alguma vez, jamais precisará de algum elemento material para se inspirar, pois o seu próprio coração já sabe onde buscar a sua vibração sutil.
Há tempos atrás, durante uma experiência fora do corpo, vi você e Sarada Devi prestando assistência extrafísica para um monte de espíritos desencarnados nas furnas (Umbral: Plano astral denso, Plano espiritual atrasado, Astral inferior, Inferno, Hades (gregos), Gehena (judeus), Kama-loka (hindus), Lugar de trevas e ranger de dentes (segundo a Bíblia). - Furnas umbralinas (ou trevas umbralinas) se referem a sítios extrafísicos situados em meio a essas regiões pesadas do Astral inferior.) umbralinas(*). Percebi a atuação de sua equipe espiritual aportando a ajuda naqueles sítios extrafísicos esquecidos, e senti o respeito e o carinho com que vocês tratavam aqueles espíritos endurecidos nas vibrações do ódio e enlouquecidos de tanta dor dentro de si mesmos.
Fico pensando se as pessoas que o evocam nos templos religiosos têm noção de que você está trabalhando de monte e aportando ajuda invisível nos umbrais espirituais e também para as crianças famintas da África.
Já o vi abraçando com amor um mago trevoso e procurando passar-lhe objetivos mais altos. E também já o vi dissolvendo sozinho com as suas energias um ambiente terrível situado nas trevas umbralinas.
Não sei se deveria estar escrevendo sobre isso, já que a sua atividade e a sua postura sempre foram discretas. Porém, depois de ver a foto daquela estátua fiquei pensando muito em contar um pouco de suas atividades extrafísicas.
Sei que os religiosos que lhe tem devoção como a um santo não irão gostar de ler isso aqui, mas sei que há outras pessoas que o admiram muito e que têm a mente mais arejada e o coração sintonizado com outros tempos e lugares além da velha Índia, e que irão gostar de saber que você não está descansando em algum paraíso espiritual, mas que continua sorrindo, ajudando e amando invisivelmente a humanidade inteira, física e extrafísica.
Sim, você continua fazendo o papel de avatar que Brahman lhe ordenou: ser uma onda de amor beijando as praias dos corações no silêncio da assistência espiritual incondicional.
E aqui, no cantinho secreto de minha habitação na metrópole cinzenta e agitada, templo de concreto onde a vida me trouxe para trabalhar e aprender, deixo a você um grande agradecimento pela sua paciência e insistência em confiar tarefas espirituais a um cara tão imperfeito como eu, que entre acertos e desacertos vem tentando seguir o seu principal ensinamento: "É só o Amor que nos leva"...
Paz e Luz.