Metamorfose ambulante...
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:09
Hoje não sei por que... a toda hora me pegava cantarolando aquela música do Raul Seixas, Metamorfose Ambulante... especialmente essa frase:
"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..."
Eu, conscientemente, detesto opinião formada, mas sei que partes minhas ainda se agarram a elas para se defender... como uma forma de proteção, um tipo de escudo que sempre está disponível dentro do campo do conhecido, aquele espaço que controlamos e onde aprendemos a nos sentir seguros...
Mas a música insistia tanto que resolvi observar onde estava me prendendo por ter ideias fixas sobre alguma coisa... E não é que descobri... e olha que nem foi preciso procurar muito... Descobri ideias antigas sobre uma situação que, olhadas de frente desmoronaram de tão velhas... e sei que vou descobrir mais...
Vendo essa situação sob outro olhar constatei que... minuto a minuto as opiniões formadas caem por terra porque a vida é um fluxo permanente de mudanças... onde tudo se transforma o tempo todo e onde o desconhecido se estabelece a cada momento.
A cada nova ameaça do desconhecido nos agarramos às nossas ideias para nos defender... e fazemos isso de forma tão automática que nem percebemos como elas podem estar ultrapassadas... e nem precisam ser antigas para isso, tudo que congelamos, sejam histórias ou opiniões ficam presas no passado... e passado já é o minuto anterior ao presente.
O conhecido nos parece um terreno seguro e confortável e vamos tentando nos manter agarrados às ideias que defendemos que, na verdade, nos defendem do desconhecido... quanto mais tempo nos acostumamos à segurança que elas nos dão, mais ficamos presos em suas garras... e elas se transformam em uma prisão de grades cada vez mais rígidas, e passamos a defender nossas opiniões formadas com tanta intensidade ao menor sinal do novo se aproximando, como se o novo fosse usurpar um território que enquanto conhecido nos pertence...
Doce ilusão... mas todos nós estamos sujeitos a esse medo do novo que nos lança em terrenos nunca vistos e onde não temos controle nenhum sobre eles...
Uma coisa que serviu de verdade hoje pode não servir mais amanhã, mas como é difícil, às vezes nos acostumarmos à fluidez da vida.
Se seguimos com nossas opiniões formadas, deixamos pouco ou nenhum espaço para seguir nosso coração...
Não nos acostumamos ao fluxo porque ele nos remete à mudança constante e como somos ensinados a querer coisas duradouras naquela forma em que foi "boa" um dia, lutamos para alcançar o inalcançável, porque... o que permanece é só o fluxo constante de todas as coisas.
Resistir à mudança é resistir à vida... e o esforço que fazemos resistindo ao que precisa ser transformado nos rouba uma grande quantidade de energia...
A entrega ao fluxo da vida não é fácil porque requer um grande desapego e uma disponibilidade para receber o que nos chega sem o filtro das nossas opiniões formadas...
A água nos ensina a nos entregar ao fluxo sem resistência... e deveríamos aprender mais com a água a ser mais receptivos as mudanças e ao novo, porque eles são inevitáveis e sempre trazem riquezas que nosso apego e resistência nos impedem de receber.