O medo de amar
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 01/07/2010 15:49:35
Nada é mais poderoso em nossa vida, como fonte de prazer e felicidade, do que o amor. E não me refiro apenas ao amor entre homem e mulher. Quando nos sentimos amados por nossos pais, nossos irmãos e nossos amigos, somos preenchidos por um sentimento de nutrição interior, de inteireza, como se nada pudesse nos atingir.
Mas, é na esfera afetiva que mais se manifesta o sentimento de que temos um grande valor, por sermos merecedores daquele afeto especial que alguém nos dedicou, ainda que não nos conheça profundamente, a princípio.
De qualquer modo, quando o amor deixa de existir - pelo abandono, a rejeição, ou até mesmo a morte daquele que nos amou-, o vazio deixado por este acontecimento tem um efeito devastador na maioria dos seres humanos.
O medo da perda, de experimentar novamente aquela dor, pode bloquear de maneira definitiva nossa capacidade de nos entregar novamente. É como se tudo de bom que tivéssemos antes vivenciado, se apagasse de repente de nossa memória, ficando apenas a lembrança negativa do sofrimento.
Não é fácil juntar os pedaços depois de perder o amor de alguém. Libertar-se desta prisão em que nos encerramos consciente ou inconscientemente, só se torna possível se mantivermos intacto, apesar de tudo, nosso amor pela vida.
A felicidade só se torna possível para quem acredita firmemente que ela sempre pode ser resgatada, não importam quais sejam as circunstâncias que se apresentem. Este é o único caminho possível para reencontrar o amor.
“A entrega no amor
Eu não sou a favor da obediência como tal -ela é um valor militar- mas sou com certeza a favor da entrega. A entrega é um caso de amor. A obediência é um fenômeno social – o amor é individual. Você ama uma mulher, ama um homem... entregue-se.
E quando você estiver se entregando, lembre-se: a entrega não é à mulher, a entrega não é ao homem: a entrega é ao incorpóreo Deus do amor – os dois estão se entregando ao amor. Assim, não se trata de uma questão de dominação: no amor verdadeiro não há nenhuma dominação, absolutamente.
O homem rendeu-se ao amor, a mulher rendeu-se ao amor – agora o amor penetra seus seres.
O Mestre já está entregue a Deus, o discípulo também se entregou a Deus – agora o amor, ou Deus, permeia seus seres.
Isso não é a obediência comum, ordinária; não tem nada a ver com a obediência que nos contaram, nos ensinaram, nos condicionaram. Trata-se de um fenômeno totalmente diferente, muito misterioso.
Quando duas pessoas se entregam ao amor, e o amor toma posse delas, ninguém é dominador e ninguém é dominado, ninguém está mais elevado do que o outro. Na verdade, nenhum dos dois existe. E então, algo sumamente importante começa a acontecer: Deus começa a acontecer. Então, ambos falam a mesma linguagem, porque eles estão sintonizados – os dois na mesma extensão de onda.
... Deixe o amor tornar-se a sua vida toda. Se você é um filho, deixe o amor se dirigir ao pai; deixe o pai ser o veículo de amor. Se você for um pai, por sua vez, deixe o filho tornar-se o veículo de amor.
Estes são exatamente pretextos para nos entregarmos: filho, pai, marido, esposa, amigo, Mestre – são apenas pretextos. Como não podemos nos entregar a um Deus sem face – ainda não somos capazes disso – então, temos de achar um pretexto, alguma saída.
O Mestre é visível – o discípulo pode render-se ao Mestre. Mas a entrega é na verdade em direção a Deus. Quando o discípulo vê Deus no Mestre, somente então, a entrega acontece.
O homem pode entregar-se à sua amada, mas a entrega é possível somente quando ele viu na amada algo do desconhecido, do misterioso – Deus vem na forma da amada, ou do amado. A entrega é um valor espiritual; a obediência é um valor político.
E tenha cuidado com todas as espécies de políticos”.
Osho, Philosophya Perennis.