Corpo e Alma
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 07/12/2007 00:50:06
Um dos mais importantes passos para o encontro da paz interior é libertar-se das crenças negativas que nos incutiram com relação ao nosso corpo. O corpo é tão importante em nossa jornada no plano físico, quanto nossa alma. Sem ele, seria impossível usufruirmos da beleza e dos prazeres que a vida nos apresenta, a cada momento.
Devemos respeitar suas necessidades e desejos, mas sempre com equilíbrio e sensatez. Satisfazer as necessidades do corpo de forma obsessiva ou compulsiva, é característico da mente e do emocional em desequilíbrio.
O sofrimento físico existe para nos lembrar da transitoriedade e da fragilidade de nosso corpo, que necessita de amor e de cuidados tanto quanto nosso espírito. O prazer que podemos obter através de nossos sentidos físicos nos enriquece a alma e nos dá força para superar os momentos difíceis quando estes se apresentam.
Exercitar a consciência acerca dos sentidos físicos é uma forma de meditação muito comum entre os orientais. Quanto mais consciência colocarmos em nossos sentidos, maior será a chance de silenciarmos a mente e interromper o turbilhão de pensamentos que nos impede de acessar nosso silêncio interior.
Rir, celebrar, dançar, amar, cantar, são atitudes fundamentais para a vivência plena de nossa vida no plano físico e constituem uma forma eficaz de nos libertarmos das repressões e dos conceitos limitadores que nos impedem de acessar a luz de nosso espírito.
Aproveitemos cada minuto para viver em totalidade, pois o futuro é somente uma hipótese, o momento presente é tudo o que temos para saborear.
“Sem Zorba não há Buda
.... Zorba, o Buda é o... início de um novo tipo de religiosidade que não precisa de rótulo - cristianismo, judaismo ou budismo.
... Existe algum conflito entre seu corpo e sua alma? Existe algum conflito entre a sua vida e a sua consciência? Existe algum conflito entre a sua mão direita e sua mão esquerda? Todos eles são um em uma unidade orgânica.
O seu corpo não é algo a ser condenado, mas sim algo ao qual se deve estar agradecido, porque ele é uma das grandes coisas da existência, a mais milagrosa; o seu funcionamento é simplesmente inacreditável. Todas as partes de seu corpo funcionam como uma orquestra. Os seus olhos, as suas mãos, as suas pernas têm uma comunhão interna. Não acontece de seus olhos quererem ir para o leste e suas pernas irem para o oeste, ou que você esteja faminto, mas sua boca se recuse a comer: a fome está no estômago, e o que isto tem a ver com a boca? - A boca está fazendo greve. Não, o seu corpo não tem conflito algum. Ele se move com uma sincronicidade interna, sempre junto.
E sua alma não é algo oposto ao seu corpo. Se o seu corpo é a casa, a alma é a sua hóspede. E não há qualquer necessidade do hóspede e o anfitrião brigarem continuamente...
... Uma vez que seu corpo e sua alma comecem a se mover de mãos dadas, dançando juntos, você se torna Zorba, o Buda. Então você pode curtir tudo desta vida, tudo o que está fora de você, e também pode curtir tudo o que está dentro de você.
... O corpo é a escola onde você aprende a nadar em águas rasas. E uma vez que você tenha aprendido a nadar, então não interessa qual a profundidade da água. Então você pode ir para a parte mais profunda do lago; tudo será a mesma coisa para você. (...)
Mas é preciso lembrá-lo a respeito da vida do Buda. Até os seus vinte nove anos, ele era um puro Zorba. Ele tinha disponível, às dúzias, as melhores garotas de seu reino. Todo o seu palácio era cheio de música e dança. Ele tinha as melhores comidas, as melhores roupas, belos palácios para viver, jardins fantásticos. Ele vivia mais profundamente que o pobre Zorba o Grego.
... a vida do Buda que era muito mais rica. Dia sim, dia não, ele vivia no luxo, cercado por tudo que ele podia imaginar. Ele estava vivendo numa terra de sonhos. Foi essa experiência que o tornou um Buda. Isto não tem sido analisado desta maneira. Ninguém se preocupa com a primeira parte de sua vida – que é a verdadeira base.
Ele ficou enfastiado daquilo. Ele experimentou todas as alegrias do lado de fora, agora ele queria algo mais, algo mais profundo, que não estava disponível no mundo exterior. Para ir ao mais profundo você tem que se lançar para dentro de si. Com a idade de vinte e nove anos ele deixou o palácio à noite em busca do interior. Era o Zorba partindo em busca do Buda.
Zorba o Grego nunca se tornou um Buda pela simples razão que a sua qualidade de Zorba estava incompleta. Ele é um belo homem, cheio de vivacidade, mas um pobre homem. Ele quer viver a vida em sua intensidade, mas ele não tem oportunidade de vivê-la. Ele dança, ele canta, mas ele não conhece as nuances mais altas da música. Ele não conhece a dança na qual o dançarino desaparece.
O Zorba no Buda conhecia as partes mais altas e mais profundas do mundo exterior. Conhecendo tudo isso, ele estava pronto agora para continuar uma busca mais interior. O mundo é bom, mas não é bom o suficiente; algo mais é necessário. Ele lhe dá uns vislumbres momentâneos; o Buda quer algo eterno. E todos esses jogos acabarão com a morte. Ele quer conhecer algo que não se acaba com a morte.
Se eu tivesse que escrever a vida de Gautama Buda, eu começaria do Zorba. E quando ele já conhece completamente o mundo exterior e tudo o que ele pode dar e descobre que ali está faltando sentido, ele parte em busca - porque ir para dentro era a única direção que ele não tinha olhado. Ele nunca olhou para trás - não havia motivo para ele olhar para trás, ele já tinha vivido tudo aquilo.
E ele não era um buscador religioso que desconhecia o mundo exterior, de modo algum. Ele era um Zorba – ele foi para dentro de si com a mesma vivacidade, com a mesma força, com o mesmo poder. E, obviamente, ele descobriu em seu ser mais interno o contentamento, o preenchimento, o sentido, a benção que ele estava procurando. ... Para mim, ser um Zorba é o começo da jornada, e tornar-se um Buda é alcançar a meta. E isto pode acontecer no mesmo indivíduo – isto só pode acontecer no mesmo indivíduo. É por isto que eu estou insistindo continuamente: não crie qualquer divisão em sua vida, não condene coisa alguma de seu corpo. Viva-o – não de má vontade – viva-o totalmente, intensamente. Este próprio viver torná-lo-á capaz de uma outra busca.
... Livrar-se do mundo externo não acontece através do escapismo. A libertação do mundo externo chega quando se vive esse mundo totalmente, até já não mais haver para onde ir. Resta então apenas uma dimensão e é natural que você queira buscar internamente essa dimensão remanescente. E ali está o seu buda, a sua iluminação.
... Esta é a única possibilidade. Sem Zorba não há Buda. Zorba, naturalmente, não é o fim completo. Ele é a preparação para o Buda. Ele é a raiz; Buda é o florescimento.
Não destrua as raízes; de outra forma não haverá florescimento algum. Aquelas raízes suprem continuamente a nutrição das flores. Todas as cores nas flores vêm das raízes. Toda a dança das flores no vento vem das raízes. Não divida. Raízes e flores são dois lados de um mesmo fenômeno”.
Osho – From Bondage do Freedom - Tradução: Sw. Bodhi Champak