Desejo e Necessidade
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 28/01/2005 12:12:50
Um dos principais obstáculos à nossa harmonia e equilíbrio interior é o hábito que adquirimos de confundir desejo com necessidade. Isto fica bastante claro no que se refere aos bens materiais. A sociedade de consumo nos faz acreditar que cada bem anunciado nos meios de comunicação é algo essencial para nossa felicidade e realização.
A indústria do consumo cria o tempo todo desejos artificiais que são vendidos como necessidades básicas em nossa vida, sem as quais jamais poderemos ser felizes. Acreditar que um carro novo fará de nós pessoas bem sucedidas e autoconfiantes é uma ilusão das mais comuns, e quando a tão almejada felicidade não chega, passamos a desejar novos bens e objetos acreditando que algum deles preencherá nosso vazio.
Mas esta não é a única ilusão a que nos apegamos. A armadilha mais comum que nos enreda é a da carência afetiva. Ela nos leva a acreditar que precisamos de um relacionamento afetivo para ser bem-sucedidos e felizes. A definição mais adequada é que se trata de um desejo e não de uma necessidade.
Precisamos saber distinguir a noção de preferência da idéia de apego. Eu posso preferir viver ao lado de alguém ao invés de viver sozinha, e devo encarar isto como realmente é, uma preferência. Portanto, poderei ser feliz ainda que ela não se realize. Se, ao contrário, apegar-me desesperadamente a esta idéia, ela se tornará fonte de angústia e infelicidade, caso não se concretize em minha vida. Como disse Buda: “Todo sofrimento provém de nossos apegos”.
O Dr.Joshua David Stone, um dos principais expoentes da psicologia da alma, ou psicologia transpessoal afirma: “Se a sua felicidade depende de encontrar um relacionamento, e não de seu eu interior e de Deus, então você está adorando um falso deus. Tudo o que você põe em primeiro lugar na vida, isso é o que você adora. Mas não está escrito na Bíblia que não se deve adorar falsos deuses?
Não existe problema em buscar um relacionamento, e mesmo em orar pedindo a ajuda de Deus para encontrá-lo, porém, caso não o encontre, você pode ser feliz assim mesmo. O paradoxo da vida é que, quando você verdadeiramente abre mão e aceita sua felicidade plena, com ou sem relacionamento, é então que geralmente o encontra”.
Esta afirmação do Dr.Stone vem de encontro ao tema da dependência afetiva, abordado em artigo anterior. Sem esse empenho em fortalecer nosso eu interior, e em trabalharmos para anular nosso ego negativo, continuaremos presas fáceis da insegurança, da baixa auto-estima e da dependência afetiva.
A energia psíquica que emanamos não pode ser “vista” pelos olhos físicos, mas é facilmente sentida por nossos canais sutis. Portanto, atrairemos aqueles que estiverem na mesma sintonia do desequilíbrio e da falta de integração interior.
“O ego faz com que você se sinta só porque o faz buscar sua inteireza em outra pessoa, em vez de encontrá-la primeiro dentro de si mesmo e no seu relacionamento com Deus. Você nunca está realmente sozinho quando exibe uma atitude espiritual, pois é inteiro dentro de si mesmo e uma coisa só com Deus. Além disso, quando você se une a outra pessoa mantendo um estado de consciência baseado em relações corretas com o eu e com Deus, problemas relativos a traição, infidelidade e compromisso não podem surgir da mesma forma, em função da integridade das pessoas envolvidas. Se surgirem, e se um dos parceiros não estiver sentindo a santidade do vínculo, provavelmente isso significa que vocês dois não devem ficar realmente juntos”, diz Joshua Stone.
Se quisermos de fato encontrar um relacionamento equilibrado, harmonioso e feliz, devemos começar a trabalhar sobre nós mesmos imediatamente. Muitas pessoas adiam indefinidamente o início do trabalho interior, pois acreditam que seus problemas e dificuldades emocionais se resolverão por si só. Esta é a maior das ilusões que podemos cultivar.
Vencer nosso eu negativo exige vontade, disciplina e determinação. A felicidade interior é extremamente valiosa e vale o preço que pagamos em dedicação e esforço. Quanto mais tempo adiarmos o início deste trabalho, mais distante ficará de nós a oportunidade de alcançar alegria, equilíbrio e paz.