O Chamado
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 02/12/2005 12:10:11
Há momentos na vida em que sentimos dentro de nós um chamado interior que nos impulsiona para algo diferente do que temos vivido até então. Este chamado começa com uma intuição, um sentimento de que a vida pode ser algo maior e mais gratificante.
Embora muitas vezes não tenhamos a menor idéia de por onde devamos começar, sentimos que há algo que pode ser feito para tornar nossa vida mais rica interiormente e gerar uma sensação de paz e bem-aventurança.
Este chamado, que se apresenta como um anseio de nosso coração, está relacionado com aquilo que nossa alma deseja. Se pensarmos que o objetivo de nossa alma é fazer-nos viver em sintonia com a harmonia do Universo, do qual somos parte indissociável, entenderemos melhor o porquê desse sentimento de inadequação que sentimos quando estamos distantes deste objetivo.
Tocamos momentaneamente este sentimento de sintonia com o Todo, quando nos apaixonamos e somos tomados pelo êxtase do amor, quando executamos um trabalho que nos realiza interiormente ou quando experimentamos uma vitória sobre nossos medos e vencemos um desafio qualquer que a vida nos apresente.
Manter este estado interior o maior tempo possível é algo com que todos nós sonhamos. Os taoistas definem a busca por este estado de consciência como o cultivo do Caminho. Para eles, obter a imortalidade é cultivar com êxito a sabedoria. Este cultivo é um processo de aperfeiçoamento que dura a vida inteira.
Segundo John Blofeld, em sua obra “Taoísmo, caminho para a imortalidade”, “mentes ocupadas com termos tais como céu, terra, essência, luar, calma, jade e pérola, provavelmente gozarão de maior serenidade do que as que lidam com computador, trator, pop, dólar, liquidação, napalm, terrorismo.
“Esse amor ao simples e ao despretensioso, provém diretamente da percepção intuitiva da natureza do Tao. Sem forma, vazio, o Tao é a fonte de todas as formas. O Tao jamais obstrui, solicita ou reverbera... Viver pelo Tao é agir como o Tao, que produz a chuva fecunda e a semente nutritiva sem cuidar de agradecimentos ou recompensas.
O segredo da sapiência, que é também imortalidade, é a aceitação. Recomenda Lao Tsé (autor do Tao Te Ching, uma das obras máximas do taoísmo), que os homens se comportem como recém-nascidos, que acolhem indistintamente as coisas como são. Forçar o avanço natural das coisas é invocar a dor e a ruína, acompanhar seu passo é ganhar a paz e a sabedoria...
Há ampla evidência nos escritos desse sábio de que suas idéias derivavam de uma fonte que remonta ao século V ou VI a.C: o Livro das Mutações (I Ching).
... “Erguer-se e cair, dar e receber - cada coisa tem seu lugar e sua utilidade. Nenhuma tempestade dura para sempre, nenhuma chuva deixa de cessar - então, por que se preocupar? O sábio conhece que toda aceitação é sempre o partido melhor; deve-se confiar na pontualidade da natureza em semear seus dons conforme a época e a estação; interferir em seu trabalho é provocar retaliação.
A doçura vence a dureza como a água bate os entraves a seu curso. Arrogância e aspereza violam a norma do céu, carreando miséria. A verdadeira sapiência, a verdadeira superioridade consiste em jamais ceder à emulação, deixando as coisas como são. Plantas resistentes quebram-se ou são arrancadas; as flexíveis resistem. Isso é aprender a viver com a natureza.
Artifício e ganância não significam coisa alguma para o sábio, é por não se ater a tais coisas que ele evita a perda de si mesmo. Para achar o caminho do céu ninguém precisa dar um só passo para além da soleira de sua casa. O Real não é para ser visto, mas para ser captado no silêncio e na mudez”.
Somente quando somos capazes de olhar para dentro de nós e perceber objetivamente do que precisamos para alcançar serenidade, é que encontramos a motivação para superar os obstáculos do caminho que nos levará a tocar a nossa imortalidade e conhecer o êxtase de viver em sintonia com nossa alma.
