Fome
por Saul Brandalise Jr. em EspiritualidadeAtualizado em 28/10/2005 11:50:40
Você já passou fome?
Eu já. Foi numa pescaria no mar. O motor do barco pifou e ficamos algumas horas sem água, só com pinga e sem o que comer.
Com esforço chegamos em uma pedra e conseguimos saltar, apesar das ondas. Confesso que já estava ficando preocupado, pois os dois remos que tínhamos não eram suficientes para irmos mais longe do que a pedra em que aportamos.
Depois de uma rápida olhada, percebi que o máximo era o que havíamos conseguido, ficar a salvo em cima de uma pedra que não era maior do que dez metros quadrados.
Sabíamos que o socorro viria, assim só nos restava esperar. O sol forte logo iniciou o nosso “bronzeamento” forçado. A fome e a sede nos fizeram companhia... Para encurtar, foi neste dia que aprendi a comer mariscos ao natural.
Sim, crus mesmo.
Mas, pude meditar um pouco sobre a vida e cheguei a algumas conclusões...
Quando a fome de nosso corpo físico é saciada, precisamos cuidar dos nossos outros corpos que nos acompanham, Claro que se trata da fome da nossa busca de melhorias. De uma vida mais digna e de maiores valores. De uma sociedade mais justa. De um governo que realmente governe. De um amigo, mais amigo de nossa alma do que de nosso bolso.
A fome do saber viver. A fome da nossa sabedoria interna cada vez mais elevada. Fome de amar sem nada buscarmos em troca.
Fome de alma.
Mas, como tudo que é bom tem o outro lado, pensei também nos valores que tornam a fome indigesta. De quando nós temos um enorme apetite para as coisas que só mascaram as nossas vontades e que são meramente de aspecto material.
A fome pelo dinheiro.
Onde tudo se faz para que ele chegue, sem avaliarmos o quanto ”gastamos de energia“ para obtê-lo.
Qual o método que adotamos? E qual a formula que aplicamos? Pura ganância?
Talvez, dependendo de nossa obstinação material.
Fome de conforto, sem valorizarmos o que já temos e sem olharmos ao lado para podermos confrontar com os nossos irmãos que pouco ou nada tem.
Fome de poder pelo simples fato de sermos importantes nesse cargo ou naquela função.
E se pararmos para pensar, descobriremos muitas fomes e muitos apetites. É só questão de encaramos a realidade de nossas vidas...
Já sei separar qual a minha verdadeira fome e qual o meu real apetite? Estou capacitado para gerenciar as minhas necessidades ou é a sociedade que o faz?
Sou condutor ou vítima?
Onde estou? Qual o preço que pago para saciar-me?
Tenho realmente fome ou sou a seqüência de uma vontade que me foi imposta?
Estou buscando as minhas respostas. E você?
Sei que nos veremos.
Beijo na alma