Convivência
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 17/03/2006 18:07:11
A arte da convivência é a principal lição a ser aprendida nessa vida. Conviver com o outro e com sua maneira de ser, geralmente diferente da nossa, exige paciência, flexibilidade e a capacidade de aceitar o fato inquestionável de que cada ser humano é único em sua individualidade e não pode ser moldado de acordo com a nossa vontade.
O campo em que este desafio se torna maior é o das relações afetivas. É no relacionamento afetivo, principalmente no casamento, que a capacidade de aceitar o outro como é, parece diminuir com o aumento da convivência.
De um modo geral, quando nos apaixonamos, tendemos a idealizar o parceiro, e seus defeitos e limitações são quase invisíveis para nós. Mas, na medida em que o tempo passa e a rotina se estabelece, os defeitos assumem uma proporção espantosa.
As diferenças na maneira de encarar a vida, nos valores que cada um tem como diretriz, e aquilo de que precisam para serem felizes, parecem muitas vezes inconciliáveis.
É necessário uma grande dose de tolerância e um bem desenvolvido senso de realidade, ou seja, a consciência de que não podemos exigir do outro algo que ele não pode nos dar. Querer moldá-lo de acordo com o nosso desejo e esperar que ele corresponda a isso sem reação, é uma atitude ilusória.
Uma das primeiras coisas que desaparece quando os conflitos surgem, é a amizade entre os parceiros. A cumplicidade do início, quando ambos pareciam ser capazes de fazer qualquer coisa para manter a harmonia do par, dá lugar a uma atitude de cobrança, que muitas vezes magoa o outro, levando-o a fechar-se ainda mais. Uma atitude compreensiva e solidária pode obter mais resultados do que a crítica constante.
Entender que às vezes a mudança nas atitudes não ocorre por falta de vontade, mas por uma dificuldade e limitação reais, é um passo importante para que se busque ajudar o outro a procurar a ajuda necessária para vencer seus bloqueios.
Mas esta postura deve encontrar uma ressonância no parceiro, pois se ele se mantiver numa atitude de teimosia e arrogância, negando-se a sequer discutir aquilo que incomoda a outra pessoa, aí não há qualquer possibilidade de que a cumplicidade possa subsistir. O diálogo é fundamental para que cada parte tenha espaço para expor seus sentimentos e oferecer ao outro a reciprocidade.
Quando uma relação não vai bem, é essencial que cada parceiro faça um exercício de reflexão acerca das próprias atitudes, de sua parcela de responsabilidade no problema e de sua disposição em colaborar para que a união sobreviva. Sem isso, a convivência será uma difícil realidade, onde cada um estará a cada dia mais sozinho e infeliz.
A fragilidade do amor
O amor é muito frágil, muito delicado. Você precisa ser muito cuidadoso e cauteloso com ele. Você pode causar um tal dano que o outro se fecha, fica defensivo. Se você estiver brigando muito, seu parceiro começará a escapar; vai se tornar cada vez mais frio e fechado, de modo a não ficar mais vulnerável a seu ataque. Então, você o atacará ainda mais, porque você resistirá a essa frieza. Isso pode se tornar um círculo vicioso e é assim que pessoas enamoradas pouco a pouco se separam.
... É somente a ignorância que mata o amor. Ambos queriam ficar juntos, mas ambos eram ignorantes. A ignorância deles fez com que entrassem em jogos psicológicos, e esses jogos se multiplicaram. Pouco a pouco eles vão se afastando. (Osho, “Beloved of my heart).
Você tem amor dentro de você?
Todo ser humano tem o direito de nascimento de não ser dominado por ninguém – mas também um dever de nascimento de não tentar dominar ninguém. E só assim a amizade pode florescer.
O amor precisa de uma clareza de visão.
O amor precisa de uma limpeza de todas as espécies de coisas feias que estão em sua mente – ciúme, raiva, desejo de dominar.
Pintar belos quadros, criar poesias, esculturas, música, dança – isso está em suas mãos. Mas quando você entra em contato com um ser humano, você tem que compreender que, do outro lado, está presente o mesmo tipo de consciência. Você tem que ter respeito e dar dignidade à pessoa que você ama.
... Amor é um outro nome de compartilhar sua energia abundante. Você tem demais, está carregado dela. Você gostaria de compartilhá-la com as pessoas de quem você gosta.
O amor não é algo a ser obtido.
Amor é algo a ser dado.
Mas você só pode dar quando você o tem.
Você tem amor dentro de você?
Você já se fez essa pergunta?
Quando sentado em silêncio, você já observou? Você tem alguma energia de amor para dar?
... Ambos fantasiam, fingindo que vão dar ao outro o próprio paraíso. Ambos estão tentando convencer o outro que “Quando você se casar comigo, as mil e uma noites da Arábia ficarão esquecidas – nossas noites, nossos dias serão todos dourados”.
Mas você não sabe que não tem nada a dar. Todas essas coisas que você está dizendo estão relacionadas ao que você quer ganhar. E o outro está fazendo o mesmo. Uma vez casados, então virão os problemas, porque ambos estão esperando as mil e uma noites e nem mesmo uma noite indiana está acontecendo!
Então vem uma raiva, uma fúria que, pouco a pouco, se torna venenosa.
O amor se transformando em ódio é um fenômeno muito simples, porque todo mundo se sente traído.
O relacionamento humano precisa de compreensão.
Minha sugestão é: medite. Torne-se mais e mais silencioso, calmo, tranqüilo. Deixe uma serenidade surgir em você.
Isso lhe ajudará de mil e uma maneiras, não apenas no amor.
OSHO, Sermons in Stones, # 27