Livro Morrer não se improvisa
por Bel Cesar em EspiritualidadeAtualizado em 02/04/2002 16:41:58
Relatos que ajudam a compreender as necessidades emocionais e espirituais daqueles que enfrentam a morte
Um dos principais fundamentos do budismo tibetano reza que é de extrema importância o “começarmos e finalizarmos bem” tudo o que fazemos. Isso vale para todas as ações de nossas vidas. Viver é o ato constante em nossa passagem pela terra. Portanto, morrer com a mente clara e em paz é a melhor maneira para podermos concluir a nossa vida.
Este é o fio condutor do livro Morrer não se improvisa publicado pela Editora Gaia, escrito pela psicóloga Bel Cesar, que há mais de 10 anos atende pacientes que enfrentam o processo da morte. Sua prática psicoterápica é realizada, sempre, sob a perspectiva dos ensinamentos do budismo tibetano.
Em julho de 1999, em uma conversa informal com o seu mestre e amigo Lama Gangchen Rimpoche, Bel Cesar foi questionada sobre a possibilidade de escrever um livro que apresentasse sua experiência com pacientes que estão prestes a morrer. Pensou por alguns instantes e manteve-se reticente. Em seguida, Lama Gangchen foi mais incisivo: “Eu vou morrer e sei que meu trabalho vai continuar. E você, depois de morrer, quem vai dar continuidade ao seu trabalho?”. A partir deste diálogo, Bel Cesar compreendeu que o compartilhar sua experiência profissional era muito mais relevante do que resistir em expor o seu trabalho ou a história de seus pacientes.
Com coragem e determinação, Bel Cesar colocou no papel 12 casos atendidos desde 1991. Alterou o nome dos pacientes e pediu permissão aos familiares para publicá-los. Fez várias cópias e as distribuiu entre ami-gos e profissionais da área de saúde. Muitos se interessaram. Ela consegue integrar a convicção religiosa de cada paciente com sua prática budista e alcança resultados surpreendentes. Segundo ela, isso só é possível porque o budismo está baseado num sistema de sabedoria universal, respondendo às necessidades inerentes de cada indivíduo, que é encontrar um sentido tanto para a vida como para a morte e cultivar uma visão de paz que transcenda o materialismo imediatista.
Mais adiante, Bel Cesar percebeu que este material que estava se delineando no livro poderia dar a oportunidade para que outros profissionais comentassem suas experiências com pacientes terminais. Ela convidou 16 representantes das áreas médica, religiosa e psicoterápica do Brasil e exterior para que compartilhassem suas experiências nos 12 casos relatados. Além disso, percebeu também que poderia enriquecer, ainda mais, o conteúdo do livro, discorrendo sobre o atendimento hospice, uma prática criada na Inglaterra em 1967 e pouco difundida no Brasil, que consiste em oferecer uma abordagem multidisciplinar no atendimento às necessidades emocionais, físicas, espirituais e sociais do paciente e de seus familiares.
Resultado: Morrer não se improvisa é um livro vivencial, afinal fala da morte de maneira clara e direta. Assunto que a nossa cultura faz questão de banir de toda e qualquer discussão.
Bel Cesar é formada em musicoterapia, psicologia e Aura Soma. Desde 1987, sob a orientação espiritual de seu mestre Lama Gangchen Rimpoche, é a responsável pela direção do Centro de Dharma da Paz Shi De Choe Tsog, em São Paulo, onde realiza regularmente palestras e meditações. Nos últimos doze anos tem-se dedicado ao atendimento psicoterápico, incluindo pacientes próximos ao fim da vida e à educação não-formal de uma visão positiva sobre o processo da morte. Em 1996 publicou o Oráculo – Lung Ten, a partir da compilação de 108 predições de Lama Gangchen Rimpoche e outros mestres do budismo tibetano. Em janeiro de 2001 publicou Viagem Interior ao Tibete, escrito em forma de diário, em que ela relata sua peregrinação ao Tibete, em agosto de 2000, com um grupo de ocidentais e com seu filho, Lama Michel Rimpoche, para reinauguração do Monastério do Lama Gangchen Rimpoche.