O Passado
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 23/04/2009 18:34:34
Viver no passado é uma tendência natural da mente. Para isto, ela nos faz ruminar todos os eventos que vivenciamos, sejam eles bons ou maus.
Se foram bons, ficamos presos àquela lembrança lamentando o que perdemos.
Se maus, nos mantemos estagnados por medo de que aqueles eventos se repitam novamente.
Uma das áreas em que esta reação negativa mais se intensifica é na das relações afetivas. Quando algum relacionamento nos magoa ou abala profundamente nossa autoestima, tendemos a, consciente ou inconscientemente, nos fecharmos para novas relações pelo receio de que aquela experiência se repita.
Trava-se, então, uma luta interna entre o desejo de relacionar-se, a necessidade de ser amado, e uma profunda desconfiança em relação ao amor, que é, na verdade, uma defesa contra a dor e o sofrimento.
O passado não possui qualquer poder para nos impedir de vivenciar a plenitude de nosso ser agora, apenas o rancor em relação ao passado pode fazer isso. O rancor é uma emoção negativa que pode contaminar todas as áreas de nossa vida, se o alimentarmos através da lembrança permanente daquilo que o gerou.
Esta percepção é fundamental e, enquanto não a alcançarmos, continuaremos dando poder ao que já não existe a não ser em nossa mente. Ela é, também, extremamente libertadora, pois nos permite descobrir que somos os únicos agentes capazes de criar uma nova realidade em nossa vida.
Mas, para quebrar esse padrão, não basta ter consciência do fato, é preciso um esforço para manifestar outra energia, que é a coragem. Somente enfrentando aquilo que mais tememos é que teremos chances de vencer nossa resistência e descobrir que é possível, sim, construir uma nova história, onde a felicidade e a alegria estejam presentes.
Seja qual for a área da vida em que estejamos nos mantendo presos ao passado, precisamos nos permitir correr o risco de uma nova experiência, pois só assim fortaleceremos nossa autoconfiança e construiremos uma autoestima inabalável.
“...Se você estiver mais sensível, você estará desapegado; ou, se você estiver desapegado, você se tornará mais e mais sensível. Sensibilidade não é apego, sensibilidade é percepção. Somente uma pessoa perceptiva pode ser sensível. Se você não for perceptivo, você será insensível. Quando você é inconsciente, você é totalmente insensível - quanto mais consciência, mais sensibilidade. Um Buda é totalmente sensível, ele tem máxima sensibilidade, porque ele sentirá e estará ciente de sua total capacidade.
Quando você é sensível e consciente, você não pode ser apegado. Você será desapegado, porque o próprio fenômeno da consciência quebra a ponte, destrói a ponte, entre você e as coisas, entre você e as pessoas, entre você e o mundo. A inconsciência, a falta de perceptividade, é a causa do apego.
...Se você está alerta, a ponte de repente desaparece. Quando você fica alerta não há nada que ligue você ao mundo. O mundo existe, você existe, mas entre os dois a ponte desapareceu. A ponte é feita de sua inconsciência. Assim sendo, não pense que você ficou apegado porque você está mais sensível. Não. Se você estiver mais sensível, você não ficará apegado. O apego é uma qualidade muito grosseira, não é sutil. Para o apego, você não precisa estar consciente e alerta. Não há nenhuma necessidade....
Para o apego, a consciência não é necessária; ao contrário, a consciência é a barreira. Quanto mais consciente você se torna, menos você será apegado, porque a necessidade de apego desaparece. Por que você quer estar apegado a alguém? Porque sozinho você sente que você não se basta.
Você sente falta de alguma coisa. Algo fica incompleto em você. Você não é inteiro. Você precisa de alguém para completá-lo. Daí, o apego. Se você está consciente, você está completo, você é inteiro - o círculo está completo agora, não está faltando nada em você - você não precisa de ninguém. Você, sozinho, sente uma total independência, uma sensação de inteireza.
...Isso não quer dizer que você não amará as pessoas; ao contrário, somente você pode amar. Uma pessoa que seja dependente de você não pode amá-lo: ela o odiará. Uma pessoa que precisa de você não pode amá-lo. Ela o odiará, porque você se torna o cativeiro. Ela sente que sem você ela não pode viver, sem você ela não pode ser feliz, então, você é a causa das duas coisas, da felicidade e da infelicidade dela. Ela não pode se dar ao luxo de perdê-lo e isso lhe dará uma sensação de aprisionamento: ela é sua prisioneira e se ressentirá disso; ela lutará contra isso.
As pessoas odeiam e amam ao mesmo tempo, mas este amor não pode ser muito profundo. Somente uma pessoa que seja consciente, pode amar, porque esta pessoa não precisa de você. Mas, então, o amor tem uma dimensão totalmente diferente: ele não é apego, ele não é dependência.
A pessoa não é sua dependente e não o fará dependente dela: a pessoa permanecerá uma liberdade e lhe permitirá permanecer uma liberdade. Vocês serão dois agentes livres, dois seres totais, inteiros, se encontrando. Esse encontro será uma festividade, uma celebração - não uma dependência. Esse encontro será uma alegria, uma brincadeira”. Osho, The Book of the Secrets.