Kwanzaa, final de ano à moda pan-africana
por Adília Belotti em EspiritualidadeAtualizado em 27/11/2008 16:08:12
Já falei sobre Maya Angelou. Devo ter falado, sim, porque já até esqueci quantas vezes seu poema, Fenomenal Woman, me ajudou a manter o queixo erguido e o peito aberto...
Maya Angelou é uma grande poetisa americana, mas, sobretudo, é uma mulher que se envolveu nos problemas do seu tempo e conseguiu ser ouvida numa época em que ser mulher, e negra, era, fundamentalmente, calar-se. Nascida em 1928, em St. Louis, no estado de Missouri, dá para imaginar como sua história esta costurada na história dos EUA, e, sobretudo, na história das relações entre negros e brancos, nos EUA.
Foi ela que fez o discurso de posse do ex-presidente Clinton, e, se você observou, ela estava lá ouvindo o discurso do presidente recém-eleito, Obama. E chorou, dizem. Também, pudera!
Pois tudo isso só para você entender porque me entusiasmei ao descobrir que é ela, Maya Angelou, a narradora do documentário The Black Candle, um filme inspirador, sobre famílias, comunidade e cultura negra, tudo girando em torno de uma celebração tipicamente afro-americana: Kwanzaa.
Kwanzaa é uma festa que dura sete dias. O nome “Kwanzaa” deriva da expressão “matunda ya kwanza“, que significa “primeiros frutos” em swahili, a língua mais falada entre as centenas de línguas tribais que existem na África. A festa dos “primeiros frutos” é típica dos povos ancestrais, a origem do Natal cristão seria uma celebração desse tipo, a festa da vitória da vida contra a morte, da luz contra as trevas, da colheita farta que garantia a continuidade da tribo contra a ameaça da fome e do extermínio. Não é pouca coisa… Na África, segundo leio no site oficial, os rituais associados à colheita existiram no passado e existem ainda hoje: “Estas celebrações eram comuns nos tempos antigos, mas também existem hoje, cultivadas por imensos grupos sociais, como os zulus, tanto quanto por pequenos agrupamentos, como os matabelos, os thonga e os lovedus, todos do sudeste do continente africano”.
A idéia de criar um feriado “pan-africano” é atribuída a um professor de estudos africanos da Universidade da Califórnia, Maulana Karenga, num tempo difícil, que ficou conhecido como “o movimento pelos direitos civis americanos”, mas que durou mais de uma década, teve ares de guerra civil e virou a sociedade racista dos EUA literalmente de cabeça para baixo. Kwanzaa foi celebrado pela primeira vez de 26 de dezembro de 1966 a 1 de janeiro de 1967, Martin Luther King seria assassinado um ano mais tarde e os negros americanos brigavam pelo direito de voto.
Suponho que na época tenha sido um grito de protesto e de dor e nem deve ser mera coincidência os dias da festa dos primeiros frutos serem coladinhos no Natal e no Ano-novo, mas hoje, em tempos outros, tempos de Maya Angelou e de Obama, o tom também é outro. E os 7 valores propostos pelo professor Karenga em 1966, Umoja (unidade), Kujichagulia (autodeterminação), Ujima (trabalho coletivo e responsabilidade), Ujamaa (cooperação econômica), Nia (propósito), Kuumba (criatividade) e Imani (fé) convidam à união das famílias, à reverência ao criador e à celebração das bençãos da vida.
Este ano, quem não comemorava, talvez se anime. Estamos longe ainda da igualdade racial, mas devemos estar muito perto, é tempo de celebrar, com certeza!
- Visite o site e assista o trailer do filme, The Black Candle;
- Navegue pelo site oficial do evento.