O Abismo
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:08
Muitas circunstâncias da vida nos fazem sentir como se estivéssemos à beira de um abismo, sem qualquer possibilidade de retorno. A insegurança e o medo nos tornam tão frágeis e vulneráveis, que nos sentimos totalmente desamparados, sem qualquer base de apoio em que nos agarrar.
Nestes momentos, a consciência é a única saída, e isto significa viver a experiência do observador, que olha para o medo diretamente, sem desviar-se, ou agarrar-se a nenhum atalho consolador.
Esta é uma vivência ao mesmo tempo profundamente dolorosa e extremamente valiosa, pois nos permite encarar as provas que a existência coloca em nosso caminho, de uma maneira completamente nova.
Ao realizar isto, tocamos uma outra dimensão de nosso ser, aquela que nos conecta diretamente ao divino, à sabedoria que reside em nós, mas que enquanto não é reconhecida, nada pode fazer para nos libertar da prisão em que nos encerramos.
A mente sempre tentará nos levar de volta ao abismo e saber disso é o primeiro passo para que ela deixe de ser o senhor de nossa vida. A mudança só será verdadeiramente profunda quando conseguirmos enxergar na experiência do abismo uma valiosa bênção, um momento em que a existência nos traz a possibilidade de transcender a nós mesmos.
Este é um salto imensurável em nossa evolução e, quando acontece, deve ser celebrado com imensa alegria e gratidão. Coragem e confiança constituem o pólo oposto do medo e da insegurança. Concretizar esta transição nos possibilita conhecer, finalmente, o real significado da palavra bem-aventurança.
"Miséria significa apenas que as coisas não são encaixadas com os seus desejos - e as coisas nunca se encaixam com seus desejos, elas não podem. As coisas simplesmente continuam seguindo sua natureza.
Lao Tzu chama essa natureza de Tao. Buda chama essa natureza Dhamma. Mahavir definiu a religião como "a natureza das coisas". Nada pode ser feito. O fogo é quente e a água é fria.
O homem sábio é aquele que relaxa com a natureza das coisas, que segue a natureza das coisas. E quando você segue a natureza das coisas, nenhuma sombra é projetada. Não há miséria.
Mesmo a tristeza é luminosa, então, até mesmo a tristeza tem uma beleza. Não que a tristeza não venha - ela virá, mas não vai ser sua inimiga. Você vai fazer amizade com ela - porque você vai ver a sua necessidade. Você será capaz de ver sua graça, e você será capaz de ver porque ela está lá e por que ela é necessária.
...A noite é tão necessária quanto o dia. E os dias de tristeza são tão essenciais como os dias de felicidade. Isso eu chamo de entendimento. Uma vez que você entendeu, você relaxa - naquele relaxamento, você está rendido.
Você diz: "Faça o que acha que é certo. Se forem necessárias nuvens hoje, dê-me nuvens. Não me escute, meu entendimento é minúsculo. Que sei eu da vida e seus segredos?"
Não me escute! Você apenas vai fazer a sua vontade. "E, pouco a pouco, você verá mais o ritmo da vida, o ritmo da dualidade, o ritmo da polaridade, você pára de perguntar, você pára de escolher...
Esse é o segredo. Viva com este segredo e veja a beleza. Viva com este segredo e subitamente você será surpreendido: como é grande a bênção da vida! Quanto está sendo despejado sobre você a cada momento!"
Osho - O Mestre Perfeito.